2025 traz um novo estatuto ao caroço de azeitona!
Em Portugal, e particularmente no Alentejo moderno, os olivais são símbolos da rica tradição da produção de azeite no país. No entanto, surge uma questão: o que fazer com as centenas de milhares de toneladas de caroços de azeitona produzidos anualmente?
Após a extração do azeite, por processos de moagem, centrifugação ou prensagem, a azeitona dá origem, além do azeite, à água e a um resíduo final composto por polpa, casca (transformadas em fábricas de bagaço) e caroço. Este último, que representa cerca de 13% da massa total da azeitona, é um recurso abundante e subaproveitado.
Esta realidade está prestes a mudar em 2025.
Alteração na classificação do caroço de azeitona
Espera-se que, nos primeiros meses de 2025, Portugal altere a classificação do caroço de azeitona, que passará de resíduo a subproduto. Esta mudança, anunciada pela Ministra do Ambiente, Graça Carvalho, inspira-se no modelo já implementado em Espanha. A ministra assegurou que o processo legislativo será rápido, com previsão de conclusão ainda no início de 2025. O objetivo principal é promover a economia circular e incentivar o uso de energias renováveis, destacando a biomassa como uma solução sustentável.
Para a campanha olivícola de 2024/2025, as projeções apontam para uma colheita anual de 1,2 milhões de toneladas de azeitonas, resultando na produção de aproximadamente 170 mil toneladas de azeite e 156 mil toneladas de caroços. No Alentejo, particularmente em regiões como Beja, Ferreira do Alentejo e Serpa, onde se concentram 60 lagares – o que representa cerca de 52% dos lagares da região (116 lagares no total) e 13% do total nacional (455 lagares) (Equipa ALÉMTEJO, 2024) –, acumulam-se grandes quantidades deste material. Embora o Alentejo não seja a região com o maior número de lagares em Portugal, é responsável por cerca de 68% da produção nacional de azeite (1 234 756 hectolitros) (Equipa ALÉMTEJO, 2024), destacando-se pela sua elevada produtividade. Atualmente considerado um passivo ambiental, os caroços de azeitona têm o potencial de serem transformados num recurso de elevado valor económico, contribuindo para uma economia mais eficiente e sustentável.
A decisão de reclassificar os caroços de azeitona como subproduto atende a uma reivindicação de longa data da Olivum – Associação de Olivicultores e Lagares de Portugal. Segundo a associação, o estatuto de resíduo tem dificultado a comercialização e exportação deste recurso, apesar da crescente procura internacional, motivada pela sua excelente capacidade calorífica.
Com esta medida, Portugal não só pode aumentar a competitividade do setor olivícola, mas também dinamizar economicamente regiões como o Baixo Alentejo, promovendo novas oportunidades de negócio. Além disso, reforça o compromisso nacional com a sustentabilidade, ao incentivar o aproveitamento de subprodutos e reduzir o impacte ambiental da produção de azeite.
O Exemplo de Espanha
Espanha, líder mundial no cultivo de azeitona com 2,7 milhões de hectares dedicados a esta cultura, produz cerca de 6,2 milhões de toneladas de azeitonas por campanha. Este volume gera aproximadamente 450 mil toneladas de caroços de azeitona, dos quais 323,5 mil toneladas são comercializadas, enquanto o restante é utilizado como fonte de calor em lagares e fábricas de bagaço de azeitona. Este aproveitamento demonstra a eficiência do setor espanhol na gestão de subprodutos.
Os caroços de azeitona desempenham um papel significativo na geração de energia, fornecendo calor suficiente para abastecer mais de 100 mil lares espanhóis. Este mercado dinâmico, que movimenta mais de 50 milhões de euros por ano, é um exemplo claro de como os subprodutos agrícolas podem impulsionar a economia e contribuir para a sustentabilidade energética.
Para além do setor energético, os caroços têm aplicações inovadoras, como na construção civil, onde são utilizados para reduzir a densidade dos materiais e melhorar as propriedades de isolamento térmico e acústico. Um exemplo pioneiro é o campo de futebol inaugurado em 2020, em Guichen, França, onde os caroços de azeitona foram incorporados em pavimentos sintéticos. Este material revelou-se seguro, ambientalmente sustentável e sem emissões tóxicas, mesmo em condições de chuva ou fricção, garantindo uma alternativa ecológica e eficiente para projetos de construção.
A experiência espanhola sublinha o potencial dos caroços de azeitona como recurso valioso, demonstrando como a gestão eficiente de subprodutos pode criar oportunidades económicas, reduzir o impacto ambiental e promover a inovação em diferentes setores industriais.
Um Futuro Sustentável
A transformação dos caroços de azeitona em subproduto reflete o compromisso de Portugal em adotar práticas mais sustentáveis e aproveitar os recursos ao máximo. Esta mudança representa uma oportunidade de dinamizar a economia, reduzir resíduos e criar soluções inovadoras que colocam Portugal na vanguarda da economia circular.
Referências
Público, 2019. Regadio do Alqueva: O milagre da multiplicação das oliveiras. Público. URL: https://www.publico.pt/2019/09/08/economia/noticia/regadio-alqueva-milagre-multiplicacao-oliveiras-1885867 [Acedido em janeiro 2025].
Público, 2024. Produção de azeite vai aumentar, mas preços vão continuar altos. Público. URL: https://www.publico.pt/2024/10/12/economia/noticia/producao-azeite-vai-aumentar-precos-vao-continuar-altos-2107536 [Acedido em janeiro 2025].
Observador, 2024. Governo vai classificar caroço de azeitona como subproduto. Observador. URL: https://observador.pt/2024/11/30/governo-vai-classificar-caroco-de-azeitona-como-subproduto/ [Acedido em janeiro 2025].
Equipa ALÉMTEJO. (2024). Azeite – o “ouro líquido” de Portugal. Escola Secundária Manuel da Fonseca. URL: https://www.ine.pt/scripts/esc2024/A1_AL%C3%89MTEJO.pdf [Acedido em janeiro 2025].