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    Os incêndios e o contexto das Alterações Climáticas

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    Os incêndios e o contexto das Alterações Climáticas

    Na semana anterior, abordámos o fogo como problema e a importância da sua gestão integrada, referindo a missão da Agência para a Gestão Integrada dos Fogos Rurais (AGIF) na implementação e funcionamento do Sistema de Gestão Integrada de Fogos Rurais (SGIFR), que tem por objetivo a redução do impacto dos incêndios rurais. Também esclarecemos a diferença entre os conceitos de fogo e incêndio. O texto desta semana versa na temática dos incêndios e a sua relação com as alterações climáticas.

    Incêndios de origem natural e antropogénica

    Os incêndios constituem um fenómeno próprio de várias regiões, incluindo as que apresentam clima mediterrânico, como Portugal. Efetivamente, a coincidência da época mais seca do ano com a época mais quente faz com que se reúnam condições propícias para a ignição e propagação de incêndios nestas regiões. Convém relembrar que em épocas anteriores à ocupação humana, os incêndios já ocorriam naturalmente, em grande parte devido à ignição provocada por “trovoadas secas”.

    Com o início da utilização do fogo pelo Homem, os incêndios passaram a ter uma causa adicional e, consequentemente, ciclos de ocorrência muito mais curtos. A título de exemplo, ao longo da Bacia Mediterrânica, a utilização do fogo para desbravar terras ou para renovar os pastos para o gado foram sendo cada vez mais frequentes à medida que as diferentes civilizações evoluíam e que a população aumentava.

    Assim, é essencial ter em conta as limitações da utilização do fogo, sendo que o principal aspeto é a meteorologia, nomeadamente a temperatura, o vento e a humidade. Por um lado, importa assegurar que o fogo esteja sob controlo, e, por outro, tentar minimizar o seu impacte negativo no arvoredo e no solo. A velocidade de propagação da chama é um dos fatores críticos mais relevantes a ter em consideração na propagação do fogo, além da natureza das espécies que constitui a vegetação da área em causa, a sua inflamabilidade (parâmetro diretamente relacionado com o teor de humidade, a presença de substâncias voláteis, como resinas e óleos essenciais, e a superfície específica do material), assim como o seu poder calorífico. As folhas e os ramos finos das plantas são os tipos de combustíveis que irão influenciar o comportamento do incêndio.

    Observando o gráfico da Figura 1, que mostra a distribuição da área ardida por tipo de ocupação do solo entre 1995 e 2020, verifica-se que os incêndios têm consumido mais áreas de matos e pastagens do que floresta. Contudo, nos últimos cinco anos, constata-se uma tendência para o aumento da proporção de floresta afetada, tal como nos anos de 2003 e 2005, onde se registou uma elevada proporção de área florestal ardida.

    A Floresta Mediterrânica é constituída por espécies autóctones, entre as quais, por exemplo o carvalho-português (Fagus sylvatica) ou o sobreiro (Sorbus aria) e espécies exóticas das quais algumas são invasoras. As espécies invasoras são uma ameaça para as espécies nativas colocando em risco o seu equilíbrio e, por vezes, existência. Em caso de incêndio, algumas das plantas invasoras têm características de adaptação ao fogo, em que o fogo estimula a germinação das sementes, como são os casos da acácia-de-espigas (Acacia longifolia) e da mimosa (Acacia dealbata), e a abertura dos frutos (e posterior dispersão), como é o exemplo da háquea-picante (Hakea sericea). Desta forma, é fundamental preservar a Floresta Autóctone, que embora de crescimento mais lento, quando bem desenvolvida, é normalmente mais resiliente aos incêndios florestais, formando uma barreira natural.

    Figura 1. Incêndios rurais em Portugal Continental: Ocupação do solo [Fonte: ICNF, 2021; APA, 2022]
    Nota: A partir de 2001 são incluídos os incêndios em explorações agrícolas.

    Os incêndios florestais e os seus impactes

    Os incêndios florestais podem gerar impactes negativos essencialmente em três vetores: na água, no solo e na qualidade do ar.

    Ao nível da água, um incêndio florestal pode afetar seriamente o ciclo hidrológico, gerando perda de vegetação e de matéria orgânica assim como mudanças nas propriedades do solo, o que poderá resultar na diminuição das taxas de infiltração no solo e no elevado escoamento.

    A perda de solo por erosão é outra consequência grave deste tipo de incêndios. O solo é um recurso que, por si só, demora a regenerar, por isso, a degradação das suas características iniciais e a perda de nutrientes e de partículas finas provocadas pela erosão poderão tornar a regeneração num processo extremamente lento. Quanto maior a frequência de incêndios numa dada área, maior poderá ser a severidade na degradação do solo. Se o período entre a ocorrência de incêndios não permitir que a floresta recupere naturalmente, a degradação do solo da área poderá ser progressiva.

    Desde os primórdios que os incêndios florestais têm um impacte imediato na qualidade do ar. No momento do incêndio, são libertados gases tóxicos para a atmosfera incluindo o dióxido de carbono e partículas perigosas derivadas da queima incompleta de biomassa, o que poderá resultar no aumento da poluição do ar da zona em causa.

    A Previsão do Risco de Incêndio e as Alterações Climáticas

    Em 2007, após uma fase experimental de 5 anos, a rede European Forest Fire Information System (EFFIS) adotou a Previsão Canadiana Fire Weather Index (FWI) como o método padrão para estimar o risco de incêndio em toda a Europa. O FWI é um índice baseado na meteorologia (temperatura, vento e humidade) que consiste em diferentes componentes que contabilizam os efeitos da humidade do combustível e do vento no comportamento e na propagação do fogo. Quanto maior o FWI, mais favoráveis são as condições meteorológicas para desencadear um incêndio.

    Com a análise da Figura 2 e da Figura 3, é possível verificar que, no global, existe uma tendência para os valores de FWI serem mais altos, considerando os períodos de 1981-2005 e de 2021-2040, havendo a possibilidade de maior risco de incêndio no futuro.

    Figura 2. FWI de acordo com a classificação da EFFIS – Risco médio de incêndio na época de junho a setembro no clima atual (1981-2005) [Fonte: Climate Copernicus, 2022]
    Nota: Branco: FWI muito baixo; Vermelho: FWI extremo
    Figura 3. FWI de acordo com a classificação da EFFIS – Risco médio de incêndio na época de junho a setembro num futuro próximo (2021-2040) [Fonte: Climate Copernicus, 2022]
    Nota: Branco: FWI muito baixo; Vermelho: FWI extremo

    O aquecimento global, resultante do aumento da temperatura média do planeta causado pelas elevadas concentrações de gases de efeito de estufa lançados para a atmosfera, tem contribuído para o fenómeno das alterações climáticas que todos conhecemos.

    Sendo a temperatura um dos fatores da meteorologia que influencia diretamente a ocorrência de incêndios, com o aumento da temperatura média global (ver Figura 4), a probabilidade de ocorrência de incêndios poderá ser cada vez maior.

    Figura 4. Temperatura anual da superfície em comparação com a média do século XX (1901-2000) de 1880 a 2020  [Fonte: Gráfico NOOA Climate.gov baseado em dados dos Centros Nacionais de Informação Ambiental, 2022]
    Nota: As barras azuis indicam anos mais frios que a média, e as barras vermelhas mostram anos mais quentes que a média

    O cenário das alterações climáticas juntamente com uma maior ocorrência de incêndios florestais não é animador, mas a inversão da tendência ainda é possível! Na próxima semana abordaremos uma das ferramentas que já existe e que pode ser o início de uma solução para este problema.

    Fontes:

    APA (2022). Relatório do Estado do Ambiente – Incêndios Rurais. URL: https://rea.apambiente.pt/content/inc%C3%AAndios-rurais [consultado em julho de 2022];

    CAREFOREST. E-book – Fire. URL: https://www.careforest.eu/e-book/ [consultado em julho de 2022];

    Climate Copernicus. Fire Weather Index. URL:  https://climate.copernicus.eu/fire-weather-index [consultado em julho de 2022];

    Climate.gov. Climate Change: Global Temperature. URL: https://www.climate.gov/news-features/understanding-climate/climate-change-global-temperature [consultado em julho de 2022].

    Direção-Geral das Florestas (DGF) [Atual ICNF] (2002). Manual de Silvicultura para a Prevenção de Incêndios – Caderno I, Caderno III, Caderno XI. Lisboa. Acesso: https://www.icnf.pt/oquefazemos/boaspraticas/defesadaflorestacontraincendios [consultado em julho de 2022];

    EFFIS.JRC. Fire Danger Forecast. URL: https://effis.jrc.ec.europa.eu/about-effis/technical-background/fire-danger-forecast [consultado em julho de 2022];

    Florestar.pt. Espécies autóctones. URL: https://www.florestar.net/esp%C3%A9cies-aut%C3%B3ctones [consultado em julho de 2022];

    Invasoras.pt. Fogo e plantas invasoras. URL: https://invasoras.pt/pt/fogo-e-plantas-invasoras [consultado em julho de 2022];

    Quercus.pt. O que é uma floresta autóctone. URL: https://quercus.pt/2021/03/08/o-que-e-uma-floresta-autoctone/ [consultado em julho de 2022].