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    A-Z da Moda Sustentável

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    A-Z da Moda Sustentável

    Na era da sustentabilidade e do desperdício zero, todas as marcas podem e devem reformular-se, reposicionar-se e reinventar-se. A partir dos anos 90, com mais força na última década, tornou-se uma tendência invocar o termo “sustentável” por parte de marcas, instituições públicas, privadas e também indivíduos. No entanto, sendo a sustentabilidade um conceito que é facilmente apropriado por diferentes frentes políticas, sociais e económicas, este discurso tornou-se, muitas vezes, raso e subjetivo.

    Glossário da Moda Sustentável

    A subjetividade do discurso sustentável já nasce na sua própria nomenclatura. Definir o que é a sustentabilidade, ou desenvolvimento sustentável, gera discussões até aos dias de hoje. Navegar no mundo da sustentabilidade, especificamente no associado à indústria da moda, pode ser avassalador, com novas terminologias e conceitos a surgirem todos os dias.

    É possível fazer escolhas informadas e evitar grande parte do greenwashing, garantindo que as marcas escolhidas estão realmente a tomar as medidas necessárias para ter o menor impacte possível no nosso planeta e que estabelecem condições justas de trabalho para todos os seus trabalhadores e subcontratados.

    The Sustainable Fashion Glossary, criado pela Condé Nast em parceria com o London College of Fashion’s Centre for Sustainable Fashion (CSF) criou um glossário que permite compreender com clareza a linguagem da Moda. Quer saber o que significa transparência? O que é a compensação de carbono ou design for disassembly?

    De seguida apresentamos os termos essenciais que precisa de saber ou recordar:

    Accountability – Responsabilidade ou “prestar contas”

    A “prestação de contas” é um aspeto da governança que exige às organizações públicas e privadas que assumam a responsabilidade pelas suas ações e impacte. No contexto da indústria da moda, responsabilidade significa que as empresas devem identificar, avaliar e medir o impacte de todas as suas atividades a nível social e ambiental. Este princípio vai muito além do cumprimento de requisitos legais mínimos e está dependente do compromisso voluntário das empresas em cumprir com os valores sociais e ambientais a que se propõe, especialmente no que diz respeito aos direitos humanos e ao desenvolvimento sustentável. O impacte que esta indústria pode ter na vida das pessoas e no ambiente torna-a particularmente bem posicionada para liderar nesta matéria.

    Transparência

    É necessária uma maior transparência por parte das marcas para que possamos saber se estão a cumprir os seus compromissos de sustentabilidade. Isto significa que as empresas divulgam informação através de cadeias de fornecimento inteiras, incluindo políticas sociais e ambientais. O grupo “Fashion Revolution” produz um Índice Anual de Transparência da Moda que vale a pena consultar. No entanto, é importante lembrar que as marcas que são mais transparentes não são necessariamente mais sustentáveis.

    Comércio ético

    Embora as palavras “sustentável” e “ético” sejam por vezes utilizadas indistintamente, o comércio ético refere-se especificamente à forma como as pessoas ao longo da cadeia de fornecimento de Moda são tratadas – desde as que cultivam as matérias-primas até às que trabalham diretamente para uma empresa. Para que uma marca funcione eticamente, os direitos dos trabalhadores – tais como horários máximos de trabalho, saúde e segurança, liberdade de associação e salários justos – devem ser respeitados.

    Biodiversidade

    A biodiversidade é toda a variedade de seres vivos do meio terrestre, marinho e de outros ecossistemas aquáticos, incluindo os complexos ecológicos de que esses organismos fazem parte. O conceito de biodiversidade abrange a diversidade ao nível dos genes, das espécies e dos ecossistemas.

    Um milhão de espécies está atualmente em risco de extinção, com a taxa de perda de biodiversidade estimada em 1.000 vezes a taxa natural (Tollefson, 2019; Aldhous, 2014). Considerando que a grande maioria dos materiais utilizados na Moda são provenientes da natureza, quer seja algodão cultivado nos campos ou viscose das árvores, a indústria está lentamente a acordar para o seu papel nesta matéria, com algumas marcas a anunciarem novas iniciativas destinadas a restaurar a biodiversidade ou a procurar soluções alternativas.

    Compensação de carbono

    Esta é uma pática que oferece aos indivíduos, empresas e outras organizações a oportunidade de compensar a sua pegada de carbono através da compra de créditos de carbono (carbon offsets) que financiam o investimento em projetos centrados na redução de emissões, tais como a restauração florestal.

    Os créditos de carbono ou a redução certificada de emissões (RCE) são certificados emitidos quando ocorre a redução de emissão de gases com efeito estufa (GEE). Por convenção, uma tonelada de dióxido de carbono (CO2) equivalente corresponde a um crédito de carbono. Este crédito pode ser negociado no mercado internacional. A redução da emissão de outros gases também pode ser convertida em créditos de carbono, utilizando o conceito de carbono equivalente/dióxido de carbono equivalente.

    No entanto, a compensação de carbono que frequentemente tem lugar em países menos industrializados não é de vista como uma solução perfeita e não deve desviar a atenção da necessidade real das empresas lidarem diretamente com a sua própria pegada de carbono.

    Fibras naturais

    As fibras naturais – que provêm de plantas ou animais – são geralmente consideradas mais sustentáveis que os sintéticos (que são derivados de combustíveis fósseis), e incluem algodão, linho e lã. Mas as fibras naturais ainda têm diferentes graus de impacte, com o algodão orgânico menos nocivo para o ambiente do que o algodão e o couro convencionais tendo uma maior pegada de carbono em comparação com o poliéster, por exemplo (Global Fashion Agenda, 2017). Embora as próprias fibras naturais sejam biodegradáveis, os produtos químicos utilizados para as tratar no processo de fabrico podem não o ser.

    Microplásticos

    Os microplásticos são pequenas partículas de plástico atualmente consideradas como um dos principais poluentes dos oceanos. Estas partículas sólidas baseadas em polímeros possuem um tamanho inferior a cinco milímetros. Entram em ecossistemas naturais a partir de uma grande variedade de fontes, incluindo cosméticos, roupas e processos industriais. Persistem no ambiente em níveis elevados, particularmente em ecossistemas aquáticos e marinhos e degradam-se muito lentamente.

    De facto, as estimativas sugerem que cerca de 20% a 35% dos microplásticos que são libertados nos nossos oceanos provêm dos têxteis, representando uma enorme ameaça para a vida marinha que os ingere (IUCN, 2017).

    Materiais biodegradáveis

    Biodegradável é todo material que, após a sua utilização, pode ser decomposto em condições naturais. O processo de biodegradação é promovido pela ação de microorganismos que transformam o material original (matérias-primas biológicas) em moléculas menores.

    Já deve ter visto um número crescente de produtos rotulados como biodegradáveis, quer se trate do vestuário em si ou da embalagem e embora os materiais biodegradáveis se decomponham naturalmente através de microorganismos como bactérias e fungos, não há garantias: condições como a temperatura e os nutrientes afetarão a biodegradabilidade, assim como os corantes e as lavagens utilizadas para tratar os materiais. Vale a pena notar que biodegradabilidade é diferente de compostável, sendo que esta última requer normalmente um processo gerido.

    Upcycling vs. Reciclagem

    Com o intuito de evitar o desperdício e continuar a utilizar os materiais e produtos que já circulam na economia, upcycling é uma técnica que reaproveita materiais que seriam descartados, mas que ainda apresentam um grande potencial de utilidade. Os novos produtos obtidos pelas técnicas de upcycling possuem qualidade igual ou superior à do produto original, e geralmente adquirem uma função diferente do material original.

    À medida que as marcas se tornam mais conscientes do impacte das matérias-primas, o upcycling tornou-se uma tendência crescente na indústria, com algumas marcas a fazer uso de materiais pré-existentes. Em suma, upcycling significa transformar materiais e produtos descartados em artigos de maior valor, enquanto que reciclagem significa normalmente transformar um produto descartado num artigo semelhante.

    Sobreconsumo

    Com um espantoso número de 100 mil milhões de peças de roupa produzidas globalmente todos os anos, o sobreconsumo é um problema real. É simples: temos mais peças de vestuário do que realmente precisamos e continuamos a fazer mais roupa do que o nosso planeta consegue suportar. De facto, estima-se que o número de vezes que uma peça de vestuário é usada diminuiu 36% nas últimas duas décadas, acabando frequentemente em aterros sanitários. É por isso que o lema “comprar menos e comprar melhor” é mais importante do que nunca.

    Design for disassembly – Design para desconstrução”

    O design for disassembly é uma estratégia que garante que os produtos podem ser desconstruídos no final da sua vida útil. Esta desconstrução permite a reciclagem, o upcycling ou a reutilização dos elementos em separado.

    Como as tecnologias de reciclagem variam consoante o tipo de material, a reciclagem só é possível se estes materiais que compõem um produto puderem ser separados para os diferentes processos existentes. Esta estratégia contribui para um uso mais eficiente dos materiais, reduzindo a necessidade de utilização de mais recursos e aproveitando os fluxos de materiais de recursos já existentes.

    Como em todos os setores, a tecnologia está a revolucionar a forma como as empresas no setor têxtil e da moda operam – através de análise de dados, inteligência artificial, tecnologia virtual, entre outros – resultando em processos simplificados e eficientes cujo impacte é impossível ignorar. Na próxima semana falaremos de como a tecnologia está a moldar o futuro da indústria da moda.

    Fontes:

    Aldhous, P., (2014). We are killing species at 1000 times the natural rate, URL: https://www.newscientist.com/article/dn25645-we-are-killing-species-at-1000-times-the-natural-rate/#ixzz7T5g5A9En, consultado em maio de 2022.

    Chan, E., (2021). Moda sustentável, URL: https://www.vogue.pt/glossario-de-moda-sustentavel, consultado em maio de 2022.

    Condé Nast (2022). The Sustainable Fashion Glossary, URL: https://www.condenast.com/glossary, consultado em maio de 2022.

    Fashion Revolution (2022). Fashion Transparency Index, URL: https://www.fashionrevolution.org/about/transparency/, consultado em maio de 2022.

    Global Fashion Agenda (2022), URL: https://www.globalfashionagenda.com/publications-and-policy/pulse-of-the-industry/#, consultado em maio de 2022.

    IUCN (2017). Primary microplastics in the oceans, URL: https://www.iucn.org/content/primary-microplastics-oceans, consultado em maio de 2022.

    Tollefson, J. (2019). Humans are driving one million species to extinction, URL: https://www.nature.com/articles/d41586-019-01448-4, consultado em maio de 2022.