
Google ou ChatGPT? Duas formas de pesquisar, dois impactes distintos
Google e ChatGPT são hoje duas das ferramentas digitais mais utilizadas em todo o mundo. Seja para esclarecer uma dúvida rápida, desenvolver um projeto ou por simples curiosidade, estas plataformas estão profundamente integradas nas nossas rotinas e moldam a forma como acedemos à informação.
Embora cumpram funções semelhantes, como responder a perguntas ou facilitar o acesso a conteúdos, existem diferenças relevantes na forma como operam, na escala da sua utilização e nos impactes que geram. Num momento em que a sustentabilidade digital se torna uma preocupação cada vez mais relevante, vale a pena olhar com mais atenção para estas ferramentas e refletir sobre as escolhas que fazemos ao utilizá-las.
Como pesquisamos importa: Google e ChatGPT lado a lado
Apesar da crescente visibilidade da inteligência artificial, os dados mais recentes mostram que o Google continua a ser, de longe, a ferramenta de pesquisa mais utilizada no mundo. Em 2024, registou mais de 14 mil milhões de pesquisas por dia, representando cerca de 93,5% da quota de mercado global. Já o ChatGPT, mesmo com a sua popularidade em ascensão, correspondeu apenas a cerca de 0,25% desse volume, com aproximadamente 37,5 milhões de interações diárias com características semelhantes a uma pesquisa (SparkToro, 2025).

Figura 1. ChatGPT vs. Google enquanto ferramentas de pesquisa, evidenciando os diferentes impactes ambientais associados ao seu uso e reforçando a importância de escolhas digitais mais conscientes (Fonte: Peta Pixel, 2023).
Estes números demonstram que, por agora, a maioria das pessoas continua a preferir os motores de busca tradicionais, especialmente quando o objetivo é encontrar rapidamente uma informação específica ou aceder a uma fonte externa. Ainda assim, o ChatGPT tem vindo a ganhar espaço como ferramenta de apoio para tarefas mais complexas, como resumir textos, esclarecer conceitos ou estruturar ideias.
Para além da escala de utilização, existem também diferenças importantes no impacte ambiental de cada ferramenta. Uma pesquisa no Google consome, em média, cerca de 0,3 Wh de eletricidade (Pplware, 2024), enquanto uma interação com o ChatGPT consome cerca de 2,9 Wh, quase dez vezes mais (Engineering Prompts, 2025). Esta diferença está associada ao tipo de processamento envolvido: enquanto o Google recupera resultados existentes, o ChatGPT gera respostas em tempo real, com base em modelos de linguagem de larga escala.
Além da eletricidade, é necessário considerar o consumo de água utilizado para arrefecer os centros de dados. Este impacte é frequentemente invisível para o utilizador final, mas assume especial relevância num cenário global de escassez hídrica (National Geographic Portugal, 2025).
Em suma, apesar de ambas as ferramentas responderem à necessidade de aceder a informação, fazem-no com níveis de exigência energética muito diferentes. Conhecer esta diferença é essencial para podermos tomar decisões mais conscientes no uso quotidiano destas tecnologias.

Figura 2. A era da inteligência artificial trouxe avanços significativos para inúmeras áreas, mas também desafios ambientais invisíveis. Uma simples interação com cerca de 100 palavras gerada com recurso a um chatbot, como o ChatGPT, pode consumir aproximadamente 519 ml de água.
O custo invisível das tendências digitais
O impacte ambiental da tecnologia não começou com a inteligência artificial. Há muito que os hábitos digitais têm consequências reais: plataformas de streaming, como o YouTube ou a Netflix, geram tráfego constante e requerem grande capacidade de armazenamento e transmissão, com consumo elevado de energia associado. O mesmo se aplica ao armazenamento em cloud, ao envio massivo de emails e à utilização de aplicações de vídeo e redes sociais.
Contudo, o que estamos agora a assistir é à integração de uma nova camada sobre tudo isso: modelos de inteligência artificial generativa, extremamente utilizados e com impactos ambientais adicionais, muitas vezes invisíveis para o utilizador comum.
Com ferramentas como Midjourney, DALL·E ou outras, tornou-se fácil gerar imagens de fantasia, personagens de anime, avatares personalizados ou até versões estilizadas de objetos reais. Só em 2024, estimava-se que estas plataformas geravam mais de 15 milhões de imagens por dia.
Assumindo um consumo médio de 0,05 kWh por imagem, a geração diária de 15 milhões de imagens corresponde a cerca de 750.000 kWh por dia. Este valor, embora aparentemente abstrato, equivale ao consumo elétrico diário de 91.000 a 101.000 habitações portuguesas, considerando os valores médios de consumo por família em Portugal (Repsol, 2024). Em termos relativos, representa aproximadamente 0,5% do consumo doméstico diário nacional. Esta comparação ajuda a contextualizar o impacto energético destas tecnologias numa escala mais próxima da realidade dos utilizadores, reforçando a necessidade de promover práticas digitais mais conscientes e sustentáveis.
É importante lembrar que estas criações são muitas vezes feitas por impulso ou por puro entretenimento e, embora pareçam inofensivas, consomem os mesmos recursos computacionais de aplicações com verdadeiro valor social, como a investigação científica ou a monitorização ambiental. O treino destes modelos também não é neutro: por exemplo, treinar o GPT-3 implicou um consumo estimado de 1.287.000 kWh de eletricidade, o equivalente à produção de 2.500 toneladas de aço e a mais de 550 toneladas de emissões de CO₂ (Patterson et al., 2021). Para se ter uma ideia da escala, em 2021, Portugal emitiu cerca de 45,5 milhões de toneladas de CO₂ equivalente (APA, 2023), o que corresponde a uma média de 124.600 toneladas por dia. Assim, o treino de apenas um modelo como o GPT-3 corresponde a aproximadamente 6 horas de emissões nacionais médias de gases com efeito de estufa, antes sequer de começar a ser utilizado.
Na maioria dos casos, as empresas que desenvolvem estas tecnologias não divulgam dados detalhados sobre o seu consumo energético ou hídrico, o que dificulta uma avaliação rigorosa do seu verdadeiro impacte ambiental.
Em resumo, não se trata de condenar o uso da IA, nem de ignorar que outras atividades digitais também têm impacte, mas é necessário reconhecer que está a ser criada uma nova camada de consumo, com enorme popularidade e escala, que exige reflexão. Usar estas ferramentas com consciência é hoje um imperativo.
Conclusão
A inteligência artificial pode ser uma ferramenta poderosa para resolver problemas reais, mas a sua utilização deve acompanhar uma cultura de responsabilidade digital. Não se trata de rejeitar a tecnologia, mas de integrá-la com consciência e sentido crítico.
Num contexto de transição ecológica, é cada vez mais importante que os avanços digitais caminhem lado a lado com a sustentabilidade. Isso começa por pequenas decisões individuais: saber quando usar, porquê usar e se vale mesmo a pena. Mais do que limitar, trata-se de usar melhor.
Referências
- Digital4Planet. (2025). AI and the Environmental Impact of Digital Creativity. URL: https://digital4planet.org/ [consultado em junho de 2025].
- Engineering Prompts. (2025). Does ChatGPT Use 10x More Energy Than Google Search? URL: https://engineeringprompts.substack.com/p/does-chatgpt-use-10x-more-energy [consultado em junho de 2025].
- Goedecke, S. (2024). Revisiting the water footprint of AI inference. URL: https://engineeringprompts.substack.com [consultado em junho de 2025].
- National Geographic Portugal. (2025). A pegada invisível da inteligência artificial. URL: https://www.natgeo.pt/ [consultado em junho de 2025].
- Patterson, D., Gonzalez, J., Le, Q. V., Liang, C., Munguia, L. M., Rothchild, D., … & Dean, J. (2021). Carbon Emissions and Large Neural Network Training. Google Research. URL: https://arxiv.org/abs/2104.10350 [consultado em junho de 2025].
- Pplware. (2024). Quanto consome uma pesquisa no Google? URL: https://pplware.sapo.pt/google/ia-consome-10-vezes-mais-energia-do-que-uma-pesquisa-no-google / [consultado em junho de 2025].
- SparkToro. (2025). Is ChatGPT Replacing Google Search? Análise de Rand Fishkin. URL: https://sparktoro.com/blog/is-chatgpt-replacing-google-search/ [consultado em junho de 2025].