A urgência da ação global em prol do clima – iniciativas para um futuro sustentável
A crise climática não é novidade nos dias de hoje e as ameaças catastróficas que representa para a humanidade colocam-na no topo das agendas mundiais. Cada vez mais, somos alertados para a necessidade de tomarmos atitudes e medidas imediatas para combater esta crise, uma vez que existe um prazo para vencer esta luta. Graças a vários mecanismos de retroalimentação positiva nos ecossistemas da Terra, a partir de um determinado momento no tempo, espera-se que o aquecimento global continue a crescer por si próprio, a um ritmo exponencial e independente do nosso impacte negativo direto, tornando-se irreversível. Como as últimas décadas foram passadas a negociar e discutir, sem adotar medidas concretas para resolver o problema, este prazo é hoje muito urgente. Estamos, sem dúvida, em estado de emergência climática.
Contudo, é importante ter em mente que a luta contra as alterações climáticas não é, apenas, uma questão de reduzir as emissões de gases com efeito estufa, mas, também, de garantir a justiça climática e apoiar a mitigação e a adaptação climática em todo o mundo, especialmente nos países com menores rendimentos e menos desenvolvidos. Desta forma, a criação de fundos globais climáticos e o ativismo climático são bastante importantes, tanto para apoiar a mitigação e a adaptação climática em todo o mundo, bem como para sensibilizar o público e pressionar governos e empresa dotarem medidas mais significativas e imediatas.
Fundo climático verde (GCF)
“As alterações climáticas estão a ser mais rápidas do que nós. Precisamos de muito mais ambição e urgência. O financiamento é fundamental. As nações desenvolvidas têm de cumprir o seu compromisso de mobilizar 100 mil milhões de dólares por ano para a atenuação e adaptação nos países em desenvolvimento. O Fundo Verde para o Clima tem um papel importante a desempenhar.” Afirmou António Guterres, Secretário-geral das Nações Unidas, num discurso em 2018 na sede da ONU.
O Fundo Verde para o Clima (GCF) é um elemento fundamental do histórico Acordo de Paris, e é o maior fundo climático do mundo. Foi criado com a intenção de apoiar os países em desenvolvimento a aumentar o grau de concretização das suas ambições para caminhos de baixas emissões e resilientes ao clima.
Este fundo tem em vista alcançar as suas metas por meio de investimento em quatro transições principais: ambiente construído, energia e indústria, segurança humana, meios de subsistência e bem-estar, e utilização dos solos, florestas e ecossistemas. Para tal, utiliza uma abordagem em quatro vertentes: planeamento e programação transformacionais, catalisação da inovação climática, redução do risco do investimento para mobilizar o financiamento em grande escala e integração dos riscos e oportunidades climáticos na tomada de decisões de investimento.
Movimentos climáticos globais
Fridays for Future (FFF)
Talvez um dos movimentos climáticos globais mais falado e reconhecido no mundo. É um movimento liderado e organizado por jovens que teve início em agosto de 2018, quando Greta Thunberg, de 15 anos, iniciou uma greve escolar pelo clima. Nas três semanas que antecederam as eleições suecas, Greta sentou-se à porta do Parlamento sueco todos os dias de escola, exigindo uma ação urgente sobre a crise climática. Estava “farta da falta de vontade da sociedade em ver a crise climática como ela é: uma crise”.
No início estava sozinha, mas depressa outros se juntaram. No dia 8 de setembro, Greta e os seus colegas grevistas decidiram continuar a greve até que as políticas suecas proporcionassem um caminho seguro bem abaixo dos 2 °C, ou seja, em conformidade com o acordo de Paris. Criaram o hashtag #FridaysForFuture e encorajaram outros jovens de todo o mundo a juntarem-se a eles. Esta ação marcou o início da greve escolar global pelo clima.
O seu apelo à ação desencadeou um despertar internacional, com estudantes e ativistas a unirem-se em todo o mundo para protestar à porta dos seus parlamentos e câmaras municipais. Juntamente com outros grupos em todo o mundo, Fridays for Future faz parte de uma nova e esperançosa onda de mudança, inspirando milhões de pessoas a tomar medidas contra a crise climática.
Extinction Rebellion
É um movimento descentralizado, internacional e politicamente apartidário que utiliza a ação direta não violenta e a desobediência civil para tentar persuadir os governos a agirem de forma justa em relação à Emergência Climática e Ecológica.
O movimento teve início a 31 de outubro de 2018, quando ativistas britânicos se reuniram na Praça do Parlamento, em Londres, para anunciar uma Declaração de Rebelião contra o Governo do Reino Unido. Nas semanas seguinte, seis mil rebeldes convergiram para Londres para bloquear pacificamente cinco grandes pontes sobre o Tamisa. Árvores foram plantadas no meio da Praça do Parlamento e um buraco foi cavado para enterrar um caixão que representa o nosso futuro. O movimento cresceu sem líderes e se tornou verdadeiramente global, com novos grupos surgindo em todo o mundo, trazendo perspetivas, sabedoria, conhecimentos, energia e inspiração para tornar o movimento cada vez mais forte.
African Climate Alliance
“Africa Climate Alliance” nasceu do primeiro grande protesto climático liderado por jovens na Cidade do Cabo, África do Sul, em 2019. Esta organização atua e defende a justiça climática, incluindo a justiça ambiental, social e das alterações climáticas. Apesar de ser liderada por uma pequena equipa, a Aliança Climática Africana tem uma rede de jovens de todo o continente africano e está a crescer lentamente para o seu nome aspiracional. A equipa continua a organizar ações de protesto, mas agora coloca a educação no centro e na base de tudo o que fazem. São, também, a primeira organização de jovens a participar num processo judicial sobre alterações climáticas na história da África do Sul. É importante salientar que a equipa não se concentra apenas no que aqueles que estão no poder podem e devem fazer. A equipa expandiu o seu alcance para ações no terreno que pretendem desenvolver a adaptação ao clima através de soluções práticas que promovem a segurança alimentar e outras questões importantes de justiça socioambiental.
Movimentos climáticos e ativismo em Portugal
Tal como no resto do mundo, Portugal também está na luta contra a crise climática, sendo evidente o crescente movimento de ativismo climático. Por todo o país, têm surgido novos grupos para lutar pela justiça climática e exigir ações mais ambiciosas e urgentes para enfrentar a crise climática e promover a sustentabilidade.
Um dos movimentos mais ativos e influentes em Portugal é o Climáximo. Este grupo foi formado em 2015 por jovens ativistas, que lutam por ideias novas e sustentáveis de bem-estar, justiça social e climática, resistindo às falsas soluções de “capitalismo verde”. Têm como objetivo combater o sistema capitalista e suas consequências ambientais e sociais, sendo parte integrante do movimento internacional pela justiça climática. É conhecido por realizar ações diretas e criativas, como bloqueios a instalações de combustíveis fósseis e bancos que financiam projetos de combustíveis fósseis, manifestações em eventos políticos e econômicos e atividades de conscientização pública.
Por outro lado, há também um crescimento das ONGs Ambientais em Portugal. Organizações como a ZERO, ABAE, GEOTA, FAPAS, QUERCUS, são alguns exemplos de ONGs Ambientais portuguesas que se pronunciam frequentemente sobre temas como a sustentabilidade, a educação e sensibilização ambiental, conservação da natureza, desenvolvimento sustentável, entre outros temas de combate a crise climática.
Conclusão…
O tema da crise climática já nos acompanha há várias décadas e, apesar disso, as cimeiras pelo clima continuam a mostrar-se inconclusivas. Tendo em conta esta realidade, a sociedade civil tem assumido um papel fundamental na luta contra a crise climática, organizando-se em coletivos de ativistas e pressionando governos, organizações internacionais e empresas a encarar o problema de forma realista, como uma emergência que requer ações urgentes e efetivas. O movimento e ativismo climático têm, mais do que nunca, um papel fundamental no futuro sustentável do planeta.
Referências
African Climate Alliance. URL: https://africanclimatealliance.org/about-us/ [Acedido em maio de 2023]
Almeida, Claúdia (2020) Os olhares da imprensa portuguesa sobre o ativismo climático. (Dissertação de Mestrado) Faculdade de Ciências Sociais e Humanidades, Universidade de Lisboa.
Climáximo (2023). Glossário de Ativismo Climático. URL: https://www.climaximo.pt/glossario-de-ativismo-climatico/[Acedido em maio de 2023]
Extinction Rebellion. URL:https://rebellion.global/about-us/[Acedido em maio de 2023]
Ferreira, Leticia Piccolotto (2023). Combater injustiça climática é primeiro passo para o desenvolvimento sustentável. URL: https://canaltech.com.br/colunas/combater-injustica-climatica-e-primeiro-passo-para-o-desenvolvimento-sustentavel/ [Acedido em abril de 2023]
Fridays For Future. URL: https://fridaysforfuture.org/what-we-do/who-we-are/[Acedido em maio de 2023]
Green Climate Fund. URL: https://www.greenclimate.fund/about. [Acedido em maio de 2023]