Alimentação sustentável: o que é?
Quando abordamos o tema da sustentabilidade, é bastante comum associarmos a ações como não poluir, preservar áreas naturais, reciclar, economizar água, optar por fontes de energia renováveis, entre outras. No entanto, não relacionamos com tanta frequência uma ação tão importante que pertence às nossas atividades mais básicas: a alimentação.
A associação entre sustentabilidade e alimentação assume uma importância crescente em todo o mundo, uma vez que a forma como nos alimentamos tem cada vez mais impactes negativos no meio ambiente. O problema não está em comer, mas sim no que comemos e no que desperdiçamos!
Impacte da alimentação no meio ambiente
A forma como os alimentos são atualmente produzidos, processados, distribuídos e consumidos tem implicações evidentes na sustentabilidade do planeta, em particular no ambiente, economia e saúde humana.
De acordo com as estimativas da Organização das Nações Unidas (ONU), a indústria alimentar é responsável por 30% do consumo energético mundial e por 22% dos gases com efeito estufa. A Greenpeace, no seu relatório de 2018 sobre a sustentabilidade alimentar, apontou a indústria pecuária como responsável por 14% das emissões globais de gases com efeito estufa.
Adicionalmente, projeções da Food and Agriculture Organization (FAO) indicam que em 2050 a população será superior a 9 mil milhões de pessoas, o que consequentemente exigirá um aumento de 60% na produção de alimentos (FAO, 2016).
Outro grande problema derivado do sistema alimentar atual é o desperdício. Cerca de 1/3 dos alimentos produzidos não é consumido, o que corresponde a 1,3 biliões de toneladas por ano (FAO, 2017). É importante realçar que as perdas alimentares e o desperdício alimentar são responsáveis pela emissão de 8% dos gases de efeito de estufa, uma vez que correspondem a um gasto de recursos valiosos, como água e energia (FAO, 2014).
Por fim, a saúde também é fortemente afetada pela nossa dieta atual. O sistema alimentar em vigor é prejudicial e doenças como a obesidade aparecem vinculadas ao consumo de produtos de origem animal, cereais refinados e açúcar.
Deste modo, em prol da segurança da saúde humana e da preservação do planeta torna-se imperativo proceder à transformação do sistema alimentar atual, através da integração de conceitos e medidas inerentes à sustentabilidade, mitigando os impactes da produção de alimentos, enquanto se promove o acesso global a alimentos sem comprometer as gerações futuras.
Alimentação sustentável
“Os nossos futuros sistemas alimentares precisarão de fornecer dietas acessíveis e saudáveis para todos e meios de subsistência decentes para os trabalhadores do sistema alimentar, preservando os recursos naturais e a biodiversidade e enfrentando desafios como as alterações climáticas.” – FAO, 2020
Uma alimentação sustentável é aquela que, sendo culturalmente aceite e acessível, permitirá satisfazer todas as necessidades fisiológicas da população mundial com alimentos seguros, enquanto assegura o respeito pela biodiversidade e ecossistemas, sendo economicamente justa e viável, e faça um ótimo aproveitamento dos recursos humanos e naturais combatendo o desperdício.
Alimento Sustentável
Um alimento sustentável é, essencialmente, um alimento que prioriza o bem-estar do nosso corpo e da biodiversidade. Consiste na combinação de produtos alimentares que são produzidos utilizando métodos que levam em conta a preservação das condições naturais do nosso planeta.
Uma alimentação sustentável é aquela que, sendo culturalmente aceite e acessível, permitirá satisfazer todas as necessidades fisiológicas da população mundial com alimentos seguros, enquanto assegura o respeito pela biodiversidade e ecossistemas, sendo economicamente justa.
Alimento Local: É um alimento produzido na proximidade, tendo uma cadeia de distribuição curta. O consumo de alimentos locais promove a economia da região e minimiza a pegada de carbono. Alimento Sazonal: É um alimento fresco, que se encontra disponível localmente e em condições de maturação adequadas para consumo. Estes alimentos têm um custo económico e ambiental inferior ao dos alimentos consumidos fora da época. Além de que, podem apresentar melhores características organoléticas e nutricionais. |
Medidas para uma alimentação mais saudável e sustentável
1º Escolha o mais natural – Torne a sua cozinha mais sustentável com pequenos passos diários. Legumes, frutas e hortaliças devem ser uma prioridade no prato. Tente excluir ao máximo os processados, pré-cozinhados e transgénicos;
2º Reduza o consumo de carnes – Como mencionado anteriormente, a indústria pecuária representa uma das maiores fontes de emissão de gases de efeito estufa. Diminuir o consumo destes alimentos não só contribuirá para a redução dessas emissões, mas também promoverá a saúde humana;
3º Evite o desperdício – Procure comprar apenas a quantidade que vai consumir e reduza o desperdício na preparação e confeção dos alimentos. O desperdício alimentar contribui para o aumento dos resíduos sólidos, a degradação do meio ambiente e o desperdício de recursos naturais, como solo, água e energia. Ao evitar o desperdício, não apenas reduzimos o impacte ambiental, mas também economizamos dinheiro e contribuímos para a sustentabilidade alimentar.;
4º Apoie o comércio local e justo – Optar por produtos locais e que respeitem critérios de comércio justo contribui para o fortalecimento das comunidades locais, para a redução das emissões de carbono associadas ao transporte de longa distância e para a promoção de práticas comerciais mais éticas e equitativas;
5º Escolha os biológicos e sem pesticidas – Produtos alimentares biológicos, que não contenham resíduos de pesticidas, contribuem para a redução da exposição a substâncias químicas nocivas. Além disso, apoia práticas agrícolas mais sustentáveis que respeitam o meio ambiente e promovem a saúde dos ecossistemas;
6º Consuma os alimentos da época – Optar por alimentos que estejam na época certa do ano promove a redução e a necessidade de importação de produtos fora de estação, o que por sua vez diminui a pegada de carbono associada ao transporte. Permite também apoiar produtos sazonais contribuindo para o estímulo da economia local e da agricultura sustentável, respeitando os ciclos naturais de crescimento das culturas e a biodiversidade da região.
Vantagens de um sistema alimentar sustentável:
- Conservação e proteção dos recursos naturais: A agricultura, incluindo a pesca, é o principal impulsionador da perda de biodiversidade. A alimentação sustentável tem como principal base a conservação dos recursos naturais, como o solo, a água e as florestas, e a sua gestão apropriada. É também fundamental evitar causar danos, impactes negativos ou desperdiçar recursos naturais ao longo de todas as etapas da cadeia de produção alimentar, como parte da transição em direção a uma alimentação sustentável.
- Eficiência na utilização dos recursos naturais: A utilização criteriosa e eficaz dos solos contribui para o aumento da produtividade, enquanto restringe a expansão das áreas agrícolas, impedindo a invasão e degradação dos biomas ou ecossistemas naturais.
- Redução das emissões de carbono: Ao contrário das explorações agrícolas modernas ou das fábricas de processamento convencionais, o modelo de produção local sustentável de alimentos tem uma menor dependência das fontes de energia não renováveis, que se baseiam em combustíveis fósseis.
- A pecuária é o setor da produção de alimentos que mais emite gases de efeito estufa. No entanto, é viável adotar práticas pecuárias de baixo carbono, baseadas em técnicas sustentáveis de criação de gado de fácil implementação, que podem reduzir as emissões em cerca de 20 a 30%.
- A alimentação sustentável é socialmente justa: a agricultura sustentável não apenas protege e melhora os meios de vida das comunidades rurais, promovendo a equidade e o bem-estar social, mas também é essencial para garantir que produtos alimentares permaneçam acessíveis aos mais vulneráveis, considerando a volatilidade dos preços e os desafios climáticos e de biodiversidade.
- Uso sustentável da água: A produção alimentar sustentável utiliza métodos eficazes e racionais na gestão da água. Além disso, esforça-se por reciclar e reutilizar a água durante o processo, em vez de a descartar no meio ambiente.
- Redução do uso de embalagens: A produção alimentar sustentável emprega métodos eficazes e racionais na gestão da água. Além disso, esforça-se por reciclar e reutilizar a água durante o processo, em vez de a descartar no meio ambiente.
- Redução das perdas e desperdício: Os sistemas de alimentação sustentável reduzem a quantidade de embalagens utilizada, sendo ainda eficientes em relação à qualidade dos recipientes utilizados na venda de produtos.
Concluindo…
A alimentação sustentável não é apenas uma escolha pessoal, mas uma necessidade global. Considerando o impacte significativo da produção alimentar no meio ambiente, na economia e na saúde humana, é crucial adotar práticas alimentares que promovam a sustentabilidade. As escolhas do nosso dia-a-dia, como optar por alimentos locais, sazonais, biológicos e ao reduzir o desperdício, tem um papel fundamental na conservação dos recursos naturais, na redução das emissões de carbono e no bem-estar das comunidades locais, enquanto garantimos o acesso a alimentos saudáveis para todos. Cada passo em direção a uma alimentação mais sustentável é um passo em direção a um futuro mais equilibrado e resiliente para o nosso planeta e para as gerações futuras.
“Construir uma visão comum para a sustentabilidade alimentar e agricultura depende de cada um de nós.” – Building a common vision for sustainable food and agriculture (FAO, 2014)
Referências
Associação Portuguesa de Nutrição. Alimentar o futuro: uma reflexão sobre sustentabilidade alimentar. E-book n.° 43. Porto: Associação Portuguesa de Nutrição; 2017.
Direção-Geral de Alimentação e Veterinária. (2021). Dia Mundial da Alimentação 2020: Brochura informativa. URL: https://www.dgav.pt/wp-content/uploads/2021/10/Brochura_DiaAlimentacao20.pdf [Acedido em setembro de 2023]
FAO. Food and agriculture: key to achieving the 2030 agenda for sustainable development. Rome: Food and Agriculture Organization of the United Nations; 2016.
FAO. Global food loss and waste. Food wastage footprint & climate change. Food and Agriculture Organization of United Nations. Disponível em: http://www.fao.org/3/a-bb144e.pdf.
FAO. Global food losses and food waste. – Extent causes and prevention. Rome: Food and Agriculture Organization of the Unied Nations; 2011. Disponível em: http://www.fao.org/docrep/014/mb060e/mb060e00.pdf.
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Iberdrola (2023). Sustentabilidade alimentar. URL: https://www.iberdrola.com/sustentabilidade/sustentabilidade-alimentar [Acedido em setembro de 2023]
Instituto de Marketing (2019). Research Alimentação sustentável: um passo para salvar o planeta. URL: https://www.imr.pt/pt/noticias/alimentacao-sustentavel-um-passo-para-salvar-o-planeta [Acedido em setembro de 2023]
Laboratório de Nutrição FMUL. Sustentabilidade Alimentar: Da Teoria à Ação. (Laboratório de Nutrição FMUL, ed.). Lisboa; 2022.URL: https://www.medicina.ulisboa.pt/sites/default/files/2022-10/e-booksustentabilidade-alimentar-da-teoria-acao.pdf [Acedido em setembro de 2023]
Letras Ambientais (2018). 10 motivos para levar a sérios alimentos sustentáveis. URL: https://www.letrasambientais.org.br/posts/10-motivos-para-levar-a-serio-alimentos-sustentaveis [Acedido em setembro de 2023]