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    Secas

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    Secas

    De forma mais ou menos aprofundada, todos estamos familiarizados com o Ciclo da Água. Ao longo de todas as etapas e nos seus diferentes estados físicos, a água circula perpetuamente e transforma-se, mas nunca se perde. Uma demonstração clara da economia circular.

    Sendo uma certeza que a água circula, esta nem sempre está onde é mais precisa e, muitas vezes, com a qualidade necessária. Há um tempo necessário para o funcionamento de todo este ciclo. As fontes de água levam o seu tempo para se regenerarem, pelo que é preciso compreender os seus ritmos e as suas condicionantes, para gerir consumos. O clima e a atividade humana influenciam e pressionam o ciclo de cada bacia hidrográfica que, em situações de desequilíbrio, é interrompido enquanto ciclo local. Fica em suspenso até recuperar o nível de água necessário para poder continuar. Por isso, e para evitar interrupções no abastecimento de água é preciso medir, monitorizar e gerir, enquanto indivíduos e comunidade.

    As situações de seca constituem uma ocorrência natural associada essencialmente à falta de precipitação, que se verifica todos os anos em diversas regiões do mundo. Contrariamente aos outros desastres naturais, que geralmente atuam de forma rápida e com impactes imediatos, a seca é o desastre natural de origem meteorológica e climatológica mais complexo e que afeta mais pessoas e durante mais tempo do que qualquer outro.

    Seca

    Para falar de riscos no acesso à água importa começar por distinguir uma situação de seca, que decorre de um défice anormal de precipitação, de uma situação de escassez, que deriva de um défice estrutural de água.

    A escassez ou stress hídrico pressupõe uma procura acima das disponibilidades de água acessível e com qualidade numa determinada área ou região. Mais do que uma simples questão de procura superior à oferta, trata-se de avaliar a capacidade de um país responder às necessidades previstas para o recurso e garantir a qualidade necessária para a sua utilização.

    De uma forma geral, a seca é considerada uma condição física transitória, associada a períodos mais ou menos longos de reduzida precipitação, com repercussões negativas nos ecossistemas e nas atividades socioeconómicas.

    A definição de seca depende do ponto de vista do utilizador. Em geral distingue-se entre seca meteorológica, agrícola, hidrológica, agrometeorológica e socioeconómica.

    Seca meteorológica

    Uma medida do desvio da precipitação em relação ao valor normal, que se caracteriza pela falta de água induzida pelo desequilíbrio entre a precipitação e a evaporação, a qual depende de outros elementos, como a velocidade do vento, temperatura, humidade do ar e insolação.

    Este tipo de seca está dependente da região, uma vez que as condições atmosféricas que resultam em deficiências de precipitação podem ser muito diferentes entre zonas.

    Seca agrícola

    A seca agrícola está associada à falta de água causada pelo desequilíbrio entre a água disponível no solo, a necessidade das culturas e a transpiração das plantas. Este tipo de seca está relacionado com os sistemas agrícolas em geral, incluindo as características das culturas, da vegetação natural, entre outros fatores.

    Seca hidrológica

    A seca hidrológica está associada ao estado de armazenamento das albufeiras, lagoas, aquíferos e das linhas de água. De uma forma simples, está relacionado com a redução dos níveis médios das águas superficiais e subterrâneas e com a depleção de água no solo.

    Este tipo de seca está normalmente desfasado da seca meteorológica, dado que é necessário um período maior para que as deficiências na precipitação se manifestem nos diversos componentes do sistema hidrológico.

    Seca agrometeorológica

    Este tipo de seca é a conjugação da seca meteorológica e da seca agrícola, uma vez que existe uma relação de causa-efeito entre elas. Desta forma, a falta de água induzida pelo desequilíbrio entre a precipitação e a evaporação irá ter consequências diretas na disponibilidade de água no solo e consequentemente na produtividade das culturas.

    Seca socioeconómica

    A seca socioeconómica está associada ao efeito conjunto dos impactes naturais e sociais que resultam da falta de água, devido ao desequilíbrio entre o fornecimento e a procura dos recursos de água e que vai afetar diretamente as populações.

    Figura 1 – Esquema da sequência temporal dos diversos tipos de seca (IPMA, 2022)

     

    Índices de Seca

    Uma situação de seca ou de chuva pode ser quantificada por diferentes índices meteorológicos, os quais permitem determinar o respetivo grau de intensidade. A gestão de uma situação de seca é realizada por meio de sistemas de prevenção, monitorização e coordenação em que são utilizadas diferentes metodologias, consoante o tipo de seca que ocorra.

    Em Portugal, a monitorização da seca meteorológica é realizada pelo Instituto Português do Mar e da Atmosfera (IPMA) através do Índice Palmer ou PDSI (Palmer Drought Severity Index) e do índice SPI (Standardized Precipitation Index).

    O índice PDSI representa uma medida da intensidade da seca (chuva) e responde a condições do tempo que estiveram anormalmente secas ou anormalmente chuvosas. Deteta períodos de seca e classifica-os em termos da sua intensidade. O seu cálculo baseia-se no cálculo dos elementos do balanço hídrico, utilizando dados de temperatura média mensal, precipitação total mensal e conteúdo de água no solo. A aplicação deste índice permite detetar a ocorrência de períodos de seca e classifica-os em termos de intensidade (fraca, moderada, severa e extrema).

    O índice SPI quantifica o défice ou o excesso de precipitação em diferentes escalas temporais, que refletem o impacte da seca nas disponibilidades de água. Permite quantificar o défice de precipitação em diferentes escalas temporais: 1, 2, 3, 6, 9, 12…. meses, que refletem o impacte da seca na disponibilidade das diferentes fontes de água. O cálculo do SPI para qualquer local é baseado em séries longas da precipitação.

    As menores escalas, até 6 meses, remetem à seca meteorológica e agrícola (défice de precipitação e de humidade no solo, respetivamente) e entre 9 e 12 meses à seca hidrológica com escassez de água refletida no escoamento superficial e nas albufeiras.

    Figura 2 – Classes de seca de acordo com o índice PDSI e SPI (APA, 2021)

    Os níveis de alerta para a seca agrometeorológica correspondem às seguintes descrições dos índices PDSI e SPI:

    • Nível A.1 – “Pré-Alerta”: PDSI em seca moderada e SPI fraca a moderada;
    • Nível A.2 – “Alerta”: PDSI em seca severa e SPI moderada a severa;
    • Nível A.3 – “Emergência”: PDSI em seca extrema e SPI moderada a severa.

    Seca em números

    A seca é uma preocupação crescente na Europa, com particular relevância nas regiões desertificadas do interior sudeste de Portugal e Espanha, onde a sua duração, frequência e severidade são cada vez maiores e os seus efeitos se mantém muito para além do seu término.

    Um dos impactes mais gravosos das alterações climáticas é precisamente o que respeita ao aumento da frequência e severidade de períodos de seca e escassez de água. De acordo com o Copernicus Climate Change Service o ano de 2019 na Europa foi o mais quente alguma vez registado, com uma anomalia de temperatura média do ar de 1,24 °C.

    A monitorização da seca na Europa é assegurada pelo Observatório Europeu para a Seca (EDO – European Drought Observatory).

    O Indicador de Seca Combinado (CDI) calculado por este Observatório e que é baseado no índice meteorológico de seca (SPI), humidade do solo e a fração da energia solar absorvida pelas folhas (fAPAR), que é medida por satélite, tem servido para identificar áreas que estão em potencial risco de sofrer secas agrícolas, áreas onde a vegetação já é afetada por condições de seca, e áreas em condições normais.

    Como se pode verificar pela Figura 3, em meados de janeiro de 2022 as áreas afetadas pela seca estavam localizadas na maior parte das regiões do sul da Europa, mais concretamente em Portugal e Espanha.

    Figura 3 – Indicador de Seca Combinado (CDI) na Europa no dia 11 janeiro de 2022 (EDO, 2022)
    Nota: Amarelo: Vigilância-déficit de precipitação; Laranja e Vermelho: Aviso-déficit da humidade do solo; Verde: recuperação parcial da vegetação; Branco: recuperação total da vegetação, condições normais.

    A frequência de situações de seca meteorológica que se tem verificado em Portugal Continental nas últimas décadas, com a possibilidade de poderem vir a ser agravadas com o efeito das alterações climáticas, implica um aumento do risco e da vulnerabilidade a este fenómeno, o que poderá provocar um incremento dos seus impactes, ao nível da disponibilidade hídrica e consequentemente ao nível dos ecossistemas e dos usos existentes, com particular incidência no sector agrícola e, consequentemente, ao nível económico e social.

    Fontes:

    APA (2021a). Prevenção e gestão de riscos: secas. URL: https://apambiente.pt/prevencao-e-gestao-de-riscos/secas [consultado a fevereiro de 2022]

    APA (2021b). Relatório do Estado do Ambiente: Ficha Temática “Seca”. URL: https://rea.apambiente.pt/content/seca [consultado a fevereiro de 2022]

    Fundação Calouste Gulbenkian (2020). O Uso da Água em Portugal: Olhar, compreender e atuar com os protagonistas chave. Autores: C.-The Consumer Intelligence Lab, projeto de conhecimento Returm On Ideas, Filipa Dias e Catarina Correia. Lisboa, 2020

    IPMA (2021). Seca Meteorológica. URL: https://www.ipma.pt/pt/educativa/tempo.clima/index.jsp?page=seca.index.xml [consultado em fevereiro de 2022]

    EDO (2021). Map of Current Droughts in Europe. URL: https://edo.jrc.ec.europa.eu/edov2/php/index.php?id=1052 [consultado a fevereiro de 2022]

    GPP (2022). Monitorização da seca. URL: https://www.gpp.pt/index.php/monitorizacao-da-seca/impacto-da-seca [consultado em fevereiro de 2022]