O papel do consumidor no combate ao desperdício alimentar
A evolução do sistema alimentar dos últimos anos, nas fases de produção e transformação, permitiu a diversificação e uma maior abundância de todos os tipos de bens alimentares nas sociedades desenvolvidas.
Maior diversidade, infelizmente, parece significar maior desperdício, conduzindo à necessidade de mais e melhores estratégias de combate ao mesmo. Segundo a Food and Agriculture Organization (FAO), um terço dos alimentos produzidos anualmente encontra o seu destino no lixo, sendo que o principal responsável por este facto, é o consumidor final.
Como reduzir o desperdício de alimentos?
Facto é que, nos países de médios e elevados rendimentos, uma parte do problema poderá ser resolvido em casa, pelos agregados familiares, sem recurso a organizações e/ou entidades oficiais, precisando para isso apenas dos seus próprios recursos. É preciso bem mais do que a disseminação de estatísticas e um conjunto de receitas para aproveitamento de “restos” para motivar e clarificar as pessoas e trabalhar rumo ao objetivo do desperdício zero. É necessário combater mitos alimentares, clarificar dúvidas e desvanecer receios, assim como informar e esclarecer assuntos relacionados com a alimentação.
Desde a preparação de uma lista de compras ao saber ler as datas de validade: Educação é a chave!
A educação é a primeira solução necessária para o combate do desperdício alimentar em casa. Ensinar crianças (e adultos) a planear refeições semanais e a preparar listas de compras são algumas das boas práticas que podem ajudar na compra de quantidades ajustadas às necessidades do agregado familiar e, consequentemente, limitar ao mínimo o desperdício alimentar.
Outras sugestões para uma vida com menos desperdício são:
- Aproveite as promoções, MAS avalie sempre se os alimentos com desconto são mesmo necessários: podem ser mais baratos, mas se não forem consumidos, o barato irá sair mais caro – sobretudo para o ambiente;
- Faça compras com maior frequência e compre menor quantidade de cada vez, assim evita o desperdício de alimentos esquecidos no frigorífico e na despensa;
- Evite ir às compras com fome para que não faça a aquisição de produtos desnecessários e por impulso;
- Sempre que possível compre produtos a granel, locais, feios e deformados;
- Cumpra as instruções das embalagens dos produtos (p.ex. temperatura);
- Após a abertura das embalagens coloque os alimentos em recipientes herméticos;
- Arrume os alimentos com prazo de validade mais curto à frente dos restantes, para garantir que são consumidos primeiro;
- Guarde as conservas ou enlatados no frigorífico depois de abertos;
- Guarde as sobras alimentares na zona mais fria do frigorífico, bem acondicionados.
Os rótulos das embalagens são, desde sempre, um grande problema. As datas de validade não são todas iguais e saber distingui-las pode ajudar a diminuir o desperdício alimentar. É isto que mostra a campanha da Associação Portuguesa de Empresas de Distribuição (APED).
Veja o vídeo da campanha e fique a saber a diferença entre “Consumir até”, “Consumir de preferência antes de” e “Consumir de preferência antes do fim de”:
Criação de iniciativas locais para evitar o desperdício alimentar
Existem várias iniciativas, em Portugal, que trabalham para evitar o desperdício de alimentos ao longo de toda a cadeia de abastecimento alimentar
- A ReFood é uma associação sem fins lucrativos que, voluntariamente, recolhe os alimentos, tais como sobras de refeições e alimentos que se aproximam do fim da data de validade. Estes alimentos são recolhidos em a supermercados, restaurante, cafés, hospitais e hotéis para depois serem distribuídos por famílias carenciadas;
- A cooperativa Fruta Feia trabalha diretamente com os agricultores para escoar as frutas e legumes que não cumprem a Normalização, ou seja, o conjunto de regras de calibre, cor e formato;
- O GoodAfter.com é um supermercado online que se dedica à venda de produtos que se encontram perto do fim do prazo de consumo preferencial, ou mesmo ultrapassado desse prazo;
- A Too Good to Go é uma app que permite comprar comida ótima, a um preço reduzido, que iria ser desperdiçada em supermercados, cafés e restaurantes.
EM SUMA…
Uma sociedade que é de consumo é, também, de desperdício. Alertar é crucial, mas não chega. É importante que as pessoas compreendam que o problema não é apenas ético e económico, mas que está também relacionado com a diminuição dos recursos naturais.
Todos os agentes da cadeia alimentar têm um papel a desempenhar na prevenção e redução do desperdício alimentar, desde aqueles que o produzem até ao consumidor final. Cada individuo deve acreditar na sua capacidade de combater o desperdício alimentar e envolver-se ativamente na promoção de uma alimentação saudável e sustentável, que contribua para a diminuição do desperdício alimentar e para a sustentabilidade dos recursos naturais. Está ao alcance de todos nós.
Fontes:
APED. (2021) Datas de validade: Saber a diferença, faz a diferença. Disponível em http://aped.pt/documentacao/, acedido a 17/05/2021
APN. (2017). Alimentar o futuro: uma reflexão sobre sustentabilidade alimentar. E-book n.° 43. Porto: Associação Portuguesa de Nutrição.
Delgado, C. (2020). Alimentar Boas Práticas: Da Produção ao Consumo Sustentável 2020. Lisboa: CICS.NOVA – Centro Interdisciplinar de Ciências Sociais. FCSH, Universidade Nova de Lisboa
Dissertação para obtenção do Grau de Mestre em Ciências Gastronómicas na FCT: UNH.
Fonseca, V. (2018). Estratégias De Combate Ao Desperdício Alimentar Para O Consumidor Final.
Garcia, I. (2019). Da Mercearia para o Prato. Lisboa, UFMMA-2019
Pires, I. (2018). Desperdício Alimentar. Lisboa: Fundação Francisco Manuel dos Santos