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    A agricultura biológica e a permacultura como soluções alternativas à agricultura intensiva

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    A agricultura biológica e a permacultura como soluções alternativas à agricultura intensiva

    Os princípios da agricultura intensiva baseiam-se em produzir o maior rendimento possível, obter lucro e atender às necessidades alimentares da população. A maximização é a palavra de ordem fulcral nas práticas agrícolas intensivas. Mas será que existem alternativas que garantam as mesmas necessidades e com maior consideração pelo ambiente e saúde humana? É o tema que iremos abordar esta semana.

    O surgimento da agricultura biológica como resposta à crise agrícola da 1ª Guerra Mundial

    Após a 1ª Guerra Mundial, marcada por uma grave crise agrícola na Alemanha, vários cientistas alertaram para os efeitos dos fertilizantes químicos sintéticos, aos quais atribuíram a redução da vida microbiana, a acidificação do solo e a diminuição da qualidade dos alimentos. Foi desta forma que surgiu uma abordagem biológica do solo, que tinha em conta a sua inter-relação com as raízes das plantas e se baseava na fertilização orgânica que nutria os organismos do solo. Estes conceitos tornaram-se populares pelo movimento de reforma de vida (Lebensreform) que defendia a “agricultura natural”. Este movimento teorizado por Ewald Könemann em 1930 baseava-se na prática de fertilizantes verdes e na cobertura morta, fertilização com pó de rocha, lavoura limitada, compostagem e reciclagem de lixo municipal. Por outro lado, o diretor do Instituto de Indústria Vegetal de Indore (Índia) e agrónomo britânico, Albert Howard desenvolveu com a sua esposa Gabrielle, um método de compostagem que proporcionava maiores rendimentos e maior resistência das plantas a doenças. Howard acreditava que esta resistência das plantas estava associada à simbiose entre fungos e as raízes das próprias plantas. À medida que a conexão entre a vida do solo e saúde humana ganhava importância crescente no renascimento agrário de 1930, a difusão deste método acompanhou o nascimento de movimentos de agricultura biológica, também conhecida por agricultura orgânica.

    Os princípios da agricultura biológica

    Na Europa, a história da agricultura biológica apresenta as suas raízes na conceção biológica da fertilidade do solo. Desta forma, a agricultura biológica consiste na necessidade de uma relação equilibrada entre os aspetos físicos, químicos e biológicos do solo para que os seus organismos reciclem os nutrientes e este possa sustentar a vida. Esta técnica agrícola combina o melhor da agricultura convencional com ênfase na obtenção de solos naturalmente produtivos e com altos níveis de produção biológica. O principal objetivo é maximizar a atividade microbiana através do fornecimento de uma boa base nutritiva e estrutural ao solo em conjunto com o fornecimento adequado de energia, ar e água. Utiliza tecnologia moderna, mas sem que haja interferência no equilíbrio dos ecossistemas.

    Com a procura de alcançar o equilíbrio entre os nutrientes e as características físicas, químicas e biológicas do solo, é possível ter uma visão mais completa da sua fertilidade, um maior controlo do ambiente de cultivo e estabilizar os solos mais frágeis. Assim, o solo fica capaz de suportar vegetação, apresenta maior capacidade de retenção de água e o crescimento das raízes é mais vigoroso.

    Figura 1 – Esquema sobre a estrutura do solo segundo as componentes física, química e biológica [Adaptado de YLAD Living Soils]

    Existe um conjunto de benefícios associados à agricultura biológica, nomeadamente para o próprio solo, tais como o seu desenvolvimento como suporte biológico equilibrado com melhorias na estrutura e fertilidade de forma menos tóxica, a redução drástica ou eliminação da dependência química com aumento do seu rendimento e qualidade, o restauro do equilíbrio mineral e microbiano com aumento dos níveis de carbono. Consequentemente, o solo aumenta a sua capacidade de retenção de água, reduz os níveis de doenças, insetos, pragas e de erosão, produzindo alimentos mais ricos em termos nutritivos.

    Para além do solo se tornar mais saudável, a necessidade de se recorrer a produtos químicos como fertilizantes, pesticidas, inseticidas e fungicidas é muito reduzida, e, por conseguinte, a lixiviação de azoto e fósforo (que compõem os produtos químicos) nas águas subterrâneas é menor. A longo prazo, as áreas agrícolas também se tornam locais de trabalho mais sustentáveis e seguros a nível de saúde pública para os colaboradores.

    A regulamentação da União Europeia para a agricultura biológica

    De acordo com a regulamentação da União Europeia, a agricultura biológica ou orgânica tem a finalidade de limitar o seu impacte ambiental, incentivando:

    • o uso responsável de energia e recursos naturais;
    • a manutenção da biodiversidade;
    • a preservação dos equilíbrios ecológicos regionais;
    • o aumento da fertilidade do solo;
    • a manutenção da qualidade da água.

    Além disso, o estabelecimento destas regras da agricultura orgânica também incentiva um alto padrão de bem-estar animal e exigem que os agricultores atendam às necessidades comportamentais específicas dos animais.

    A regulamentação da União Europeia (UE) é projetada para fornecer uma estrutura clara para a produção de produtos biológicos em toda a UE. O objetivo é satisfazer a procura do consumidor por produtos confiáveis, proporcionando um mercado justo para produtores, distribuidores e comerciantes. O “logotipo biológico” só pode ser usado em produtos que foram certificados como orgânicos por uma agência ou órgão de controlo autorizado, o que significa que se cumpriram condições rigorosas de como os produtos são produzidos, transportados e armazenados.

    Figura 2 – Logotipo Biológico [Fonte: Agriculture EC Europa]

    Os princípios da permacultura

    Originalmente conhecida por “agricultura permanente”, a permacultura foi concebida e desenvolvida na década de 1970 pelos colegas de trabalho Bill Mollinson e David Holmgren, na Austrália. O projeto era o de implementar sistemas agrícolas permanentes (sustentáveis) de forma que estes fossem ciclos energéticos fechados e modelados em ecossistemas naturais, havendo o mínimo de utilização de fertilizantes químicos.

    A permacultura é um método que integra a terra, os recursos, as pessoas e o ambiente através da combinação de sinergias mutuamente benéficas, funcionando como um ciclo fechado e sem gerar desperdícios, baseando-se nos princípios de economia circular, isto é, o que são resíduos numa parte do sistema podem construir matérias-primas noutra. Esta prática estuda e aplica soluções holísticas em contextos rurais e urbanos considerando qualquer escala.

    Figura 3 – Princípios da Permacultura definidos por David Holmgren [Fonte: World Permaculture Association]

    Os 12 princípios da Permacultura, definidos por David Holmgren segundo o seu livro Principles & Pathways Beyond Sustainability (2002) são os seguintes:

    1. Observar e interagir: ao reservarmos tempo para nos envolvermos com a natureza, podemos projetar soluções que se adequam à nossa situação particular;
    2. Capturar e armazenar energia: ao desenvolvermos sistemas que coletam recursos quando estes são abundantes, podemos usá-los em momentos de necessidade;
    3. Obter rendimento: assegurar que estamos a receber recompensas realmente úteis como parte do trabalho que estamos a fazer;
    4. Aplicar a autorregulação e aceitar feedback: precisamos de nos desencorajar de atividades inadequadas para garantir que os sistemas possam continuar a funcionar bem;
    5. Usar, valorizar recursos renováveis e serviços: fazer o melhor uso da abundância da natureza para reduzir o nosso comportamento consumista e a dependência dos recursos não renováveis;
    6. Produzir sem desperdício: ao valorizar e fazer uso de todos os recursos que estão à nossa disposição, nada é desperdiçado;
    7. Planear de padrões a detalhes: dando um passo atrás, podemos observar padrões na natureza e na sociedade, estes podem formar a espinha dorsal dos nossos projetos com os detalhes preenchidos à medida que avançamos;
    8. Integrar em vez de segregar: ao colocar as coisas certas no lugar certo, as relações desenvolvem-se entre eles havendo apoio mútuo;
    9. Usar soluções pequenas e lentas: os sistemas pequenos e lentos são mais fáceis de manter do que os grandes, permitindo fazer melhor uso dos recursos locais e produzindo resultados mais sustentáveis;
    10. Utilizar e valorizar a diversidade: a diversidade reduz a vulnerabilidade a uma variedade de ameaças e aproveita a natureza única do ambiente em que reside;
    11. Usar as vantagens e valorizar os aspetos secundários: a interface entre as coisas é onde os acontecimentos mais interessantes acontecem, estes são frequentemente os elementos mais valiosos, diversos e produtivos do sistema;
    12. Utilizar a criatividade e responder às mudanças: podemos ter um impacte positivo em mudanças inevitáveis se observarmos cuidadosamente e intervirmos no momento certo.

    A agricultura biológica e a permacultura são dois exemplos merecedores de destaque no que respeita a alternativas uma vez que colocam o bem-estar animal, o ambiente e a saúde humana na equação, além da produtividade e do lucro. O próximo passo é cada um de nós arregaçar as mangas e tomar a iniciativa para criar a sua própria horta, como iremos ver no tema da semana seguinte.

    Fontes:

    Agriculture and rural development. Organic Farming. URL: https://agriculture.ec.europa.eu/farming/organic-farming_en [consultado em setembro de 2022];

    Agriculture and rural development. Organic Farming. Organics at a glance. URL: https://agriculture.ec.europa.eu/farming/organic-farming/organics-glance_en [consultado em setembro de 2022];

    DIGITAL ENCYCLOPEDIA OF EUROPEAN HISTORY. The History of Organic Farming During the Twentieth Century. URL: https://ehne.fr/en/encyclopedia/themes/ecology-and-environment-in-europe/health-and-environment/history-organic-farming-during-twentieth-century [consultado em setembro de 2022];

    Lampeter Permaculture Group. The History of Permaculture. URL: http://www.lampeterpermaculture.org/what-is-permaculture/the-history-of-permaculture/ [consultado em setembro de 2022];

    Permaculture Research Institute. What is Permaculture? URL: https://www.permaculturenews.org/what-is-permaculture/ [consultado em setembro de 2022];

    PRO-SOIL AG SOLUTIONS. Biological Farming, the Basics and How to Improve Yields. URL: https://pro-soil.com/biological-farming-the-basics-and-how-to-improve-yields/ [consultado em setembro de 2022];

    World Permaculture Association. PERMACULTURE PRINCIPLES BY DAVID HOLMGREN. URL: https://worldpermacultureassociation.com/holmgren-principles/ [consultado em setembro de 2022];

    YLAD Living Soils. What is Biological Agriculture? URL: https://www.yladlivingsoils.com.au/what-is-biological-agriculture [consultado em setembro de 2022].