O futuro da mobilidade urbana: como a micromobilidade está a revolucionar o transporte nas cidades – Parte II
A micromobilidade é um conceito que tem vindo crescer nos últimos anos, especialmente em grandes cidades e, como referido na semana passada (aqui), constitui uma alternativa mais sustentável e eficiente de transporte com inúmeras vantagens, tais como: a sustentabilidade, com veículos movidos a energia elétrica ou humana, menores custos de operação e manutenção, eficiência no trânsito em percursos curtos, benefícios para a saúde e o bem-estar, flexibilidade para adaptar os percursos e horários de acordo com as necessidades individuais e redução da poluição sonora.
Micromobilidade no mundo…
Um pouco por todo o mundo é visível o crescente interesse pela micromobilidade como uma solução para cidades de maiores dimensões. Isso reflete-se não só no crescimento exponencial de empresas deste setor, mas também na adaptação de empresas de outros setores que procuram inserir-se num mercado em expansão. Seguem alguns exemplos:
- A Cooltra nasceu em 2006, em Barcelona, com o compromisso de transformar as cidades em locais mais sustentáveis, seguros e eficientes. A líder em mobilidade sustentável sob duas rodas na Europa, está presente em mais de 50 cidades, espalhadas por oito países e possui 18.000 veículos, entre motas e bicicletas, 75% dos quais elétricos.
- A indústria automóvel também tem vindo a adaptar-se e a investir em plataformas de micromobilidade. A Seat, por exemplo, lançou a marca Mo, que já comercializa três modelos de trotinetes elétricas. De acordo com o diretor da marca, um dos impulsos para esta aposta nasceu do facto de, em alguns países, a percentagem de pessoas que tiram carta de condução ter descido quase 50%. Daqui se pressupõe que, não estando os jovens a tirar a carta, também não vão comprar carro. Ao assistirem ao uso crescente de trotinetes, motas elétricas e outros serviços de mobilidade, a Seat decidiu “entrar no jogo”.
- Nos serviços de mobilidade, como a Uber e a Bolt, as bicicletas e as trotinetes partilhadas deverão gerar um volume de negócios à volta dos 600 mil milhões de euros em 2030 – mais do dobro do valor gerado em 2020 (260 mil milhões de euros), segundo um estudo recém-lançado pelo Oliver Wyman Forum e pelo Instituto de Transportes da Universidade da Califórnia, Berkeley, divulgado pela Bloomberg.
Micromobilidade partilhada em Portugal…
De norte a sul do país, alguns municípios têm vindo a implementar sistemas de partilha de bicicletas, como por exemplo Aveiro (com as Buga) e Cascais (MobiCascais), mas é em Lisboa que encontramos a GIRA um sistema público de bicicletas partilhadas de Lisboa, que não sendo gratuito e sendo gerido pela empresa municipal de mobilidade, a EMEL, serve a população e tem vindo a crescer nos anos mais recentes.
A rede GIRA conta com 130 estações em operação, que representam cerca de 2500 docas para bicicletas. Atualmente, “GIRA” na cidade cerca de 1600 bicicletas, convencionais e elétricas. Desde o seu lançamento, as GIRA já pedalaram mais de 12 milhões de quilómetros, em mais de seis milhões de viagens realizadas na cidade de Lisboa.
A expansão da GIRA em Lisboa está em andamento, com dezenas de estações novas previstas para abrir até o final do ano. As bicicletas disponíveis no sistema estão equipadas com recursos para garantir a melhor experiência para o utilizador, incluindo selim ajustável, pedais resistentes ao desgaste diário, luzes traseiras e dianteiras para viagens noturnas, campainha audível e facilmente alcançável, travões de resposta imediata, suporte para telemóvel e entrada USB para carregar o telemóvel.
Certamente que se levantam algumas questões de gestão dos equipamentos, havendo falhas que poderão ser corrigidas, mas a GIRA é uma opção atraente, conveniente e prática para deslocações na cidade.
A adaptação nem sempre é fácil…
A introdução de novas tecnologias nem sempre ocorre sem problemas. Um exemplo disso são as trotinetes elétricas. A falta de regulamentação clara, o uso inadequado e a falta de regras levam a diversos acidentes e a uma sensação de insegurança nas ruas. Essa situação tem gerado descontentamento entre os moradores urbanos de diversas cidades o seu número tem aumentado.
Recentemente tivemos o maior exemplo deste descontentamento: Paris. Paris foi pioneira na introdução das trotinetes, em 2018, no entanto, uma consulta inédita aos moradores da capital francesa, realizado no início de abril de 2023, os parisienses manifestaram-se por larga maioria (cerca de 90%) contra a presença das trotinetes elétricas na cidade. Os parisienses justificam o seu descontentamento pelo facto de as trotinetes serem abandonadas em qualquer lugar do espaço público, de colidirem com peões nos passeios e pela falta de civismo de alguns utilizadores que atiram trotinetes para o rio Sena, colocando em risco a água devido a metais como o níquel, chumbo e mercúrio. Adicionalmente, os acidentes e as vítimas mortais provocadas por este meio de transporte realçam a vontade de banir os mesmos.
A presidente da Câmara Municipal, Anne Hidalgo, saudou a participação das mais de 100 mil pessoas que se pronunciaram, uma “vitória da democracia local”. Assim, Paris irá tornar-se na primeira capital europeia a banir as trotinetes elétricas partilhadas, assim que os contratos que com as três operadoras privadas Lime, Tier e Dott, terminem. A partir de setembro, não haverá mais serviços de trotinetes partilhadas em Paris.
Será a extinção a melhor opção para o futuro da micromobilidade, ou fará mais sentido regulamentar?
O futuro da micromobilidade
O futuro da micromobilidade urbana parece promissor, mas não está isento de desafios. Embora os benefícios da micromobilidade, como a redução das emissões de carbono e a melhoria do fluxo de tráfego, sejam cada vez mais evidentes, ainda existem questões a serem abordadas, como preocupações com a segurança e a necessidade de uma melhor infraestrutura e regulamentação. No entanto, aprendendo com os erros cometidos com soluções de micromobilidade anteriores, as cidades e governos podem trabalhar para criar um sistema mais sustentável e eficaz.
É provável que continuemos a ver um aumento significativo no uso de opções de micromobilidade e com o avanço contínuo da tecnologia podemos esperar que veículos ainda mais eficientes e seguros sejam desenvolvidos. Além disso, o desenvolvimento de melhores infraestruturas e regulamentação ajudará a garantir que esses novos modos de transporte sejam integrados de forma eficaz nas nossas cidades.
Em geral, o futuro da micromobilidade acabou de começar, mas com inovação e colaboração contínua podemos esperar ver uma mudança significativa na forma como nos deslocamos pelas cidades. Ao abraçar a micromobilidade e trabalhar para criar opções de transporte mais sustentáveis e eficientes, podemos contribuir para um futuro melhor para todos e para o nosso planeta.
Fontes:
IBRAWORK (2022). Micromobilidade Urbana e o Futuro das Smart Cities! URL: https://www.ibra.work/micromobilidade-urbana-e-o-futuro-das-smart-cities/ [Acedido em abril de 2023]
Motor24 (2023). Trotinetes elétricas vão ser expulsas de Paris a partir de setembro. URL: https://www.motor24.pt/noticias/trotinetes-eletricas-vao-ser-expulsas-de-paris-a-partir-de-setembro/1594898/ [Acedido em abril de 2023]
https://www.gira-bicicletasdelisboa.pt/ [Acedido em abril de 2023]