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    A Seca em Portugal

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    A Seca em Portugal

    O período de seca que Portugal atravessa, que se iniciou em novembro do ano passado, tem vindo a prolongar-se e a intensificar-se, motivando o Governo a tomar medidas como interromper a produção elétrica em algumas barragens. A situação é mais severa no Sul, mas atinge todo o território nacional e traz consequências para setores como a agricultura.

    O Instituto Português do Mar e Atmosfera (IPMA) prevê que a chuva regresse durante este mês de fevereiro, mas, mesmo assim, a seca deverá continuar a agravar-se este mês.

    Análise da evolução

    A aplicação do índice PDSI permite detetar a ocorrência de períodos de seca meteorológica e classifica-os em termos de intensidade.

    O ano hidrológico 2019-2020 iniciou com quase todo o território nacional em situação de seca meteorológica. Nos meses seguintes, devido aos valores de precipitação acima da média em novembro e dezembro, verificou-se uma diminuição gradual da área e da intensidade da seca meteorológica. No final do período chuvoso, em março de 2020, apenas as regiões a sul do Tejo mantiveram-se em seca meteorológica, com um agravamento da intensidade entre os meses de janeiro e março.

    No início do período seco, devido aos valores elevados de precipitação, verificou-se um novo desagravamento da situação de seca. No entanto, entre junho e setembro voltou a aumentar área do território em seca meteorológica, sendo de salientar as regiões do Baixo Alentejo e Algarve que se mantiveram sempre em seca durante todo o ano hidrológico. 

    Figura 1 – Distribuição espacial do índice meteorológico de seca PDSI no ano hidrológico 2019/2020 (IPMA, 2021)

    No entanto, no início do novo ano hidrológico, 2020-2021, verificou-se um novo desagravamento da situação de seca. Na primeira metade deste ano (semestre húmido) não se verificou situação de seca meteorológica na maior parte do território, apenas alguns locais da região Sul estiveram na classe de seca fraca. Na segunda metade do ano hidrológico (semestre seco) verificou-se um aumento gradual da área e da intensidade da situação de seca, sendo de salientar os meses de maio a agosto com as regiões do Baixo Alentejo e Algarve nas classes de seca moderada a severa. No final do ano hidrológico, em setembro, verificou-se uma diminuição da área e da intensidade da seca meteorológica em Portugal continental.

    Figura 2 – Distribuição espacial do índice meteorológico de seca PDSI no ano hidrológico 2020/2021 (IPMA, 2021)

    De acordo com o índice PDSI no final de janeiro 2022 a situação de seca meteorológica que se iniciou em todo o território em novembro de 2021 agravou-se significativamente. Verificou-se, em relação a dezembro, um aumento significativo da área e da intensidade da situação de seca, estando todo o território em seca (IPMA, 2022).

    A distribuição percentual por classes do índice PDSI no território é a seguinte:

    • normal: 0%
    • seca fraca: 0,6%
    • seca moderada: 53,7%
    • seca severa: 34,2%
    • seca extrema: 11,5%
    Figura 3 – Índice PDSI – janeiro 2022 (IPMA, 2022b)

    Esta situação verifica-se devido à falta de chuva, sendo que este janeiro foi o sexto mais seco desde 1931, o quinto mais quente desde 2000, e o valor da temperatura máxima do ar foi o mais alto dos últimos 9 anos (mais 2,20°C que a temperatura média nesta altura do ano). O grau de severidade da seca meteorológica no final de janeiro de 2022 é superior ao que se verificou nos anos de 2012, 2018 e 2019, mas ainda é ligeiramente inferior quando comparado com a situação em 31 de janeiro de 2005 (seca mais intensa desde 2000). Em 2005 todo o território estava em seca meteorológica, mas com maior percentagem nas classes de seca severa e extrema (22% em seca extrema, 53% em seca severa e 25% em seca moderada).

    Figura 4 – Percentagem do território de Portugal Continental por classe do índice PDSI em situações de seca anteriores a 31 de janeiro (IPMA, 2022a)

    Mas o problema é de agora ou temos um problema de seca estrutural?

    O clima mediterrânico pressupõe períodos secos, mas é um facto que nos últimos anos se registaram secas mais frequentes, mais prolongadas e mais abrangentes.

    O World Resources Institute, numa projeção para 2040, classifica Portugal com risco elevado de stress hídrico, ou seja, risco elevado de ter de gerir falta de água com qualidade, na resposta às necessidades do país. Um cenário que não é homogéneo no território português, estando o Sul mais vulnerável à escassez.

    Os dados do IPMA são bastante claros no que toca às evoluções climáticas. Assumindo uma média anual de referência, o termo ‘anomalia’ identifica um desvio face a essa média. E considerando os dados desde os anos 30 é possível identificar uma tendência para anomalias de temperatura positivas em relação à média de referência (Valor normal de temperatura média anual, entre 1971-2000: 15,3⁰ C). Dos 10 anos mais quentes nas últimas nove décadas, oito ocorreram depois de 1990. Este aumento da temperatura média, mais especificamente o aumento de dias muitos quentes, não só tem impactos significativos na evaporação de água de superfície (nomeadamente nas barragens) como provoca mais perda de água nas plantas (evapotranspiração), o que exige uma hidratação extra.

    Em sentido contrário, mas menos evidente, têm-se vindo a registar com maior frequência anomalias negativas (Valor normal de precipitação anual, entre 1971-2000: 882,1 mm) na precipitação em Portugal. Os últimos 20 anos foram particularmente pouco chuvosos, em especial no mês de Março. Espelho dessa alteração, registaram-se nos últimos anos secas mais frequentes, mais prolongadas e mais abrangentes.

    Figura 5 – Anomalia de temperatura (C°) (Fundação Calouste Gulbenkian, 2020)
    Figura 6 – Anomalia de precipitação (Fundação Calouste Gulbenkian, 2020)
    Figura 7 – Percentagem do território de Portugal Continental nas classes de seca severa e extrema (Fundação Calouste Gulbenkian, 2020)

    Agricultura será o setor mais afetado

    A situação de seca tem afetado alguns setores, sendo que os pequenos agricultores deverão estar entre aqueles que mais vão sofrer as consequências deste fenómeno. As associações do setor da agricultura já têm alertado para a necessidades de apoios do Governo para fazer face a esta situação.

    A consequência mais imediata de uma situação de seca meteorológica é, geralmente, a seca agrícola, e, consequentemente, a seca agrometeorológica, o que irá ter impactes diretos na disponibilidade de água no solo e na produtividade das culturas. Noutro momento, pode-se esperar também a consequente seca hidrológica que se faz sentir no estado de armazenamento das albufeiras e das linhas de água.

    Estas situações levam à ocorrência de impactes sociais e económicos importantes, começando pelo setor que mais depende diretamente da água, ou seja, o setor primário, a agricultura. Os grandes agricultores terão uma maior disponibilidade para pagar os custos que vão ficar, mas elevados, mas os pequenos não têm possibilidade, pelo que, provavelmente, vai haver discrepância e a situação apenas será possível de ultrapassar com apoios à agricultura para os que não podem suportar os custos.

    Este tema exige um pensamento a longo prazo. Não se trata de reverter a tendência dos cenários climáticos que se perspetivam, mas de discutir, do lado da procura, como mitigar desperdícios e questionar os diferentes usos que são dados a este recurso, limitado por natureza.

    Fontes:

    APA (2021). Relatório do Estado do Ambiente: Ficha Temática “Seca”. URL: https://rea.apambiente.pt/content/seca [consultado a fevereiro de 2022]

    Eco (2022). Retrato da seca em Portugal. URL: https://eco.sapo.pt/2022/02/02/situacao-ainda-nao-e-dramatica-mas-para-la-caminhamos-este-e-o-retrato-da-seca-em-portugal/ [consultado em fevereiro de 2022]

    Fundação Calouste Gulbenkian (2020). O Uso da Água em Portugal: Olhar, compreender e atuar com os protagonistas chave. Autores: C.-The Consumer Intelligence Lab, projeto de conhecimento Returm On Ideas, Filipa Dias e Catarina Correia. Lisboa, 2020

    GPP (2021). Relatório Monitorização Agrometeorológica e Hidrológica – Ano Hidrológico 2021/2022. Relatório do Grupo de Trabalho de assessoria técnica à Comissão Permanente de Prevenção, Monitorização e Acompanhamento dos Efeitos da Seca, 31 de dezembro de 2021

    GPP (2022). Monitorização da seca. URL: https://www.gpp.pt/index.php/monitorizacao-da-seca/impacto-da-seca [consultado em fevereiro de 2022]

    IPMA (2021). Boletim Climático – Resumo Ano 2021. URL: https://www.ipma.pt/pt/publicacoes/boletins.jsp?cmbDep=cli&cmbTema=pcl&cmbAno=2021&idDep=cli&idTema=pcl&curAno=2021 [consultado em fevereiro de 2022]

    IPMA (2022a). Boletim Climático Portugal Continental – janeiro de 2022. URL: https://www.ipma.pt/pt/publicacoes/boletins.jsp?cmbDep=cli&cmbTema=pcl&idDep=cli&idTema=pcl&curAno=-1 [consultado em fevereiro de 2022]

    IPMA (2022b). Índice PDSI – Situação Atual – Janeiro 2022. URL: https://www.ipma.pt/pt/oclima/observatorio.secas/ [consultado em fevereiro de 2022]