Sustentabilidade e recuperação do sector do turismo pós-COVID
A sustentabilidade é um caminho incontornável para se alcançar o turismo no futuro. A Organização Mundial do Turismo (UNEP & UNWTO, 2005) define o turismo sustentável como aquele que salvaguarda o ambiente e os recursos naturais, garantindo o crescimento económico da atividade, isto é, sendo capaz de satisfazer as necessidades das presentes e futuras gerações.
A pandemia de COVID-19 tem vindo a causar desde o início de 2020 um impacte muito negativo na economia e na sociedade, sendo o sector do turismo um dos mais afetados, com perdas avultadas nos últimos dois anos, a contrariar a sua tendência de crescimento. No entanto, segundo a OMT – “One Planet Vision” – a recuperação responsável do sector, após esta conjuntura, permitirá que o turismo retome a sua atividade ainda mais forte e sustentável.
O impacte da COVID-19 no sector do turismo em Portugal
Portugal não foi exceção e também cá a pandemia da COVID-19 resultou em muita instabilidade no sector. Durante a crise pandémica, o turismo foi um dos sectores que mais se ressentiu, afetado por um lado pelas medidas implementadas para conter a propagação da COVID-19 e, por outro, pelas restrições de mobilidade e proibições de viagens que reduziram as movimentações de turistas para o nosso país.
Ainda que os efeitos da pandemia estejam longe de ter terminado, algumas conclusões começam a emergir. De acordo com o estudo “A recuperação do turismo começou, mas levará anos até Portugal recuperar totalmente. O que poderão fazer os principais intervenientes no sector?” realizado pela McKinsey, em 2021, quando o sector recuperar, Portugal poderá ter acumulado perdas de 60 mil milhões de euros no PIB e até 600 mil postos de trabalho poderão ter sido eliminados, para além dos potenciais efeitos secundários em sectores delicados como o imobiliário.
As três prioridades mencionadas como essenciais para uma recuperação mais rápida (e mais sustentável) do sector são:
- Aumento da competitividade, nomeadamente através da digitalização;
- Promoção de novos modelos de colaboração dentro do sector, mas também com sectores adjacentes como, por exemplo, a aviação;
- Promoção de uma nova forma de pensar no turismo e criar um novo paradigma para o desenvolvimento do mesmo no futuro;
Plano Nacional: prioridades e oportunidades
É neste contexto pós-pandémico que foi lançado a 26 de outubro de 2020, pelo Turismo de Portugal, o Plano Turismo + Sustentável 2020-2030. Este plano visa o reforço do posicionamento e competitividade de Portugal enquanto destino turístico sustentável e seguro, acomodando exigências de novas diretrizes e orientações nacionais e comunitárias. Pode recordar os princípios orientadores deste plano, assim como os eixos estratégicos do mesmo, no nosso texto do blog de 27 de outubro de 2020 (Acesso aqui!)
As oportunidades para o sector do turismo encontram-se espelhadas no Plano de Ação “Reativar o Turismo. Construir o Futuro”. O documento pode ser consultado aqui: Plano de Ação “Reativar o Turismo | Construir o Futuro
Este Plano de Ação para o sector turístico, público e privado, servirá como guia orientador para o relançamento pós-Covid do turismo. O Plano, com quatro pilares de atuação, visa estimular a economia e a atividade turística e permitirá superar os objetivos e as metas de sustentabilidade económica, ambiental e social definidas na Estratégia do Turismo 2027 (ET 2027).
PILARES DE ATUAÇÃO
Apoiar as empresas
Finanças e estratégia: apoiar no imediato as empresas ao nível financeiro, através de instrumentos flexíveis e adaptados às exigências do momento. E também apoiar ao nível da estratégia operacional, atentas as atuais circunstâncias. Pretende-se manter a cadeia de valor disponível e preparada para retomar a atividade.
Fomentar a segurança
Atividade empresarial e comportamento dos turistas: ter em conta as (novas) necessidades dos turistas e preparar as empresas para as mesmas. Estimular a comunicação que permita aumentar a segurança por parte das empresas, seja na atividade, seja no comportamento de quem trabalha no sector.
Gerar negócio
Curto prazo, médio/longo prazo: contribuir para gerar negócio, estimulando os mercados, repondo a conectividade, facilitando a compra, informando os consumidores.
Construir o futuro
Responsável e sustentável: acelerar a construção do turismo do futuro que se pretende mais inteligente, mais responsável e mais sustentável.
O sector do Turismo no Programa de Recuperação e Resiliência
Em cada pilar de atuação são identificáveis ações específicas que a curto, médio e longo prazo permitirão transformar o sector e posicioná-lo num patamar superior de criação de valor, contribuindo de forma expressiva para o crescimento do PIB e para uma distribuição mais justa da riqueza. Consulte aqui as principais ações para cada um dos pilares definidos: Snapshot setorial turismo – Oportunidades do Plano de Recuperação e Resiliência
Apoios da União Europeia
As oportunidades de apoio ao investimento no turismo não terminam nos instrumentos contemplados na estratégia nacional para o sector. A União Europeia dispõe de um conjunto vasto de apoios, estruturados em Subvenções, Financiamento e Assistência Técnica, que fazendo uso dos mecanismos de apoio contemplados no Quadro Financeiro Plurianual 2021-2027 e no “Next Generation EU” visam estimular projetos de turismo que foquem nos objetivos estruturais de mudança – uma União Europeia mais Digital, Sustentável e Inclusiva.
Conheça em síntese dois dos principais Programas Comunitários que podem beneficiar as Empresas de Turismo e sectores relacionados. O Guia sobre o financiamento da EU para o Turismo pode ser consultado integralmente em Guide on EU funding for tourism, European Commission
- Recovery and Resilience Facility: A Facilidade de Recuperação e Resiliência (RRF) é a peça central do plano de recuperação da Europa NextGenerationEU. O seu objetivo é mitigar o impacte económico e social da crise da COVID-19 e tornar as economias e sociedades europeias mais sustentáveis, resilientes e mais bem preparadas para os desafios e oportunidades das transições verdes e digitais. Este apoio materializa-se nas medidas anteriormente mencionadas do Plano de Recuperação e Resiliência Português.
- European Regional Development Fund (ERDF) and Cohesion Fund: A fim de reforçar a sustentabilidade ambiental, socioeconómica e a resiliência do turismo a longo prazo, as regiões e os países são encorajados a ajudar a transformar o sector, aprendendo a partir de soluções inovadoras. Os investimentos no turismo são enquadráveis na estratégia do FEDER desde que cumpram com as condições ou requisitos mínimos estabelecidos para os objetivos em causa.
É tempo de construir o futuro e, mais do que nunca, é necessário um turismo capaz de produzir benefícios económicos e sociais para a sua comunidade local e que, ao mesmo tempo, minimize os impactes ambientais negativos, através de uma gestão participativa de base comunitária.
Fontes:
UNEP & UNWTO (2005). Making Tourism More Sustainable – A Guide for Policy Makers. 2005, p.11-12
One Planet Sustainable Tourism Programme (2020) – One Planet Vision for a Responsible Recovery of the Tourism Sector
McKinsey (2021). A recuperação do turismo começou, mas levará anos até Portugal recuperar totalmente. O que poderão fazer os principais intervenientes no setor?, por Hugo Espírito Santo, Javier Caballero, Margaux Constantin, Steffen Köpke, e Urs Binggeli
Turismo de Portugal (2021). Plano de Ação “Reativar o Turismo. Construir o Futuro”. URL:https://www.turismodeportugal.pt/pt/Turismo_Portugal/Estrategia/plano-acao-reativar-turismo/Paginas/default.aspx [consultado a 11/01/2021]
Turismo de Portugal (2017). Estratégia do Turismo 2027. URL: http://www.turismodeportugal.pt/pt/Turismo_Portugal/Estrategia/Estrategia_2027/Paginas/default.aspx [consultado a 11/01/2021]
Banco Comercial Português (2021). Snapshot setorial turismo – Oportunidades do Plano de Recuperação e Resiliência. URL:https://ind.millenniumbcp.pt/pt/Documents/empresas/prr/img/Millennium_PRR_Turismo.pdf [consultado a 11/01/2021]
European Commision (2022). Guide on EU funding for tourism. URL: https://ec.europa.eu [consultado a 11/01/2021]