Economia circular e exemplos em várias áreas do dia-a-dia
Na semana passada, analisámos a insustentabilidade do modelo económico atual e a urgente necessidade de adotar novos modelos económicos. As atuais tendências, como o crescimento populacional, a crescente procura e a pressão resultante sobre os recursos naturais, têm sublinhado a necessidade de as sociedades modernas avançarem em direção a um paradigma mais sustentável. Isso implica uma economia mais “verde” que promova o desenvolvimento económico, a melhoria das condições de vida e de emprego, bem como a regeneração do capital natural.
Dentro destes novos modelos económicos destacámos a economia circular, que pode ser descrita como um modelo de produção e consumo em que se procura dissociar a atividade económica da extração de matérias-primas e da produção de resíduos. Em contraste com o modelo económico linear, o modelo circular está focado na ligação dos dois extremos, transformando o que hoje desperdiçamos em novos recursos para a economia.
As principais estratégias deste modelo incluem:
- O ciclo de vida prolongado dos produtos e dos materiais, através da sua reutilização, reparação e remanufactura;
- A produção inteligente, através do desenho de produtos e serviços que eliminam os resíduos e a poluição, e reduzem o consumo de recursos;
- O consumo consciente e a sensibilização da sociedade para escolhas sustentáveis e para a redução do desperdício;
- O restauro e renovação de recursos e dos serviços ambientais.
A Economia Circular no dia-a-dia
Hoje, analisaremos exemplos de como implementar o modelo de economia circular, em várias áreas do dia-a-dia. A transição de um modelo económico centrado num consumo linear para um modelo circular envolve, sobretudo, a alteração de hábitos e práticas. Neste sentido, listamos algumas sugestões de hábitos e comportamentos que podem ser adotados como um ponto de partida para iniciar essa transformação.
Repensar a alimentação
Ao selecionar frutas e hortícolas, prefira sempre os da época e, de preferência, locais. Esta escolha é importante uma vez que o consumo de frutas ou hortícolas fora de época, implica a utilização de mais água e energia para a sua produção. Além disso, o consumo de alimentos fora da sua estação natural, frequentemente, implica a sua importação de outros países, o que, por sua vez, contribui para a emissão de gases poluentes e uma pegada ecológica significativa.
O mesmo princípio deve ser aplicado no que diz respeito ao peixe à carne. É importante também considerar a escolha de espécies menos ameaçadas, sendo que estas informações relacionadas com o pescado podem ser consultadas no Cartão SOS Oceano. Ainda em relação ao pescado, pode optar por consumir pescado sustentável identificado pelo rótulo azul do Marine Stewardship Council.
Adicionalmente, os alimentos processados devem ser consumidos de forma bastante moderada, dado exigirem bastantes recursos para a sua produção e para as respetivas embalagens.
Reduzir para evitar o desperdício
Antes de efetuar qualquer compra, pondere cuidadosamente se realmente necessita do item em questão, o que contribuirá para a redução do seu consumo.
Quando se dirigir às compras, procure estabelecer menus semanais e favorecer a aquisição a granel, garantindo que adquire apenas o que é necessário.
Em casa, é relevante considerar formas de aproveitar qualquer excedente de alimentos. Por exemplo, as cascas de batata podem ser transformadas em snacks se forem assadas no forno com azeite, sal grosso e ervas. Além disso, caules, folhas e cascas de legumes, quando fervidos em lume brando, podem originar um caldo saboroso.
Reutilizar até não poder mais
Evite objetos de utilização única, como embalagens plastificadas de takeaway, talheres e copos descartáveis, palhinhas de plástico, etc. Opte por utilizar sacos reutilizáveis para as compras e leve as suas próprias embalagens para serviços de takeaway e compras a granel. Os supermercados já permitem esta prática, nomeadamente para produtos como fiambre e queijo.
Guarde recipientes em vidro, como frascos ou garrafas, para, por exemplo, armazenar alimentos.
Use o que tem em casa o máximo de vezes que puder, trocando por versões mais amigas do ambiente apenas no final de vida útil. As t-shirts velhas podem ser cortadas e usadas como panos de limpeza e as garrafas de plástico velhas para floreiras, sistemas de rega ou comedouro para pássaros.
Reflita sobre as várias possibilidades de reutilização e doação antes de descartar objetos. Instituições, escolas, família, amigos e colegas de trabalho podem receber os itens que já não precisa. Comprar produtos em segunda mão, como roupas, acessórios, mobiliário e dispositivos eletrónicos, também é uma opção a considerar, sendo que várias lojas já oferecem este serviço.
Reparar em vez de deitar fora
Se alguma coisa se estragar em casa, pense um pouco antes de se precipitar em deitá-la fora. Frequentemente, compensa considerar a opção de reparar, o que é vantajoso tanto economicamente quanto em termos ambientais. Ações simples, como colar uma sola de sapato, substituir um fecho, reparar uma torradeira ou adicionar prateleiras e puxadores a um armário, podem resultar em poupanças significativas, além de reduzir a carga nos aterros.
Muitas dessas reparações podem ser realizadas em casa, com alguma destreza manual – a internet disponibiliza uma variedade de tutoriais que pode consultar. Prolongar a vida útil dos objetos à nossa volta não só representa uma forma eficaz de poupar dinheiro, como também um contributo valioso para a preservação do ambiente.
Reciclar como parte de um ciclo
Terminada a vida útil de um objeto e não existindo mais a possibilidade de reutilização ou reparação, a reciclagem garante o seu regresso por outra via. Para tal, escolha um contentor para a sua casa que facilite a separação dos resíduos. Posteriormente, garanta que deposita o seu lixo nos locais corretos, permitindo que um produto seja novamente matéria-prima e não apenas mais volume num aterro. Se tiver dúvidas sobre como gerir os seus resíduos, pode recorrer à Wasteapp.
Relembramos a importância da adoção da economia circular no nosso quotidiano. A sua capacidade de promover a eficiência na utilização de recursos, mitigar o desperdício e estimular a sustentabilidade ambiental, torna-a fundamental nas ações do nosso dia-a-dia. Através da prática da reutilização, reciclagem e da reflexão sobre os nossos padrões de consumo, não apenas reduzimos o impacte negativo no meio ambiente, mas também estabelecemos oportunidades económicas de grande relevância. Assim, a sua adoção é essencial para construirmos um futuro mais sustentável e próspero.
Referências
APA (2021). Economia circular. URL: https://apambiente.pt/apa/economia-circular. [Acedido em novembro de 2023].
EDP (2022). 5 dicas para promover uma Economia Circular. URL: https://www.edp.com/pt-pt/sustentabilidade/economia-circular-papel-do-cidadao. [Acedido em novembro de 2023]
Goldenergy (2022). Economia linear e circular: saiba qual é melhor para o ambiente. URL: https://goldenergy.pt/blog/sustentabilidade/economia-linear-e-circular/. [Acedido em novembro de 2023]
Recicle (2021). A vida dá muitas voltas, ou melhor: “A Economia é muito Circular!”. URL: https://recicla.pt/ideias-sustentaveis/a-vida-da-muitas-voltas-ou-melhor-a-economia-e-muito-circular/. [Acedido em novembro de 2023]