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    O impacte ambiental dos nossos hábitos online

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    O impacte ambiental dos nossos hábitos online

    A Internet transformou radicalmente a forma como comunicamos e acedemos à informação, oferecendo vantagens indiscutíveis em termos de conectividade global. No entanto, esta comodidade vem com um custo ambiental muitas vezes negligenciado. As infraestruturas digitais, como centros de dados, redes de comunicação e dispositivos eletrónicos, consomem grandes quantidades de energia. A maior parte desta energia ainda provém de fontes não renováveis, contribuindo significativamente para para as emissões de gases com efeito de estufa (GEE), representando uma porção crescente da pegada de carbono global.

    O consumo energético e emissões de CO2

    Cada atividade que realizamos online, desde responder a um simples e-mail a transmitir vídeos em alta-definição, implica um consumo de energia. Esta energia é necessária não só para alimentar os dispositivos que utilizamos, como também para operar as vastas redes sem fios e os centros de dados que suportam a Internet. Estes últimos, especialmente intensivos em termos energéticos, estão muitas vezes situados em regiões onde a energia renovável ainda não é predominante. Além do elevado consumo de energia elétrica, os centros de dados requerem também grandes quantidades de água para sistemas de refrigeração, o que contribui significativamente para a sua pegada ecológica.

    Embora a energia requerida para uma única pesquisa na internet ou envio de um e-mail seja reduzida, a verdade é que cerca de 4,1 mil milhões de pessoas, isto é 53,6% da população mundial, utilizam a internet (BBC, 2020). Esses pequenos consumos de energia, quando acumulados, e os GEE emitidos com cada atividade online, tornam-se substanciais. De acordo com algumas estimativas, a pegada de carbono dos nossos dispositivos, da internet e dos sistemas que os suportam é responsável por cerca de 3,7% das emissões globais de GEE. Este valor é comparável ao produzido pela indústria da aviação a nível mundial e espera-se que estas emissões dupliquem até 2025 (BBC, 2020).

    Se dividirmos as 1,7 mil milhões de toneladas de emissões de GEE, que se estima serem produzidas na fabricação e funcionamento das tecnologias digitais, pelo número total de utilizadores da internet em todo o mundo, isso significa que cada um de nós é responsável por 414 kg de dióxido de carbono por ano (BBC, 2020).

     

    Impactes diretos e indiretos no ambiente

    Além do consumo direto de energia, a produção e descarte de dispositivos eletrónicos também tem impactes ambientais significativos. A extração de minerais raros necessários para estes dispositivos, muitas vezes feita sob condições de trabalho questionáveis e com grande impacte negativo ambiental, é apenas o início do ciclo de vida de um dispositivo. A fase de descarte, quando não gerida corretamente, leva à acumulação de lixo eletrónico, que é altamente tóxico e prejudicial ao ambiente.

    O impacte das nossas ações online

    • Mensagens Ecológicas

    A pegada de carbono de um e-mail varia consideravelmente, desde 0,3g de CO2e para um e-mail de spam até 4g de CO2e para um e-mail regular e 50g de CO2e para um e-mail com uma foto ou um anexo grande (Berners-Lee, 2010). Contudo, estudos sugerem que o impacte dos e-mails pode ter aumentado devido ao facto de os dispositivos de agora serem de maiores dimensões (Charlotte et. al., 2021).

    Ações simples podem reduzir este impacte: evitar enviar e-mails desnecessários, como mensagens de “obrigado”, pode poupar toneladas de carbono anualmente; trocar anexos por links e cancelar a subscrição de listas de mailing que não lê são outras formas eficazes de reduzir a pegada digital.

    Figura 2. Pegada de carbono dos vários tipos de e-mail. Fonte: BBC, 2020

     

    • Pesquisas Limpas

    As pesquisas na Internet também têm um impacte ambiental negativo. Há cerca de 15 anos, cada pesquisa tinha uma pegada de 0,2g de CO2e (Hölzle, 2009). De acordo com o Google Environmental Report de 2019, um utilizador médio dos seus serviços – alguém que realiza 25 pesquisas por dia, vê 60 minutos de YouTube, tem uma conta Gmail e acede a outros serviços – produz menos de 8g de CO2e por dia.

    Atualmente, a Google utiliza uma mistura de energia renovável e compensações de carbono para reduzir a pegada de carbono das suas operações, e a Microsoft promete atingir a neutralidade carbónica até 2030. No entanto, outras empresas de pesquisa, como a Ecosia, destacam-se por prometer plantar uma árvore a cada 45 pesquisas.

    Estas iniciativas de compensação de carbono ajudam a remover carbono da atmosfera, embora o sucesso dependa da sustentabilidade a longo prazo das árvores plantadas. Independentemente do motor de busca escolhido, utilizar a web para encontrar informações é mais sustentável do que consultar livros. Um livro de bolso tem uma pegada de carbono de cerca de 1kg de CO2e, enquanto um jornal de fim de semana representa entre 0,3kg e 4,1kg de CO2e, tornando a leitura de notícias online mais amiga do ambiente do que ler em papel (BBC, 2020).

    • Entretenimento online

    Ver vídeos online representa 60% do tráfego de internet mundial e gera 300 milhões de toneladas de CO2 por ano, equivalente a 1% das emissões globais (The Shift Project, 2019). Serviços de vídeo on-demand, como Amazon Prime e Netflix, consomem uma grande parte dessa energia. A Netflix, por exemplo, consome 451 000 megawatts-hora de energia por ano, suficiente para abastecer 3 000 casas, mas utiliza certificados de energia renovável para compensar o consumo de energia proveniente de fontes fósseis (BBC, 2020).

    Estudos calculam que 5 mil milhões de reproduções do vídeo “Despacito” consumiram tanta eletricidade quanto o Chade, a Guiné-Bissau, a Somália, a Serra Leoa e a República Centro-Africana juntas num ano. Destaca-se assim que as músicas “virais” podem representar uma parte significativa do impacte ambiental negativo das nossas ações online (Smith, 2018). Ajustar as definições de reprodução automática e reduzir a resolução dos vídeos pode ajudar a diminuir a nossa pegada de carbono.

    A transmissão de áudio é menos problemática em termos energéticos, mas investigadores da Universidade de Oslo afirmam que o impacte ambiental de ouvir música está mais alto do que nunca. Comprar CDs pode ser mais sustentável se ouvirmos o mesmo álbum repetidamente, mas o streaming é preferível se ouvirmos uma música menos de 27 vezes (University of Glasgow, 2019).

    Os jogos online e as atualizações frequentes também consomem muita energia. Jogar via streaming, como através do Google Stadia, utiliza mais energia do que jogar em consolas individuais. No entanto, jogos multiplayer como Fortnite, têm uma pegada de carbono relativamente baixa devido ao menor tráfego de dados necessário (BBC, 2020).

    Para ajudar a poupar energia e reduzir emissões de carbono, podemos desligar backups automáticos na cloud e desativar atualizações automáticas de apps. Pequenas mudanças no nosso comportamento digital podem ter um impacte significativo no ambiente.

     

    A questão da Inteligência Artificial

    A questão do impacte ambiental da Inteligência Artificial (IA) está a ganhar cada vez mais relevância. O aumento no consumo de energia nos centros de dados, essenciais para as capacidades computacionais e de armazenamento necessárias ao desenvolvimento e implementação de modelos de IA, é uma preocupação crescente. Destaca-se então que, com a utilização mais ampla destas aplicações e funcionalidades da IA, o consumo de energia aumentará significativamente.

    Um exemplo inquietante é o aumento de 30% nas emissões de carbono da Microsoft desde 2020, atribuído ao desenvolvimento de tecnologias de IA. Esta situação apresenta um desafio à meta da empresa de alcançar a neutralidade carbónica até 2030. Brad Smith, presidente da Microsoft, numa entrevista à Bloomberg, reconheceu que, embora os benefícios da IA possam superar os seus impactes ambientais, alcançar a neutralidade carbónica será mais desafiador do que inicialmente previsto. Ele sugeriu que a Microsoft terá de acelerar o desenvolvimento de tecnologias com baixo teor de carbono, como aço e betão ecológicos e chips eficientes em termos energéticos (Rathi & Bass, 2024).

     

    A responsabilidade partilhada na era digital

    Numa era definida pela interconexão digital, é imperativo que tanto consumidores quanto empresas reconheçam e enfrentem os impactes ambientais negativos dos hábitos digitais. As decisões individuais, como reduzir o envio de e-mails desnecessários, desligar backups automáticos na cloud e ajustar as definições de reprodução automática, têm o potencial de mitigar a pegada de carbono associada ao uso diário da tecnologia.

    Por outro lado, as empresas e organizações, detêm uma parcela significativa da responsabilidade. Devem liderar pelo exemplo, não apenas cumprindo regulamentos ambientais, mas ultrapassando-os através do investimento em tecnologias inovadoras e sustentáveis. O desenvolvimento de infraestruturas mais verdes, como centros de dados alimentados por energia renovável e a produção de dispositivos mais eficientes e facilmente recicláveis, são etapas essenciais para a redução do impacte ambiental.

    Além disso, o setor tecnológico deve trabalhar ativamente para desenvolver soluções que diminuam o consumo energético e aumentem a eficiência, enquanto promovem a transparência sobre o impacte ambiental de seus produtos e serviços. Esta mudança não só é crucial para proteger o meio ambiente, mas também para construir uma relação de confiança e responsabilidade com os utilizadores e consumidores globais.

     

    Referências

    BBC. (2018). Climate change: “Unprecedented” global action needed to meet targets. BBC News. URL: https://www.bbc.com/news/technology-45798523. [Acedido em junho de 2024]

    BBC. (2020). Why your internet habits are not as clean as you think. BBC Future. URL: https://www.bbc.com/future/article/20200305-why-your-internet-habits-are-not-as-clean-as-you-think. [Acedido em junho de 2024]

    Berners-Lee, M. (2010). How bad are bananas?: The carbon footprint of everything. Profile.

    Freitag, C., Berners-Lee, M., Widdicks, K., Knowles, B., Blair, G., & Friday, A. (2020). The climate impact of ICT: A review of estimates, trends and regulations. Small World Consulting Ltd & School of Computing and Communications, Lancaster University.

    Google. (2019). Google environmental report 2019. Google LLC.

    Green e-Fact. (2024). Qual o impacto da internet no meio ambiente? URL: https://greenefact.sapo.pt/descodificador/qual-o-impacto-da-internet-no-meio-ambiente/. [Acedido em junho de 2024]

    Hölzle, U. (2009, January 11). Powering a Google search. Official Google Blog.

    Jornal de Negócios. (2024). Microsoft em risco de incumprimento de metas ambientais por desenvolvimento da IA. URL: https://www.jornaldenegocios.pt/sustentabilidade/ambiental/detalhe/microsoft-em-risco-de-incumprimento-de-metas-ambientais-por-desenvolvimento-da-ia. [Acedido em junho de 2024]

    Smith, J. (2018, October 8). Climate change: Is your Netflix habit bad for the environment?. BBC News. URL: https://www.bbc.com/news/technology-45798523 [Acedido em junho de 2024]

    The Shift Project. (2019). Unsustainable use of online video. URL: https://theshiftproject.org/en/article/unsustainable-use-online-video/. [Acedido em junho de 2024]

    University of Glasgow. (2019). Playing video games may be good for your wellbeing, University of Glasgow study finds. URL: https://www.gla.ac.uk/news/archiveofnews/2019/april/headline_643297_en.html. [Acedido em junho de 2024]

    University of Glasgow. (2019, April 8). Music consumption has unintended economic and environmental costs. University of Glasgow News. URL: https://www.gla.ac.uk/news/archiveofnews/2019/april/headline_643297_en.html. [Acedido em junho de 2024]

    uSwitch. (2021). The songs that have caused the most carbon emissions. URL: https://www.uswitch.com/gas-electricity/the-songs-that-have-caused-the-most-carbon-emissions/ . [Acedido em junho de 2024]