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    Obsolescência precoce vs. programada vs. percebida

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    Obsolescência precoce vs. programada vs. percebida

    Desde 1901, está ligada uma lâmpada num quartel de bombeiros de uma pequena cidade californiana, Livermore. Trata-se de um pequeno e vulgar exemplo com cerca de 120 anos, criado por um dos pioneiros da eletricidade – Adolphe Chaillet – o que se tornou numa enorme curiosidade numa atualidade em que as lâmpadas se fundem com facilidade.

    Afinal, o que mudou? A durabilidade dos materiais e produtos tem aberto grandes debates acerca de como as empresas alteraram as suas estratégias de comercialização. Esta comercialização tem sofrido constantes evoluções, o que leva os consumidores a caminhar ao ritmo das mesmas, isto é, a manterem-se sempre atualizados e informados acerca dos últimos modelos que saem no mercado.

    O que é a obsolescência?

    A obsolescência consiste na “desclassificação tecnológica do material industrial, motivado pela aplicação de um material mais moderno”. Sendo o resultado natural do desenvolvimento tecnológico e digital, esta torna-se um problema quando se manifesta de forma precoce, quando é programada ou percebida.

    Quer na situação “precoce” quer na “programada”, a desatualização dos equipamentos eletrónicos ocorre num período temporal anterior ao expectável face à normal vida útil desse tipo de equipamentos. A diferença entre as duas situações reside na intencionalidade de tal fenómeno, uma vez que a obsolescência programada é, como o nome indica, determinada pelos próprios produtores dos equipamentos, como forma de promover a aquisição pelos consumidores dos novos produtos, à medida que são colocados no mercado. A obsolescência programada engloba também as práticas comerciais caracterizadas por tornar um equipamento eletrónico menos eficaz e funcional. A título de exemplo, tal ocorre quando as atualizações de software tornam um smartphone mais lento.

    Por outro lado, a obsolescência percebida é um fenómeno de marketing e/ou design utilizado para estimular o consumo em que o produto ou serviço, que funciona perfeitamente, passa a ser considerado obsoleto devido ao surgimento de uma nova versão, com estilo diferente ou com alteração na linha de montagem.

    A rápida substituição de bens duráveis e atitudes dos consumidores face à obsolescência

    A arma principal do consumismo da sociedade em crescimento é a obsolescência programada (Silva, 2012). Os objetos são produzidos propositadamente para durarem pouco e os aparelhos deixam de funcionar devido a uma avaria planeada, com a impossibilidade de ser reparada e sucessivamente ser mais cara do que comprar um equipamento novo.

    Num estudo em que analisa a atitude dos consumidores face a um produto obsoleto, Fels et al. (2016) verificaram que o consumidor se apercebe da obsolescência do produto aquando duma diminuição da funcionalidade ou desgaste do mesmo, como também na alteração das necessidades do próprio cliente. Além disso, apurou que a fidelização dos consumidores (recompra do produto) está diretamente ligada à obsolescência do produto, bem como o tempo de vida útil nas mãos do consumidor.

    Relativamente às perspetivas dos consumidores face à longevidade dos seus próprios produtos, Troger et al. (2017) concluiu que, em geral, as pessoas mais novas têm tendência a usar os seus produtos por menos tempo, podendo o efeito da geração poder influenciar esse tipo de comportamento. No entanto, Troger et al. (2017) também concluiu que a forte pressão feita pelos fabricantes, através de estratégias de marketing e outros ciclos de inovação, leva a sociedade a substituir rápido os seus produtos, especialmente no caso dos telemóveis.

    Impactes da obsolescência precoce, programada e percebida

    O combate à obsolescência precoce integra a estratégia da UE no domínio da transição ecológica, como mencionado na Nova Agenda do Consumidor da UE, no Novo Plano de Ação para a Economia Circular e na Estratégia digital “Construir o futuro digital da Europa”.

    Entre estas destaca-se a “Iniciativa sobre a Eletrónica Circular”, incluída no Novo Plano de Ação para a Economia Circular, que visa garantir que os dispositivos eletrónicos são concebidos tendo em vista a durabilidade, manutenção, reparação, desmontagem, desmantelamento, reutilização e reciclagem, e que os consumidores têm um “direito de reparação”, incluindo atualizações de software.

    Em novembro de 2020, o Parlamento Europeu aprovou uma resolução para conceder ao consumidor o direito à reparação, revenda e reutilização. O objetivo é combater as práticas que reduzem o tempo de vida útil dos equipamentos, prolongando a garantia, concedendo garantias a peças de substituição, melhorando o acesso à informação de reparação e manutenção e criando um rótulo indicativo da durabilidade do produto.

    Apenas no espaço europeu o crescimento de resíduos elétricos e eletrónicos aumenta 3 a 5% por ano. A estimativa para 2021 era que se atingisse, na Europa, o patamar dos 12 milhões de toneladas, sendo que ao nível europeu apenas 35% destes resíduos são encaminhados para sistemas oficiais de recolha e reciclagem, segundo a Euromonitor.

    Os impactes da obsolescência precoce, programada e percebida manifestam-se em várias áreas, destacando-se a ambiental. Por um lado, este fenómeno tipicamente capitalista tem repercussões ambientais muito significativas, na medida em que promove uma produção exagerada de equipamentos eletrónicos, tornando descartáveis equipamentos perfeitamente funcionais. A constante substituição de equipamentos pelo modelo mais recente produz uma enorme quantidade de resíduos desnecessários e bem sabemos que a redução de produção de resíduos é o primeiro e mais importante passo para uma economia sustentável.

    Segundo Pinto (2015), um dos grandes exemplos destes danos ambientais é o rio Agbogbloshie no Gana e o deserto de Atacama, no Chile, para onde são exportados os resíduos elétricos e eletrónicos de países com elevados rendimentos, situação que tem de ser combatida.

    O combate à obsolescência precoce, programada e percebida é cada vez mais necessária e urgente pela vertente ecológica e sustentável do consumo, mas também pela vertente social. A mudança só acontecerá com a união de todos os elementos da cadeia produtiva, incluindo a sociedade. Para isso, precisamos praticar o consumo consciente!

    Fontes:

    Deco Proteste (2021). Obsolescência prematura. URL: https://www.deco.proteste.pt/contra-obsolescencia-prematura [consultado em 28-11-2020].

    Dicionário Priberam da Língua Portuguesa [em linha], 2008-2020, https://dicionario.priberam.org/obsolesc%C3%AAncia [consultado em 28-11-2020].

    Fels, A., B. Falk, e R. Schmitt (2016). Social Media Analysis of Perceived Product Obsolescence. Procedia CIRP, Vol. 50, pp. 571-576.

    Ferreira, J. F. (2021). Nova Agenda do Consumidor, obsolescência precoce e obsolescência programada. Nova Consumer Lab. URL: https://novaconsumerlab.novalaw.unl.pt/nova-agenda-do-consumidor-obsolescencia-precoce-e-obsolescencia-programada-2/ [consultado em 28-11-2020].

    Pinto, R. F. (2015). Obsolescência Programada. Lisboa. Universidade EuropeiaLaureate International Universities. Doctoral dissertation in Management and Business Strategy.

    Silva, M. B. (2012). Obsolescência programada e teoria do decrescimento versus direito ao desenvolvimento e ao consumo (sustentáveis). Veredas do Direito: Direito Ambiental e Desenvolvimento Sustentável, Vol. 9, Nº17, pág. 181.

    Soares, F. (2017). A obsolescência programada nos telemóveis.

    Tröger, N., H. Wieser, e R. Hübner (2017), Smartphones are replaced more frequently than t-shirts.