
Como podemos estar no mundo digital de forma mais sustentável
Vivemos cada vez mais ligados ao mundo digital. Comunicamos, trabalhamos, consumimos conteúdos, fazemos compras e guardamos memórias online, muitas vezes sem pensar no que isso implica. Este estilo de vida digital, aparentemente leve e instantâneo, depende de uma infraestrutura invisível e altamente exigente em termos de energia e outros recursos. À medida que utilizamos cada vez mais dispositivos (como computadores portáteis, telemóveis, tablets, consolas de jogos, televisores inteligentes, routers, servidores e centros de dados) e recorremos constantemente a aplicações e serviços online, o consumo energético e de recursos não renováveis cresce de forma acelerada.
Estima-se que o setor das Tecnologias da Informação e Comunicação (TIC), responsável por fornecer serviços digitais como Internet, vídeo e voz, emita mais de 830 milhões de toneladas de CO2 por ano, o equivalente a cerca de 4% das emissões globais (Digital for planet, 2020).
Neste contexto, no texto desta semana propomos refletir sobre o lado oculto do nosso dia a dia digital e identificar hábitos simples que podemos mudar para tornar a nossa presença online mais sustentável.

Figura 1 O aumento do número de equipamentos eletrónicos pessoais contribui para o crescimento do consumo energético e de recursos, reforçando a necessidade de uma utilização digital mais consciente e sustentável. (Fonte: Banco de Imagens Freepik, 2025).
Sustentabilidade digital
A sustentabilidade digital é um ecossistema que depende da ação conjunta de cidadãos, empresas e decisores políticos. À medida que o digital se torna central em todas as esferas da vida, é essencial garantir que esta transição não compromete os objetivos ambientais, sociais e económicos que procuramos alcançar.
A nível ambiental, o impacte do digital é real: mais energia consumida, mais resíduos eletrónicos, mais pressão sobre os recursos naturais. Mas, se bem direcionada, a tecnologia pode ser uma aliada na transição verde, apoiando modelos circulares, eficiência energética e soluções inovadoras.
A nível social, o digital deve ser uma força de inclusão, reduzindo desigualdades e promovendo o acesso equitativo à informação, aos serviços e às competências do século XXI.
A nível económico, a inovação tecnológica pode gerar valor sustentável, ajudando a otimizar consumos, reduzir emissões e integrar princípios ambientais no design e na utilização das ferramentas digitais.
A sustentabilidade digital, no fundo, é sobre garantir que o mundo digital em que vivemos hoje contribui para um futuro mais equilibrado e justo para todos.
Repensar os nossos hábitos digitais
Tornarmo-nos conscientes do impacte ambiental do nosso comportamento online é o primeiro passo para adotarmos hábitos digitais mais sustentáveis. Embora políticas e investimentos estruturais sejam essenciais, cada pessoa pode contribuir para a transição verde através de pequenas mudanças no seu dia a dia digital.

Figura 2. Reconhecer que o digital também tem pegada ecológica é essencial. Pequenos gestos no uso diário da tecnologia podem impulsionar grandes mudanças rumo à sustentabilidade.
Boas práticas para uma presença digital mais sustentável:
Optar por transferir conteúdos em vez de os visualizar em streaming: O vídeo em streaming representa uma das maiores fontes de tráfego de dados e consumo energético na Internet. Sempre que possível, recomenda-se a transferência dos ficheiros multimédia para o dispositivo, reduzindo assim a sobrecarga de servidores e redes. Deve também ser escolhida uma resolução adequada ao ecrã utilizado, evitando o uso desnecessário de alta-definição.
Reduzir o número de pesquisas online: Cada pesquisa efetuada consome energia nos centros de dados. Para minimizar este impacte, sugere-se a utilização de marcadores (favoritos) nos navegadores para páginas visitadas com frequência. Adicionalmente, pode optar-se por motores de busca com preocupações ambientais, como o Ecosia, Lilo ou Gexsi, que aplicam os seus lucros em ações sustentáveis.
Gerir e limpar regularmente a caixa de correio eletrónico: O armazenamento e envio de e-mails, especialmente com anexos pesados, tem um custo energético considerável. É aconselhável apagar mensagens antigas e desnecessárias, esvaziar regularmente a pasta de spam e rever subscrições de newsletters, mantendo apenas aquelas que são efetivamente consultadas. Também se deve evitar o envio de mensagens automáticas ou de cortesia que não acrescentam valor, sobretudo quando dirigidas a múltiplos destinatários.
Escolher fornecedores de serviços digitais com responsabilidade ambiental: Existem atualmente serviços de e-mail que operam com eletricidade proveniente de fontes 100% renováveis, como o Posteo, Mailbox.org ou Runbox. Estes serviços, para além de reduzirem o impacte ambiental, oferecem ainda vantagens ao nível da proteção de dados e da ausência de publicidade.
Partilhar ficheiros de forma mais eficiente: Sempre que necessário enviar documentos ou imagens, é preferível partilhá-los através de ligações para pastas na cloud, evitando o envio de múltiplas cópias por e-mail ou aplicações de mensagens. Este método reduz a duplicação de dados e a sobrecarga de armazenamento nos servidores.
Desativar notificações desnecessárias e promover pausas digitais: A receção de notificações por e-mail provenientes de redes sociais pode ser desativada, uma vez que muitas vezes replicam informações já acessíveis nas respetivas aplicações. Sempre que possível, é benéfico adotar períodos de desconexão digital, que contribuem tanto para o bem-estar pessoal como para a redução do consumo energético associado ao uso contínuo de dispositivos.
Conclusão
Estar presente no mundo digital é hoje inevitável, mas essa presença não tem de ser inconsciente. Ao reconhecermos que as nossas ações online têm consequências ambientais, abre-se espaço para escolhas mais equilibradas e responsáveis. Pequenos gestos individuais, quando adotados de forma generalizada, podem contribuir para reduzir o impacte do digital no planeta.
Promover a sustentabilidade digital é, acima de tudo, uma questão de consciência. Trata-se de fazer uso das ferramentas tecnológicas com critério, optando por soluções mais eficientes sempre que possível. Ao incorporar este olhar atento nas rotinas digitais do dia a dia, cada pessoa pode assumir um papel ativo na construção de um futuro mais sustentável.
Referências
ANDRS (2025). Your knowledge search comes at a price – Google Search vs AI-powered: An energy comparison. URL: https://www.andrs.nu/your-knowledge-search-comes-at-a-price-google-search-vs-ai-powered-an-energy-comparison/ [consultado em junho de 2025]
Digital for Planet – D4P. (2020). RE-think your digital habits [Relatório]. URL: https://digital4planet.org/ [consultado em junho de 2025]
Engineering Prompts. (2025). Does ChatGPT use 10x more energy than Google Search? Substack. URL: https://engineeringprompts.substack.com/p/does-chatgpt-use-10x-more-energy [consultado em junho de 2025]
The Guardian. (2025). Our digital addiction is costing the planet dearly. URL: https://www.theguardian.com/technology/2025/feb/11/our-digital-addiction-is-costing-the-planet-dearly [consultado em junho de 2025]