A nova economia do plástico
Como já vimos, os plásticos são uma parte fundamental da nossa vida, tornando-a muitas vezes mais prática, no entanto, a forma como o temos utilizado e descartado é um dos exemplos mais emblemáticos de uma economia linear (Retirar > Produzir > Usar > Descartar), que tem contribuído em larga escala para a degradação e poluição dos ecossistemas naturais terrestes e aquáticos.
Repensar a forma como usamos o plástico
Para continuarmos a disfrutar das inúmeras vantagens dos plásticos, devemos repensar a sua utilização, começando a fazê-lo de forma mais racional, responsável e sustentável. É necessário fazer a transição de uma economia linear para uma economia circular em que, idealmente, os plásticos permanecem na economia através de ciclos consecutivos de maximização do seu valor, prolongamento da vida útil e intensificação da reutilização.
De acordo com a Ellen MacArthur Foundation, a economia circular baseia-se num ciclo contínuo de desenvolvimento positivo de preservação do capital natural, otimização da produtividade de recursos e diminuição dos riscos sistémicos gerindo stocks finitos e fluxos renováveis. Como observável na Figura 1, os fluxos e ciclos de materiais devem ser naturais e de dois tipos:
- Biológico – reentra na biosfera sem dano para o ambiente (por exemplo, biodegradável); e
- Técnico – desenhado para circular de volta ao fabricante (original ou a outros) como novo recurso, fazendo com que todo o modelo funcione como um sistema vivo, onde o resíduo é um nutriente.
Este é um modelo que se afasta do conceito linear de “extração, produção e eliminação” e que está centrado no “fecho do ciclo” em toda a cadeia de valor. Assim, é possível manter a este material no nosso quotidiano, sem prejudicar o ambiente, reduzindo o consumo de matérias-primas e valorizando ao máximo os plásticos de que já dispomos.
Na Figura 2 observa-se os principais desafios para alcançar a transição de uma economia linear para uma economia circular do plástico.
O problema dos produtos plásticos de utilização única
De acordo com o relatório “Plastics, the circular economy and Europe’s environment – A priority for action”, o plastic packaing é o maior setor da indústria do plástico, representando cerca de 40% do total de consumo de plástico mundial. Entre outras utilidades, o plastic packaing fornece novas soluções no setor dos transporte e logística, no setor da saúde e no setor da alimentação.
Os produtos plásticos de utilização única (PUU) são utilizados uma vez, ou durante um curto período de tempo, antes de serem descartados e os impactes dos mesmos no ambiente têm uma dimensão global. Por exemplo, de acordo com a União Europeia (UE), os 10 artigos de plástico de utilização única encontrados com mais frequência nas praias europeias, juntamente com utensílios de pesca, representam 70% de todo o lixo marinho na UE.
Em 2018 através da Diretiva da UE sobre plásticos de utilização única – Diretiva (UE) 2019/904 – a Comissão Europeia decidiu focar-se no problema dos plásticos descartáveis, apresentando medidas para reduzir a sua utilização, atingir 77% de recolha separada para garrafas de plástico até 2025 (a aumentar para 90% até 2029) e incorporar 25% de plástico reciclado em garrafas PET de bebidas a partir de 2025 e 30% em todas as garrafas de plástico de bebidas a partir de 2030.
De entre os 10 artigos abordados pela Diretiva estão cotonetes, talheres, pratos, palhinhas, balões e varas para balões, embalagens e invólucros, sacos de plástico, entre outros.
Quando existem alternativas sustentáveis facilmente disponíveis e acessíveis, os Estados-Membros da UE não podem colocar nos seus mercados os PUU. Para outros produtos de plástico de utilização única, a UE está a empenhada em limitar a sua utilização e reduzir o consumo através das seguintes medidas:
- Sensibilização;
- Introdução de requisitos de design, tais como requisitos de ligação de tampas a garrafas;
- Introdução de requisitos de rotulagem, para informar os consumidores sobre o conteúdo plástico dos produtos, as opções de eliminação a evitar e os danos causados à natureza se os produtos forem colocados no meio ambiente;
- Introdução de obrigações de gestão e limpeza de resíduos para os produtores, incluindo esquemas de Responsabilidade Alargada do Produtor (RAP).
Desmaterialização do plástico
A desmaterialização do plástico pode parecer uma missão (quase) impossível, sobretudo quando vamos ao supermercado. Existem pequenos passos que podem ser adotados todos os dias para contribuir para uma redução na quantidade de resíduos gerados:
- Optar por sacos de compras reutilizáveis;
- Optar por produtos sem embalagem ou com embalagens mais sustentáveis. Procurar alternativas às embalagens que misturam vários materiais e que possam ser mais difíceis de reciclar.
- Comprar produtos a granel. Esta é uma prática em crescimento, e há várias cadeias de distribuição no nosso país que já contam com zonas dedicadas à venda a granel, assim como pequenos comerciantes.
- No que diz respeito aos sabonetes líquidos, géis de banho e champôs, opte pelas alternativas sólidas;
- Evitar a utilização de produtos descartáveis, optando por produtos que se possam reutilizar.
- Evitar comprar água engarrafada. Utilizar uma garrafa reutilizável e beber água da torneira.
Fontes:
Coelho, A. (2018). Sustentabilidade a circular como economia circular? Como um modelo económico pode primar pela sustentabilidade. The overarching issues of the european space – preparing the new decade for key socio-economic, Porto, Fac. Letras Univ. Porto. pp. 307 – 321
Diretiva (UE) 2019/904 do Parlamento Europeu e do Conselho, de 5 de junho de 2019, relativa à redução do impacto de determinados produtos de plástico no ambiente
EEA (2019) Preventing plastic waste in Europe. EEA Report No 2/2019, European Environment Agency. (https://www.eea.europa.eu/ publications/preventing-plastic-waste-in-europe), acedido em julho de 2021
EEA (2021). Plastics, the circular economy and Europe’s environment – A priority for action. Luxembourg: Publications Office of the European Union, 2021. doi: 10.2800/5847
Ellen MacArthur Foundation (2016). The New Plastics Economy: Rethinking the future of plastics.(https://eco.nomia.pt/contents/documentacao/ellenmacarthurfoundation-thenewplasticseconomy-15-3-16.pdf), acedido em julho de 2021
Ellen MacArthur Foundation (2020) The Global Commitment 2020 Progress Report. (https://www.ellenmacarthurfoundation.org/), acedido em julho de 2021