Digite o que quer pesquisar:

Make your own custom-made popup window!

Lorem ipsum dolor sit amet, consectetuer adipiscing elit, sed diam nonummy nibh euismod tincidunt ut laoreet dolore

    Abutre-preto: Os progressos na sua conservação

    BoG / Blog  / Abutre-preto: Os progressos na sua conservação

    Abutre-preto: Os progressos na sua conservação

    Como mencionado na análise da semana passada, o abutre-preto (Aegypius monachus), a maior ave de rapina da Europa, tem protagonizado, nos últimos anos, uma recuperação notável em Portugal. Graças à proteção proporcionada pelo projeto LIFE Aegypius Return (2023-2027) e a esforços de conservação anteriores, os dados mais recentes revelam progressos encorajadores para esta espécie, atualmente classificada como “Criticamente em Perigo” no território nacional. Hoje, com base nas fontes mais recentes, analisamos os resultados alcançados em 2024, que refletem os esforços contínuos para garantir um futuro mais seguro para esta ave emblemática.

     

    Aumento do número de casais e crias

    De acordo com a equipa do LIFE Aegypius Return, este ano foram contabilizados entre 108 e 116 casais nidificantes em Portugal, um crescimento significativo em relação aos 40 casais registados no início do projeto, em 2022. Estes números refletem uma expansão natural da espécie, resultado de melhorias no habitat, da tranquilidade das áreas de nidificação e das ações de conservação realizadas nos últimos anos (LIFE Aegypius Return, 2024).

    O sucesso reprodutivo em 2024 também aumentou ligeiramente, com 48 a 49 crias a sobreviverem até ao voo, face às 35 crias registadas em 2023. Este progresso atingiu o objetivo estratégico do projeto: que pelo menos 50% das posturas resultem numa cria voadora (Wilder, 2024).

    Apesar do otimismo, os responsáveis alertam para os riscos. As colónias de abutres-pretos ainda são pequenas e vulneráveis a ameaças como o envenenamento, a perturbação humana e a perda de habitat (Público, 2024).

     

    Distribuição das colónias: resultados por região

    Tejo Internacional

    Esta área protegida é o berço da recolonização da espécie em Portugal, onde os primeiros casais voltaram a nidificar em 2010. Em 2024, foram registados entre 61 e 64 casais, dos quais cerca de 15 a 16 optaram pela margem espanhola do rio, produzindo 24 a 25 crias viáveis. Contudo, o sucesso reprodutivo manteve-se relativamente baixo (0,41), devido à densidade de ninhos e à competição com outras espécies, como o grifo (LPN, 2024).

    Figura 1. Tejo Internacional tem a maior colónia nidificante de abutre-preto em Portugal Fonte: Mediotejo.net, 2024

     

    Herdade da Contenda

    Esta área no Alentejo abriga a segunda maior colónia nacional, com 20 a 21 casais e 7 crias em 2024. Pela primeira vez, foi registada uma cria nascida do lado espanhol desta colónia transfronteiriça. A monitorização, conduzida pela LPN, em colaboração com o ICNF e autoridades locais, tem sido essencial para assegurar o sucesso das aves (LPN, 2024).

    Figura 2. Trabalhos de monitorização de abutre-preto na Herdade da Contenda. Fonte: LPN, 2024

     

    Serra da Malcata

    Desde a descoberta da colónia em 2021, o número de casais nidificantes aumentou de 14 (2023) para 18 em 2024. Apesar do crescimento, apenas 12 crias sobreviveram até ao voo, refletindo desafios nas condições de nidificação e disponibilidade de alimento (Rewilding Portugal, 2024).

    Figura 3. Trabalhos de marcação de uma cria de abutre-preto na Serra da Malcata. Fonte: LPN, 2024

     

    Douro Internacional

    A colónia mais isolada registou um aumento de 3 para 8 casais este ano, incluindo 3 ninhos em território espanhol. Contudo, devido à provável inexperiência dos casais, apenas 4 crias (2 em cada país) sobreviveram até à independência. O projeto começou a libertar indivíduos aclimatados para fortalecer esta colónia frágil (LPN, 2024).

    Figura 4.Cria de abutre-preto (marcada com emissor GPS/GSM) num ninho no Douro Internacional. Fonte: LPN, 2024

     

    Vidigueira

    Em junho de 2024, os técnicos do ICNF identificaram uma nova colónia reprodutora de abutre-preto na Vidigueira, marcando a quinta colónia conhecida em Portugal. Esta é a colónia mais ocidental da espécie a nível mundial. Devido à época reprodutora já em curso, a monitorização foi limitada para evitar perturbar as aves, mas o ICNF confirmou a existência de cinco ninhos e a reprodução bem-sucedida num deles, resultando numa cria viável. Esta descoberta, além de ampliar o alcance territorial da espécie, evidencia a sua capacidade de ocupar novos habitats, refletindo os esforços de conservação realizados (LPN, 2024).

    Figura 5. Casal de abutres-pretos. Fonte: SPAE, 2024.

     

    Conservação transfronteiriça e monitorização: um pilar do sucesso

    A colaboração entre Portugal e Espanha tem sido crucial na recuperação do abutre-preto. No Tejo Internacional, o envolvimento da Junta de Extremadura foi essencial para o resgate de crias em situações críticas e para a validação de dados importantes de monitorização. Já nas regiões do Douro Internacional e da Serra da Malcata, os esforços conjuntos entre o ICNF, a Palombar e outras organizações têm garantido medidas adicionais de proteção às colónias, fortalecendo a sua resiliência frente às ameaças (Público, 2024; LPN, 2024).

    Uma ferramenta indispensável neste trabalho tem sido a instalação de transmissores GPS/GSM em diversas crias. Estes dispositivos permitem acompanhar os padrões de movimento dos abutres-pretos, identificar potenciais ameaças e obter informações detalhadas sobre o uso do habitat. Os dados recolhidos têm sido fundamentais para ajustar e refinar as estratégias de conservação, garantindo intervenções mais eficazes e informadas. Esta abordagem tecnológica reforça a capacidade de resposta perante os desafios enfrentados pela espécie (LIFE Aegypius Return, 2024).

     

    Um caminho promissor…

    Os resultados de 2024 demonstram que os esforços de conservação podem reverter o declínio de espécies criticamente ameaçadas. A recuperação do abutre-preto é um símbolo de resiliência e um exemplo do impacte positivo que a colaboração internacional pode ter na biodiversidade. Com continuidade nos esforços, espera-se que esta ave majestosa continue a sobrevoar os céus ibéricos por muitas gerações.

     

     

    Referências

    Liga para a Proteção da Natureza (LPN), 2024. Abutre-preto aumenta para mais de 108 casais nidificantes em Portugal. URL:https://www.lpn.pt/pt/noticias/abutre-preto-aumenta-para-mais-de-108-casais-nidificantes-em-portugal [Acedido em novembro de 2024]

    LIFE Aegypius Return, 2024. LIFE Aegypius Return: Progress and results. URL: https://4vultures.org/life-aegypius-return/project/progress-and-results/ [Acedido em novembro de 2024]

    Rewilding Portugal, 2024. Nova colónia reprodutora de abutre-preto confirmada na Reserva Natural da Serra da Malcata. URL: https://rewilding-portugal.com/pt/noticias/nova-colonia-reprodutora-de-abutre-preto-confirmada-na-reserva-natural-da-serra-da-malcata/ [Acedido em novembro de 2024]

    Público,.2024. Abutre-preto: Números continuam a crescer em Portugal e Pousio é um dos membros da nova colónia. URL : https://www.publico.pt/2024/11/25/azul/noticia/abutrepreto-numeros-continuam-crescer-portugal-pousio-membros-nova-colonia-2113283 [Acedido em novembro de 2024]