
Black Friday? Não, obrigado.
A Sociedade de Consumo em que vivemos é um sistema complexo de culturas, instituições. mercados, tecnologias e modelos de negócio, impulsionada pela lógica de crescimento infinito, pela procura do bem-estar e pelo consumismo, isto é, o estímulo de aquisição de bens que não necessariamente precisamos, tendo como consequência a insatisfação contante e o desejo insaciável por consumir.
Os elevados níveis de consumo levaram a necessidades cada vez maiores de trabalho, endividamento, gastos excessivos, assim como também ocorreu uma diminuição da qualidade de vida e o aumento do stress. O excesso de consumo tem contribuído também para o rápido esgotamento dos recursos da Terra, para o aumento das emissões de GEE na atmosfera e para o aumento da produção de resíduos que, na maioria das vezes, não são encaminhados para destino final adequado ou, até, não são passíveis de serem reciclados.
Somos uma Sociedade Consumista com um ímpeto frenético e, por vezes, irracional para o consumismo. Ao longo da história, aproveitando este impulso do ser humano, foram surgindo algumas datas e épocas especiais para explorar este comportamento.
Black Friday: como tudo começou?
O termo Black Friday, em português, “Sexta-feira Negra”, foi utilizado pela primeira vez no dia 24 de setembro de 1869, dia em que houve um crash em Wall Street, a bolsa de Nova Iorque. Tudo começou, quando dois especuladores, Jay Gould e Jim Fisk, se uniram para tentar comprar o máximo de quantidade de ouro do Estado, de forma a conseguirem impor depois um preço mais elevado e conseguirem obter lucros maiores.
Depois disso, o termo “Sexta-feira Negra” voltou a ser utilizado em 1951 nos Estados Unidos da América, como forma de representar a sexta-feira a seguir ao dia da Ação de Graças e o facto de a maior parte dos trabalhadores ficarem alegadamente doentes para terem quatro dias seguidos de folga.
Só nos anos 2000 é que a Black friday se assumiu como o dia com maior volume de compras do ano. Foi também nos anos 2000 que o termo se universalizou e começou a ser utilizado para definir o dia de promoções e descontos na última sexta-feira de novembro. Em Portugal, a Black friday cresceu a partir do ano de 2010, com vários descontos neste dia, em que as pessoas aproveitam para comprar presentes de Natal ou fazer compras para a casa, com a vantagem de contarem com o subsídio de Natal. A data tornou-se assim, numa data comercial.
Todos os anos, marcas, profissionais de marketing, grandes superfícies comerciais e os próprios consumidores alinham as suas estratégias para celebrarem mais uma Black Friday. O apelo ao consumo massificado e descartável não é exclusivo desta época, mas intensifica-se e sempre que chegamos à reta final de mais um ano, assistimos ao mesmo fenómeno dos super descontos, em que os consumidores embarcam numa jornada desenfreada, fazendo do verbo “comprar” a sua missão número um.
Alternativas à Black Friday
Felizmente, assistimos gradualmente a uma mudança de paradigma, com uma sociedade mais alerta e consumidores mais conscientes. Surge, assim, o conceito de Green Friday, uma espécie de contrabalanço, que oferece uma alternativa mais ponderada e responsável à tradicional Black Friday.
Na Green Friday a base do consumo mantém-se inevitavelmente, mas de forma mais moderada e disciplinada, com opções mais “verdes” e escolhas mais conscientes. As marcas, por convicção ou necessidade, começam a aderir à Green Friday, através de iniciativas como retomas ou troca de artigos antigos por benefícios, ações de compensação da pegada ecológica ou campanhas em que o valor das compras reverte para ações de caráter ambiental ou social
Em 2012, surge também o Giving Tuesday, nos Estados Unidos da América. Esta iniciativa foi cofundada pelas Nações Unidas e pela 92StreetY. Hoje é uma organização autónoma, com o suporte da Fundação Bill & Melinda Gates. O objetivo é criar uma onda massiva de generosidade que dure para além do dia do Giving Tuesday e que atinja todas as pessoas do planeta sob o mote “dá para mudar”.
Atualmente, é determinante incentivar os consumidores a comprar com critério, planear as suas compras, mostrar que existem alternativas, quais as consequências e qual o contributo que poderão estar a dar para um mundo mais sustentável. Pode sempre optar por comprar no comércio local, artigos em segunda mão, produtos artesanais, de baixo impacte e baixa escala, ou em marcas que partilhem dos seus valores sociais e ambientais.
Antes de comprar algo, seja na Black Friday ou em qualquer outra altura do ano, pergunte-se: Preciso realmente de comprar este produto?
Fontes:
Antunes, R. P. (2019). Fact Check: A Black Friday. Publicado em Observador On Time, S.A.. Consultado em novembro de 2021, de https://observador.pt/factchecks/fact-check-a-black-friday-teve-origem-na-escravatura/
Briefing (2021). Black Friday vs. Green Friday: de que lado queremos estar?. Artigo de opinião de Eurico Estêvão, Marketing Manager na Phenix Portugal. Consultado em novembro de 2021, de https://www.briefing.pt/opiniao/51292-black-friday-vs-green-friday-de-que-lado-queremos-estar.html
Giving Tuesday (2021). Quem somos e como surgiu a ideia?. Consultado em novembro de 2021, de https://www.givingtuesday.pt/quem-somos/
Greelane (2021). História & Cultura: Black Friday. Consultado em novembro de 2021, de https://www.greelane.com/pt/