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    Agricultura regenerativa: uma abordagem sustentável para a revitalização dos solos e dos ecossistemas

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    Agricultura regenerativa: uma abordagem sustentável para a revitalização dos solos e dos ecossistemas

    Como já é amplamente reconhecido, o setor agrícola enfrenta atualmente desafios complexos e globais, como a perda acelerada de biodiversidade, a erosão dos solos e a contaminação dos recursos naturais. Estes problemas resultam não só do uso intensivo de fertilizantes e pesticidas químicos, mas também de práticas agrícolas insustentáveis, como a monocultura extensiva, a gestão inadequada da água e dos recursos, e a desflorestação para expansão de áreas agrícolas, entre outros. Estas questões, agravadas pelas alterações climáticas, comprometem não só a produtividade agrícola futura, mas também colocam em risco a integridade dos ecossistemas de que dependemos para assegurar a nossa sobrevivência e a saúde do planeta.

    É precisamente neste cenário desafiador que a agricultura regenerativa se destaca como uma abordagem essencial e transformadora. Longe de ser apenas uma prática de mitigação, esta abordagem propõe uma mudança profunda na forma como interagimos com os sistemas agrícolas, promovendo a recuperação da saúde dos solos e a revitalização dos ecossistemas. Ao restaurar a vitalidade da terra, a agricultura regenerativa não só aumenta a resiliência das culturas, como também contribui para um futuro agrícola mais sustentável e produtivo. Mais do que uma tendência passageira, trata-se de uma visão ousada de como a agricultura pode regenerar o planeta, conciliando produtividade e responsabilidade ambiental de forma eficaz e duradoura.

     

    O que é agricultura regenerativa?

    A agricultura regenerativa é uma abordagem holística que visa restaurar e melhorar a saúde do solo e dos ecossistemas agrícolas, tornando-os mais produtivos e biodiversos ao longo do tempo. Ao contrário da agricultura convencional, que muitas vezes degrada o solo, esta prática promove o aumento da matéria orgânica.

    Melhorar a matéria orgânica no solo ajuda a prevenir a erosão, melhorar a retenção de água, a ciclagem de nutrientes e a produtividade das culturas. Além disso, a agricultura regenerativa contribui para a captura de carbono da atmosfera, ajudando a mitigar as alterações climáticas.

    Sem regras rígidas, esta abordagem adapta-se a diferentes contextos e pode ser aplicada além da agricultura, em espaços como parques urbanos e jardins. Ao focar-se no solo como uma entidade viva, a agricultura regenerativa garante uma produção sustentável e resiliente, protegendo a biodiversidade e promovendo a saúde ambiental a longo prazo.

     

    O que a agricultura regenerativa NÃO É!

    • Não é uma tendência de marketing.

    Embora a adoção da agricultura regenerativa possa ajudar agricultores a obter melhores preços para os seus produtos em certos mercados, ela não é, por si só, um programa de marketing. Ao contrário de certificações como o selo “orgânico”, a agricultura regenerativa não é um rótulo regulamentado. Os produtores podem adotar práticas regenerativas e continuar a vender os seus produtos nos mercados tradicionais, diretamente a cadeias comerciais ou em nichos de mercado, conforme o que fizer mais sentido para o seu negócio.

    • Não é uma novidade.

    Apesar de o termo “agricultura regenerativa” ser relativamente recente, as práticas que ela engloba têm sido utilizadas há séculos. Na verdade, o que a agricultura regenerativa propõe é que os agricultores gerenciem a terra de uma forma que imite os processos naturais. O solo, a água e a luz solar já são os alicerces do sistema agrícola fornecidos pela natureza, e cabe-nos aprender a trabalhar com esses elementos de maneira inteligente.

    • Não é uma fórmula pronta.

    A agricultura regenerativa não oferece uma solução única que funcione para todos. Cada terreno, ecossistema e produtor tem suas particularidades, e não existe um plano de gestão universal ou uma rotina fixa que garanta sucesso permanente. A abordagem regenerativa exige adaptação contínua, conforme as necessidades da terra e as condições locais evoluem ao longo do tempo.

     

    Princípios da agricultura regenerativa

    A agricultura regenerativa foca-se em resultados tangíveis – melhorias reais na saúde do solo e na qualidade geral da terra. Esta abordagem reconhece a interconexão entre o solo, a água, o ar, as plantas e os animais, além do conhecimento e habilidades dos agricultores que gerem o ecossistema.

     

    Princípios ecológicos

    A agricultura regenerativa baseia-se em quatro processos ecológicos interligados:

    1. Fluxo de energia: Começa com a luz solar, que é absorvida pelas plantas para gerar energia. O fluxo de energia é otimizado quando as plantas têm tempo suficiente para recuperarem do pastoreio.
    2. Ciclo da Água: A água segue o seu ciclo natural através da evaporação, precipitação e infiltração no solo. O solo saudável aumenta a capacidade de retenção de água, o que melhora a resiliência à seca.
    • Ciclo de Nutrientes: A energia e a água transferem-se entre os organismos vivos e o ambiente. A diversidade de plantas e a atividade biológica no solo melhoram este ciclo.
    1. Dinâmica da Comunidade: Refere-se às mudanças nas estruturas das comunidades biológicas ao longo do tempo, incluindo a microbiologia do solo, as plantas e os animais.

     

    Princípios de saúde do solo

    Estes princípios podem ser aplicados em qualquer local para melhorar a saúde dos solos:

    • Conhecer o contexto: Os agricultores devem compreender o ambiente envolvente, clima, geografia e recursos para aplicar as práticas mais adequadas ao seu terreno.
    • Cobrir o solo: Manter o solo coberto com plantas e “sobras” de outras culturas ajuda a construir matéria orgânica e previne a erosão.
    • Minimizar a perturbação do solo: Reduzir o uso de práticas que perturbam o solo, como a utilização do arado, preserva a estrutura e aumenta a atividade biológica.
    • Aumentar a diversidade de espécies: Uma maior diversidade de espécies melhora a capacidade do solo de reter água e nutrientes, além de fomentar a vida microbiana no solo.
    • Manter plantas vivas: As raízes das plantas vivas alimentam os microrganismos do solo e mantêm os processos biológicos em funcionamento.
    • Integrar o gado: A presença de animais é fundamental para o ecossistema. O pastoreio controlado melhora a reciclagem de nutrientes, aumenta a diversidade de plantas e promove a saúde do solo.

     

    Figura 1. Síntese dos princípios da agricultura regenerativa. Fonte: EOS DARA ANALYTICS, 2024.

     

    Benefícios da agricultura regenerativa

    A agricultura regenerativa vai além de simplesmente manter a terra, procurando melhorar a saúde e a qualidade do solo e do ecossistema ao longo do tempo.

    • Aumento da matéria orgânica e biodiversidade

    Um dos principais benefícios da agricultura regenerativa é o aumento da matéria orgânica no solo. A matéria orgânica é formada por organismos em decomposição que ajudam a promover o crescimento de novas vidas, como culturas, pastagens e gado, que representam a fonte de rendimento dos agricultores.

    O aumento da biodiversidade contribui para esse ciclo, ao integrar diferentes plantas e animais (incluindo microrganismos, como bactérias e fungos), que desempenham funções essenciais no ecossistema. A perda de um desses elementos pode comprometer o equilíbrio natural.

    • Solo mais resiliente a seca e inundações

    A agricultura regenerativa melhora a resiliência do solo a secas e inundações. Quanto mais água o solo for capaz de reter, menos erosão ocorrerá, garantindo uma maior disponibilidade de água para as plantas em períodos de seca. Além disso, a redução do escoamento superficial diminui a contaminação dos rios e lagos por produtos químicos sintéticos.

    • Menor dependência de químicos e redução da poluição

    Com o aumento da fertilidade natural do solo, os agricultores podem reduzir a necessidade de fertilizantes adicionais. A diversidade de plantas e animais também ajuda a criar resistência natural contra pragas, reduzindo a necessidade de herbicidas e pesticidas. Além disso, o aumento da capacidade do solo de reter água significa menos escoamento e, consequentemente, menos poluição nas águas circundantes.

    • Melhoria da qualidade do ar e da água

    Solos saudáveis funcionam como filtros naturais de água quando cobertos por plantas e resíduos vegetais. Ao manter o solo coberto e reduzir o uso de fertilizantes e pesticidas sintéticos, a agricultura regenerativa contribui para a melhoria da qualidade da água. As plantas, por sua vez, absorvem dióxido de carbono da atmosfera, ajudando a purificar o ar. A prática regenerativa também reduz o uso de máquinas agrícolas, o que leva a uma menor emissão de poluentes.

    • Promoção de habitats para a vida selvagem

    Ao imitar os padrões naturais de diversidade, a agricultura regenerativa cria habitats mais ricos para a vida selvagem. A eliminação de monoculturas e a reintrodução de diferentes espécies de plantas e animais favorecem o aparecimento de mais espécies no terreno, como gramíneas nativas, aves, insetos, entre outros.

    • Captura de carbono no solo e combate às alterações climáticas

    A integração adequada de animais em terras de pastagem pode melhorar a saúde do solo através da captura de carbono. As plantas retiram carbono da atmosfera e, com a ajuda de microrganismos, armazenam-no no solo. O pastoreio bem gerido acelera esse processo, fazendo da agricultura regenerativa uma solução eficaz nas discussões atuais sobre alterações climáticas.

     

    Figura 2. A agricultura regenerativa promove solos saudáveis, aumentando a biodiversidade e a capacidade de retenção de água, enquanto reduz as emissões de carbono e contribui para um sistema agrícola mais sustentável e resiliente. Fonte: MFRURAL, 2022.

     

    Conclusão

    A agricultura regenerativa surge como uma solução sustentável e transformadora que enfrenta de forma eficaz os desafios da agricultura contemporânea. Ao restaurar a saúde do solo, promover a biodiversidade e incorporar práticas que imitam os processos naturais, esta abordagem não só aumenta a produtividade e a resiliência das culturas, como também desempenha um papel crucial na mitigação das alterações climáticas e na preservação dos ecossistemas. À medida que um número crescente de agricultores adota estas práticas, o setor agrícola torna-se um aliado fundamental na construção de um futuro mais equilibrado e sustentável para o nosso planeta.

    Na próxima semana, iremos aprofundar práticas e exemplos de sucessos da agricultura regenerativa, demonstrando o impacte ambiental positivo desta abordagem.

     

    Referências

    EOS. (2024). Agricultura regenerativa: O que é e como pode ser útil para os agricultores. URL:https://eos.com/pt/blog/agricultura-regenerativa/. [Acedido em setembro de 2024]

    Noble Research Institute. (2024). What is regenerative agriculture? URL: https://www.noble.org/regenerative-agriculture/. [Acedido em setembro de 2024]