Agricultura e Alterações Climáticas
A agricultura distingue-se das restantes atividades económicas por, entre outras características singulares, se desenvolver maioritariamente ao ar livre. Desta característica resulta uma extrema vulnerabilidade e dependência face às condições meteorológicas.
O setor agrícola é um dos mais expostos às mudanças nos padrões do clima, que têm um impacte muito específico na seleção e localização de culturas, assim como na produtividade agrícola, mas é, ao mesmo tempo, uma das atividades que mais contribui para as alterações climáticas através da emissão de gases com efeito de estufa (GEE) e outros poluentes.
A Agricultura contribui para as alterações climáticas
A agricultura desempenha um papel particularmente importante nas alterações climáticas, sendo responsável por cerca de 20% das emissões globais de GEE, 45% das emissões globais de metano e 80% das emissões globais de óxido nitroso.
O contínuo aumento da população a nível mundial resulta na necessidade de mais alimento para alimentar gado e produzir rações e, consequentemente, mais emissões no setor da agricultura. Assumindo os níveis atuais de eficiência de produção e a continuação da atual taxa de desflorestação, a perspetiva será que as emissões aumentem ente 15 a 20% para cerca de 23,4 Gt de CO2e.
A nível nacional e de acordo com o Inventário Nacional de Emissões 2021, em 2019 a agricultura foi por cerca de 11% das emissões de GEE nacionais (Figura 2).
O setor da agricultura apresenta um crescimento de 1,0% face a 2018. Este crescimento das emissões entre 2018 e 2019, é explicado maioritariamente pelo aumento da população de bovinos de engorda, de ovinos e de aves, mas também pelo aumento no uso de fertilizantes.
O total de emissões de GEE no setor da agricultura correspondem a emissões de:
- Metano (CH4), que representa cerca de 64,6% do total das emissões e que resulta da fermentação entérica (79,8%), efluentes pecuários (16,4%), cultivo de arroz (3,8%) e queima de resíduos agrícolas (0,8%).
- Oxido nitroso (N2O), que representa cerca de 34,8% do total das emissões e que resultam de emissões diretas e indiretas dos solos agrícolas (91,4%), gestão de efluentes pecuários (7,9%) e da queima de resíduos agrícolas (0,8%);
- Dióxido de carbono (CO2), que representa cerca de 0,6% do total das emissões que resulta da aplicação de ureia e corretivos calcários, alterações no uso dos solos e consumo de energias não renováveis. A aplicação de ureia e corretivos calcários é a principal fonte, totalizando 60,3%, em 2019.
Daqui resulta que o setor da produção animal contribui com quase 75% das emissões de GEE do setor agrícola português, 70% das quais são da responsabilidade dos bovinos de leite e de carne.
As alterações climáticas afetam a agricultura
As principais consequências do processo de alterações climáticas na agricultura são:
- aumento da temperatura média do ar;
- modificação do regime pluviométrico;
- alteração da intensidade e frequência de fenómenos climáticos extremos.
De acordo com o relatório “Adaptação às Alterações Climáticas no Sector Agrícola na Europa” da Agência Europeia do Ambiente (AEA), a médio prazo a viabilidade económica das explorações agrícolas deverá ser severamente afetada com a multiplicação de episódios meteorológicos extremos — caso de secas, cheias ou vagas de calor — e com as alterações nos ecossistemas fruto das mudanças no clima que levam, consequentemente, à diminuição da polinização ou ao aumento de pestes e doenças.
Estas mudanças no clima terão repercussões claras na agricultura, tal como “piores colheitas” e custos de produção mais elevados, que afetarão o preço, a quantidade e a qualidade da produção agrícola. Os efeitos vão, também, sentir-se no processamento dos produtos agrícolas e nas condições de transporte e armazenamento dos mesmos.
A nível europeu, a produtividade deste setor está particularmente afetada nos países do sul da Europa, onde as projeções, com cenário de emissões elevadas, apontam para uma redução de 50% até 2050 das colheitas não irrigadas como o trigo, milho ou a beterraba sacarina. Em Portugal, a maior quebra será na taxa da produtividade média anual da cultura de milho, na vinha e no olival.
O conjunto de consequências que advêm das alterações climáticas irão ter impactes muito negativos sobre os sistemas de produção agrícola, pelo que será necessário uma adoção urgente de medidas de adaptação no setor agrícola, não só para cumprir as metas definidas nos quadros internacionais e nacionais, como também para assegurar a resiliência e sustentabilidade deste setor.
Fonte:
Braga, R. & Pinto, P.A. (2009). Alterações Climáticas e Agricultura. Lisboa: Associação dos Jovens Agricultores de Portugal.
APA (2019). Ficha Temática “Emissões de Gases com Efeito de Estufa”. Consultado em junho de 2021, em https://rea.apambiente.pt/content/emiss%C3%B5es-de-gases-com-efeito-de-estufa
McKinsey & Company (2020). Agriculture and climate change: Reducing emissions through improved farming practices. McKinsey & Company
APA (2021). Inventário Nacional de Emissões de 2021: Estimativas de emissões de GEE 2019. Lisboa
AEA (2019) Climate change adaptation in the agriculture sector in Europe. Luxembourg: Publications Office of the European Union
Avillez, F. (2020). Agricultura e Alterações Climáticas: Pontos essenciais. Artigo Técnico. AGRO.GES AEA (2015). A Agricultura e as alterações climáticas. Consultado em junho de 2021, em https://www.eea.europa.eu/pt/sinais-da-aea/sinais-2015/artigos/a-agricultura-e-as-alteracoes-climaticas