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    O caminho para um futuro sustentável e inclusivo – Parte II

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    O caminho para um futuro sustentável e inclusivo – Parte II

    Os desafios do atual contexto económico alertam para a importância de a economia e a sociedade se tornarem mais inclusivas e sustentáveis. A sustentabilidade é a principal oportunidade de inovação do nosso tempo. Precisamos de alterar a forma como agregamos valor à economia, reconfigurar a forma como a economia funciona através, por exemplo, da mudança da proposta de valor dos bens e serviços e da transição para uma economia mais colaborativa e de partilha.

    De seguida apresentam-se os principais desafios para se atingir uma economia cada vez mais sustentável e inclusiva.

    Os desafios para o crescimento

    O crescimento impõe dois grandes desafios: o primeiro está relacionado com o aumento consistente da desigualdade, que se poderá agravar com o crescimento, enquanto o segundo se prende com o aumento do consumo de recursos naturais e das emissões.

    A humanidade nunca foi tão rica, mas também nunca foi tão desigual na distribuição da riqueza. Existe ainda um longo caminho a percorrer no domínio da promoção da diversidade, para que as sociedades sejam espaços de inclusão, promotoras de bem-estar e que valorizem a diferença. A situação pandémica e a subsequente queda da economia agravaram a desigualdade no mundo, seja ao nível da pobreza, do desemprego ou de género. De acordo com Sternfels, et al. (2021), o número de trabalhadores, até 2030, que serão obrigados a fazer transições profissionais para permanecer empregados pode chegar aos 25%.

    A economia e a sustentabilidade não podem ser faces opostas da mesma moeda. A economia tem de continuar a crescer, promovendo o investimento na neutralidade carbónica e na regeneração dos recursos, garantindo assim um crescimento dentro dos limites planetários. A solução para os problemas ambientais que enfrentamos não pode passar pela perda de bem-estar Humano. É absolutamente essencial que consigamos recuperar a qualidade ambiental do planeta sem perder as condições de bem-estar que conquistamos até ao momento.

    Salienta-se também que na jornada para uma economia mais verde e mais inclusiva é necessária a reorientação dos capitais privados para investimentos mais sustentáveis. Para os investidores, isto significa integrar os critérios ESG (Environment, Social and Governance) nas suas decisões, resultando em investimentos de longo prazo em atividades sustentáveis. Para as empresas, significa trabalhar na integração de práticas sustentáveis, que garantam um impacte positivo do ponto de vista ambiental e social.

    Os desafios da sustentabilidade

    Para alcançar a tão desejada neutralidade carbónica, até 2050, será necessário um investimento de mil milhões de capital em energia. Se os consumidores e as empresas assumirem esta carga fiscal, o crescimento e a inclusão a curto prazo poderão vir a ficar comprometidos, por muito que os benefícios a longo prazo sejam evidentes. Se os custos forem transferidos para os consumidores, os preços da energia poderão subir muito antes dos rendimentos alcançarem a subida também, e se os custos forem transferidos para as empresas, a rentabilidade de vários setores será colocada em causa.

    Esta dinâmica estabelece o potencial para duas forças contrárias: a distribuição desigual do impacte e um desafio ao objetivo de inclusão.

    A transição energética poderá afetar de forma severa alguns países e setores. De acordo com a Agência Internacional de Energia, as economias produtoras de petróleo e gás natural poderão ver o seu rendimento anual per capita cair em cerca de 75% até à década de 2030. Os países de rendimentos mais baixos serão expostos de forma desproporcional porque contabilizam uma maior percentagem de setores de produção com emissões intensivas e terão também de fazer investimentos mais elevados relativamente ao seu PIB. Os setores e cadeias de abastecimento mais afetados serão os da energia, do automóvel e da construção.

    As famílias com rendimentos mais baixos estão desproporcionadamente vulneráveis. Na Europa, os recentes aumentos dos preços da energia – a vanguarda da transição energética – estão a afetar especialmente as famílias com baixos rendimentos, levando alguns governos, como o de Espanha, a conceder subsídios. Embora a transição possa criar mais de 18 milhões de postos de trabalho ”verdes”, de acordo com as estimativas da Organização Internacional do Trabalho, muitos trabalhadores, especialmente aqueles com rendimentos mais baixos, terão de se reinventar para se qualificarem para estes novos empregos.

    Os potenciais desafios da inclusão

    Os resultados positivos da inclusão são incontestáveis e encontram-se bem documentados: uma maior participação de mão-de-obra, maior criatividade e mais capital atribuído para satisfazer as necessidades. No entanto, caso as medidas para fomentar a inclusão sejam mal desenhadas, o resultado pode ter consequências negativas, como investimento reduzido ou uma aceleração da degradação ambiental.

    Os esforços para alcançar a igualdade podem também ter um efeito contrário e tornarem-se tornarem um exercício de box-ticking que pode falhar na abordagem às causas mais profundas das desigualdades. Como resultado, o objetivo de alcançar um local de trabalho ou uma sociedade mais justa pode não ser alcançado e os resultados podem mesmo piorar para determinados grupos.

    O mundo enfrenta três desafios críticos: emergência climática, perda da natureza e a crescente desigualdade. São necessárias transformações sistémicas para enfrentar os desafios apresentados anteriormente, assim como é crucial o envolvimento de diferentes atores da sociedade.

    Fontes:

    EY (2021). Crescimento inclusivo, URL: https://www.ey.com/pt_pt/inclusive-growth, consultado em maio de 2022.

    Francis, T., Madgavkar, A., Smit, S., (2022). The path to sustainable and inclusive growth, URL: https://www.mckinsey.com/business-functions/strategy-and-corporate-finance/our-insights/the-path-to-sustainable-and-inclusive-growth, consultado em maio de 2022.

    Greensavers (2021). Sete tendências para acelerar um crescimento inclusivo e sustentável em todo o mundo, URL: https://greensavers.sapo.pt/cop26-sete-tendencias-de-sustentabilidade/#, consultado em maio de 2022.

    Mckinsey&Company (2021) Ahead of COP26: Seven sustainability trends to watch—and why they matter, URL: https://www.mckinsey.com/about-us/new-at-mckinsey-blog/ahead-of-cop26-seven-sustainability-trends-most-on-our-minds, consultado em maio de 2022.

    Mckinsey&Company (2021) The case for inclusive growth, URL: https://www.mckinsey.com/industries/public-and-social-sector/our-insights/the-case-for-inclusive-growth, consultado em maio de 2022.

    Sternfels, B., Francis, T., Madgavkar, A., Smit, S., (2021). Our future lives and livelihoods: Sustainable and inclusive and growing, URL: https://www.mckinsey.com/featured-insights/sustainable-inclusive-growth/our-future-lives-and-livelihoods-sustainable-and-inclusive-and-growing , consultado em em maio de 2022.

    BCSD (2022). Principais conclusões dos desafios da década 2020-30: a década da ação, URL: https://bcsdportugal.org/principais-conclusoes-dos-desafios-da-decada-2020-30-a-decada-da-acao/, consultado em maio de 2022.