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    Arquitetura e construção sustentável

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    Arquitetura e construção sustentável

    Vivemos numa era em que os impactes das alterações climáticas, o consumo excessivo de recursos e a produção de resíduos obrigam-nos a repensar a forma como vivemos e, inevitavelmente, como construímos. O setor da construção tem um papel fundamental nesta transformação, sendo responsável por uma parte significativa das emissões de gases com efeito de estufa, do consumo energético e da produção de resíduos.

    Em Portugal, a indústria da construção tem registado um crescimento expressivo nos últimos anos. De acordo com o Instituto Nacional de Estatística (INE), em 2021 foram licenciados 25 409 edifícios, representando um aumento de 8,2% face a 2020. Este aumento reflete a crescente procura por novas habitações, especialmente em áreas urbanas, onde o acesso à habitação condigna se tornou uma preocupação crescente devido à escalada dos preços no mercado imobiliário.

    Contudo, este crescimento acelerado tem levantado questões sobre a qualidade das construções e a sua sustentabilidade, sendo visível, em muitos casos, a ausência de critérios ambientais nos projetos mais recentes.

    Neste cenário, os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS), definidos pela Organização das Nações Unidas, ganham particular importância. Entre eles, destaca-se o ODS 11 – Cidades e Comunidades Sustentáveis, que apela à criação de espaços urbanos mais inclusivos, seguros, resilientes e ambientalmente responsáveis. No entanto, segundo avaliações recentes, Portugal apresenta um desempenho insatisfatório neste objetivo, com falhas evidentes no acesso à habitação, na eficiência energética e na resiliência das infraestruturas (Observador, 2024). Esta realidade reforça a necessidade de repensar o modelo de crescimento urbano e de implementar estratégias de construção alinhadas com os princípios da sustentabilidade.

    É neste enquadramento que ganham destaquedois conceitos fundamentais: construção sustentável e arquitetura sustentável.

     

    Em que consiste a arquitetura e a construção sustentáveis?

    A arquitetura e a construção sustentáveis baseiam-se na integração consciente de princípios ecológicos, sociais e económicos em todas as fases do ciclo de vida de uma infraestrutura. A sustentabilidade não se aplica apenas à fase da obra ou à escolha dos materiais. Começa logo na conceção do projeto, estende-se à execução da construção, ao uso quotidiano do espaço e prolonga-se até à sua desativação, demolição e gestão dos resíduos gerados.

    Esta abordagem reconhece que cada decisão tomada ao longo do processo construtivo tem um impacte direto no ambiente, na sociedade e na economia. Por isso, procura-se antecipar e mitigar os impactes negativos, enquanto se maximizam os benefícios para os utilizadores e para o território envolvente.

    Tudo isto deve ser alcançado sem comprometer a viabilidade económica do projeto, assegurando que as soluções adotadas são sustentáveis também do ponto de vista financeiro, tanto na fase de construção, como ao longo da vida útil da infraestrutura.

    Na prática, isso implica:

    • Planeamento consciente do edifício desde o início, tendo em conta o seu ciclo de vida completo;
    • Escolha de materiais ecoeficientes, recicláveis ou de origem local;
    • Utilização de energia renovável e otimização do consumo de água e energia;
    • Gestão sustentável dos resíduos durante e após a construção;
    • Integração com o meio envolvente, respeitando o ecossistema e a paisagem;
    • Conforto, acessibilidade e qualidade de vida para quem vai habitar ou utilizar o espaço.

    Mais do que uma tendência, trata-se de uma necessidade urgente e de uma oportunidade para inovar num setor que tem um impacte direto e duradouro na vida de todos nós.

     

    Figura 1. Arquitetura e construção sustentáveis integram soluções ecológicas desde a fase de projeto, promovendo edifícios mais eficientes, responsáveis e adaptados aos desafios ambientais atuais. Fonte: Banco de imagens Freepik.

     

    A importância da arquitetura e construção sustentáveis

    Num cenário global em que os edifícios representam 34% do consumo final de energia e 37% das emissões globais de dióxido de carbono relacionadas com energia e processos (UNEP, 2023), a transição para práticas sustentáveis na construção e na arquitetura deixou de ser uma opção para se tornar uma necessidade urgente.

    A construção sustentável não se limita a mitigar impactes ambientais. Trata-se de repensar todo o setor. Um setor que, segundo o mesmo relatório, é responsável por cerca de 21% das emissões globais de gases com efeito de estufa (UNEP, 2024). Com cerca de 60% dos edifícios que existirão em 2050 ainda por construir, temos nas mãos uma oportunidade única de fazer diferente desde já (UNEP, 2024).

    Promover a sustentabilidade neste setor significa:

    • Reduzir a pegada ecológica dos materiais utilizados na construção, como o cimento, o aço e o alumínio, cujas emissões continuam a aumentar.
    • Aumentar a eficiência energética dos edifícios, adotando normas, tecnologias e sistemas construtivos mais eficientes.
    • Reforçar a resiliência climática, integrando soluções adaptadas a fenómenos extremos como ondas de calor, inundações ou secas.
    • Garantir uma transição justa, assegurando o acesso universal a habitação digna e energia limpa.

    Além dos benefícios ambientais e sociais, a arquitetura e construção sustentáveis apresentam também vantagens económicas a longo prazo. Edifícios energeticamente eficientes permitem reduções significativas nos custos operacionais, oferecem maior conforto térmico e aumentam o valor patrimonial dos imóveis, enquanto contribuem para diminuir as necessidades energéticas e, consequentemente, as emissões de GEE associadas.

    Apesar disso, o investimento global ainda está aquém do necessário. Em 2022 foram investidos 285 mil milhões de dólares em iniciativas de descarbonização, segundo o Global Status Report for Buildings and Construction (UNEP, 2023). Este valor inclui tanto a construção de novos edifícios energeticamente eficientes, projetados desde a origem com soluções sustentáveis, como a reabilitação e renovação do parque edificado existente, que representa uma fatia significativa do consumo energético global.

    Intervenções como o reforço do isolamento térmico, a substituição de sistemas de climatização obsoletos, a instalação de painéis solares e a melhoria da eficiência energética em edifícios antigos são essenciais para reduzir as emissões associadas ao setor. No entanto, para que se cumpram os compromissos internacionais de neutralidade carbónica previstos até 2050, é necessário que este tipo de investimento cresça substancialmente nos próximos anos, tanto em volume, como em abrangência.

    Em suma, optar por uma construção e arquitetura sustentáveis é contribuir para um futuro mais justo, resiliente e habitável. O setor tem um papel central na resposta às alterações climáticas e cada decisão tomada hoje pode determinar o mundo onde viveremos amanhã.

     

    Figura 2. Fachada verde integrada num edifício de arquitetura sustentável, promovendo o isolamento térmico, a regulação da temperatura urbana e a eficiência energética, além de contribuir para a valorização estética e ambiental do espaço construído. Fonte: Banco de imagens Freepik.

     

    Arquitetar e construir um futuro sustentável

    A construção e a arquitetura sustentáveis não são apenas tendências passageiras, mas sim pilares fundamentais para um futuro mais equilibrado e resiliente. Adotar estas práticas significa assumir um compromisso com o planeta e com as gerações futuras, promovendo espaços mais eficientes, saudáveis e integrados no meio que os rodeia.

    Nos próximos textos, iremos explorar as principais metodologias associadas à arquitetura e construção sustentáveis, como as certificações LEED, BREEAM ou a metodologia BIM, que ajudam a orientar e avaliar práticas mais responsáveis no setor. Procuraremos ainda identificar exemplos concretos, tanto no contexto nacional como internacional. Será igualmente abordada a forma como os princípios ambientais estão integrados na legislação portuguesa, nomeadamente no que diz respeito à gestão de resíduos e à incorporação de materiais reciclados, refletindo sobre os desafios da sua aplicação e fiscalização no panorama atual.

     

    Referências

    Barker Associates, 2024. What is sustainable architecture? URL: https://www.barker-associates.co.uk/service/architecture/what-is-sustainable-architecture/ [Acedido em abril de 2025]

    Buildcare, 2024. A importância da construção sustentável. URL: https://www.buildcare.pt/blog/a-importancia-da-construcao-sustentavel/ [Acedido em abril de 2025]

    Guerreiro, Aline, 2025. Portugal deixa saldo negativo no cumprimento dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável. Observador. URL: https://observador.pt/opiniao/portugal-deixa-saldo-negativo-no-cumprimento-dos-objectivos-de-desenvolvimento-sustentavel/. [Acedido em abril de 2025].

    Instituto Nacional de Estatística, 2022. Estatísticas da Construção e Habitação 2021. Lisboa: INE. URL: file:///C:/Users/35193/Downloads/15Pub_EstConstHab_2021.pdf. [Acedido em abril de 2025]

    Leca Portugal, 2024. Arquitetura verde e sustentável. URL: https://www.leca.pt/arquitetura-verde-sustentavel [Acedido em abril de 2025]

    NUDURA by Constreco, 2024. Arquitetura sustentável em Portugal: o que é e como funciona. URL: https://nudurabyconstreco.pt/blog/arquitetura-sustentavel-portugal/ [Acedido em abril de 2025]

    United Nations Environment Programme (UNEP), 2024. Global Status Report for Buildings and Construction: Beyond foundations – Mainstreaming sustainable solutions to cut emissions from the buildings sector. Nairobi. https://doi.org/10.59117/20.500.11822/45095

    WTeam, 2023. Tendências da construção em Portugal: um olhar para o futuro. URL: https://wteam.pt/tendencias-da-construcao-em-portugal-um-olhar-para-o-futuro/ [Acedido em abril de 2025]