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    Crise humanitária e ambiente

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    Crise humanitária e ambiente

    Na relação entre o ambiente e a humanidade não existem divisões: o que atinge o ambiente, atinge, inevitavelmente, as pessoas. E, infelizmente, as populações com maior vulnerabilidade são as mais atingidas pelas consequências ambientais – embora sejam, também, quem menos contribui – além de serem, de alguma forma, dependentes do que o ambiente fornece. Na sua maioria, os desastres ambientais são fruto da ação humana e, em contrapartida, a proteção que é oferecida aos que sofrem e são obrigados a deixar o seu local de origem, atingido pelos desastres, é muito escassa.

     

    Migrações e Ambiente

    O fenómeno das migrações não é desta era, mas trata-se de um fenómeno que tem vindo a suceder ao longo da História. Se certo é que o ser humano sempre se movimentou além-fronteiras compelido por necessidades e interesses que nascem em virtude na desenvoltura da sociedade, da economia e dos transportes, mais certo é que essas mesmas necessidades sempre se revelaram mais prementes e evidentes no que tocou ao surgimento de conflitos entre povos e nações e à circunstância de catástrofes naturais, potenciada, nos dias de hoje, pelo fenómeno das alterações climáticas.

    O International Federation of Red Cross and Red Crescent Societies (IFRC) publicou, em 2019, um trabalho intitulado “The cost of doing nothing: the humanitarian price of climate change and how it can be avoided”, que aponta que 200 milhões de pessoas, todos os anos, a partir de 2050, serão forçadas deslocar-se do seu local de origem ou habitação para outro, em função das alterações significativas que ocorrerão no ambiente.

    O conceito de wandering (ou migração) pressupõe mobilidade espacial que normalmente desconsidera as fronteiras administrativas, seja uma fronteira estadual, municipal, distrital ou provincial. Hoje, na Europa, o conceito trata-se de uma migração externa e tipicamente forçada.

     

    Os deslocados ambientais

    Vidas deslocadas por causa de problemas ambientais não é um discurso utópico dos cientistas. O termo “refugiados ambientais” foi estabelecido em 1985 numa publicação do Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente como “Pessoas forçadas a deixar o seu habitat tradicional, temporária ou permanentemente, devido a uma perturbação ambiental acentuada (natural e/ou desencadeada por pessoas) que comprometeu sua existência e/ou afetou seriamente a qualidade de vida”. Por “rutura ambiental” entende-se qualquer alteração física, química e/ou biológica no ecossistema que o tornam, temporária ou permanentemente, inadequado para sustentar a vida humana.

    Além disso, ainda há, de acordo com Jacobson (1988), três tipos diferentes de refugiados ambientais: o primeiro refere-se aos deslocados devido a um desastre natural, como um terremoto, por exemplo; o segundo está relacionado com a destruição ambiental e o risco para a qualidade de vida e saúde; e, por fim, o terceiro refere-se àqueles que mudam permanentemente e se estabelecem noutros locais devido a mudanças insustentáveis no seu local de residência.

     

    A falta de água no Iémen

    Mastigar khat é um hábito nesta região. No Iémen, há agricultores que estão a perfurar o solo para extrair água em profundidade e, com ela, cultivar a planta khat, que é muito popular no país e contém uma substância psicoativa.

    Para os agricultores, a planta angiospérmica pode gerar até três vezes mais lucro do que qualquer outra cultura, mas o seu cultivo acarreta problemas ambientais. A planta, de sabor amargo, requer muita irrigação e um uso desproporcional de água, o que exacerba o grave problema que o Iémen enfrenta no que concerne à pouca disponibilidade de recursos hídricos.

    Mas, segundo o Banco Mundial, as alterações climáticas estão a tornar mais imprevisível a queda de chuva no Iémen. Na capital, o aquífero da respetiva bacia está a ficar sem água. Com isto, agricultores em Al-Haweri e Bait al-Dhafif dizem estar a ter de fazer perfurações na ordem dos 550 e 1000 metros, com vista a obter água em profundidade.

    O relatório, preparado pelo Cyprus Institute (Chipre), indica que em Al-Haweri as estufas estão abandonadas como resultado do êxodo dos agricultores para outras áreas, enquanto outros ainda tentam resistir, manter e salvar as colheitas de alimentos, num país onde 80% de uma população de 30 milhões dependem de ajuda humanitária para comer.

     

    As chuvas torrenciais no Paquistão

    No Paquistão, as chuvas torrenciais provocaram milhares de mortes. O IRC também sinalizou a necessidade de “investir proactivamente na prevenção e mitigação das mudanças climáticas”.

    A insegurança alimentar tornou-se recorrente devido ao conflito armado crescente, bem como à crise económica provocada pela pandemia de coronavírus e, mais recentemente, pela crise geopolítica na Europa, refere o relatório. Além disso, o fosso que existe entre as necessidades humanitárias e financiamento disponível aumentou. Em novembro de 2022, o IRC registava um deficit global de 27 mil milhões de dólares americanos (um valor semelhante em euros).

    “Os doadores não estão a responder proporcionalmente” – afirma o relatório. “O resultado é que as comunidades afetadas pela crise não conseguem ter acesso aos apoios necessários para sobreviver, se reerguer e reconstruir”.

    O estudo do IRC destacou ainda que o número de pessoas forçadas a fugir, deixando para trás as próprias casas, aumentou para mais de 100 milhões. Em 2014, eram 60 milhões.

     

    O clima obrigou mais de 22 milhões de pessoas a deixar casas em 2021! À medida que as migrações motivadas pelo clima e pelos danos no ambiente se intensificam, há uma urgência em esclarecer a definição de “refugiados climáticos/ambientais” e colocar em prática um mecanismo internacional que os proteja.