Relatórios de sustentabilidade: referenciais e por onde começar
O “propósito de uma empresa” está a mudar, assim como as expetativas da sociedade sobre o conteúdo da sua comunicação, com uma pressão cada vez maior para a divulgação das estratégias, metas e desempenho nas áreas da sustentabilidade ambiental e social. Os investidores e as várias partes interessadas têm vindo a exigir mais informação sobre a criação de valor de longo prazo e o impacto mais amplo de uma empresa na sociedade.
Neste contexto, o reporte de informação não financeira, na forma de relatórios de sustentabilidade ou relatórios integrados, são instrumentos fundamentais para as empresas e organizações demonstrarem e comunicarem as suas metas, resultados e indicadores ambientais, sociais e de governança (ESG). Começaram a surgir em 1960, com o aparecimento do balanço social. Nessa época, a população demonstrava uma crescente preocupação com a prestação de contas das empresas à sociedade, bem como com sua atuação e contribuição para a igualdade e o desenvolvimento social.
Atualmente, os relatórios possibilitam às empresas serem transparentes sobre os riscos e oportunidades que enfrentam, enquanto permitem às partes interessadas terem um melhor conhecimento para além dos resultados financeiros. Além de serem o documento onde se apresentam as estratégias e políticas de sustentabilidade das organizações, acabam por representar, também, um exercício de reflexão importante, que conduz à definição de metas e objetivos em matéria de sustentabilidade.
Requisitos e referenciais
Ao elaborarem um relatório de informação não financeira, as empresas devem considerar alguns elementos-chave. Inicialmente, é importante definir de forma clara os objetivos do relatório, identificando as partes interessadas relevantes e suas expectativas. É, também, essencial estabelecer indicadores e métricas adequadas de forma a se monitorizar o desempenho sustentável da organização.
Desta forma, assistimos a um crescente desenvolvimento de leis e normativos que responsabilizam as organizações pelos seus impactos e que as obrigam a ser mais transparentes no reporte de informação não financeira, de que são exemplos a Diretiva da União Europeia 2014/95/EU, transposta para o Decreto Lei n.º 89/2017, que levou muitas organizações a começarem a abordar o tema da sustentabilidade na gestão diária das suas operações, ou o Regulamento EU 2019/2088 (Sustainable Finance Disclosure Regulation, SFDR), relativo à divulgação de informações relacionadas com a sustentabilidade no setor dos serviços financeiros.
Em simultâneo, verificou-se nos últimos anos uma proliferação de referenciais disponíveis para o reporting não financeiro, existindo, atualmente, um conjunto relativamente amplo de normas e orientações, tais como as da GRI (Global Reporting Initiative), que se assume como o principal referencial, a Framework do IIRC (International Integrated Reporting Council), as Recomendações do TCFD (Task Force on Climate-Related Financial Disclosures), o referencial proposto pelo WEF (World Economic Forum), as métricas dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável e da Agenda 2030, entre outros.
A estrutura do relatório de sustentabilidade pode variar de acordo com as diretrizes internacionais, sendo as da GRI as mais amplamente utilizadas, como anteriormente mencionado. Essas referências oferecem orientações para a elaboração do relatório, auxiliando na identificação dos temas mais relevantes a serem abordados e na definição dos indicadores de desempenho.
A importância dos relatórios de sustentabilidade
- Para as empresas:
Permite desenvolver uma estratégia de gestão orientada para o futuro. Ao elaborar o relatório, a organização necessita de informações consistentes sobre os impactos positivos e negativos da sustentabilidade, tanto causados pela empresa como por fatores externos, tais como alterações climáticas ou questões de direitos humanos. Desempenha também um papel fundamental na melhoria do diálogo entre os acionistas, uma vez que o relatório funciona como uma ferramenta de comunicação transparente, fortalecendo a confiança entre a organização e seus acionistas.
O relatório identifica de forma evidente os riscos e oportunidade ligados à sustentabilidade da empresa e desempenha um papel fundamental na consciencialização e mudança de mentalidade de todos, inspirando outras empresas e atores do setor a adotarem práticas sustentáveis, ao demonstrar os benefícios econômicos, sociais e ambientais que podem ser alcançados.
- Para a sociedade
Os relatórios de informação não financeira são de interesse público, já que permitem que a sociedade desenvolva uma mentalidade voltada para o desenvolvimento sustentável. Ao divulgar informações transparentes sobre as práticas e impactes, tanto positivos como negativos, socioambientais das empresas, estes documentos permitem aos cidadãos tomarem decisões informadas e responsáveis.
- Para o governo
Com os relatórios de informação não financeira são fornecidas informações que tanto o mercado quanto o governo podem utilizar para tomar decisões assertivas na procura de formas de medir seu progresso rumo ao desenvolvimento sustentável. O governo pode utilizar os relatórios de sustentabilidade como referência para políticas e regulamentações relacionadas à sustentabilidade, assim como para auxiliar na definição de metas e indicadores para monitorizar o progresso em direção ao desenvolvimento sustentável em nível nacional ou regional.
Benefícios dos relatórios de informação não financeira
Benefícios para a empresa | Benefícios externos |
Aumentam a compreensão dos riscos e oportunidades | Mitigação dos impactos ambientais, sociais e de governança negativos, melhorando a reputação e lealdade à marca; |
Enfatizam a ligação entre o desempenho financeiro e não financeiro | |
Influenciam a estratégia, política de gestão e planos de negócios a longo prazo | Permitir que as partes interessadas externas compreendam o verdadeiro valor da organização, juntamente com ativos tangíveis e intangíveis; |
Racionalizam os processos, redução de custos e melhoria da eficiência | |
Comparam e avaliam o desempenho de sustentabilidade em relação às leis, normas, códigos, padrões de desempenho e iniciativas voluntárias | Demonstrar como a organização influencia e é influenciada pelas expectativas sobre o desenvolvimento sustentável. |
Ajudam a empresa a evitar falhas ambientais, sociais e de governança públicas | |
Permitem a comparação entre o desempenho internamente, e entre organizações e setores |
Próximos passos no reporting de sustentabilidade
É evidente que a sustentabilidade nas empresas é um assunto com cada vez mais destaque, e o relato de informações não financeiras e de sustentabilidade é cada vez mais essencial. As empresas estão cada vez mais pressionadas a divulgar informações sobre sua criação de valor para a sociedade, abordando estratégias, metas e desempenho em sustentabilidade.
Neste contexto, a evolução regulatória, como a Diretiva da União Europeia 2014/95/UE e o Regulamento EU 2019/2088 (SFDR), bem como a proposta da Corporate Sustainability Reporting Directive (CSRD), estão a aumentar as exigências de transparência e prestação de contas das empresas.
A proposta da CSRD tem como objetivo ampliar significativamente o âmbito de aplicação, tornando obrigatório o relato de informações de sustentabilidade como parte integrante do relatório de gestão das empresas. Adicionalmente, propõe a verificação dessas informações por terceiros.
Esta iniciativa visa aprimorar o reporte de sustentabilidade, promovendo a divulgação direcionada, confiável e acessível de informações não financeiras. Pretende-se aproveitar o potencial do Mercado Único Europeu para impulsionar a transição para uma economia e sistema financeiro sustentáveis e inclusivos, em consonância com os objetivos do Pacto Ecológico Europeu e dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável.
A CSRD terá um alcance muito maior, abrangendo quase 50 000 empresas da União Europeia, em comparação com as 11 600 empresas anteriormente sujeitas a esses requisitos. Esta ampliação reflete a intenção de aumentar a transparência e a prestação de contas em relação à sustentabilidade por parte das empresas europeias.
A proposta da CSRD visa assegurar a disponibilização pública e adequada de informações confiáveis e comparáveis, colmatando a lacuna muitas vezes existente entre a informação divulgada e as necessidades dos utilizadores, especialmente para que estes possam avaliar os riscos associados às questões de sustentabilidade nas suas decisões de investimento.
Desta forma, o futuro do relato financeiro demonstra-se como obrigatório, direcionado e abrangente, impulsionando a sustentabilidade nas empresas e fornecendo informações essenciais para a tomada de decisões sustentáveis. Com a implementação das novas diretrizes, a sustentabilidade tornar-se-á um parâmetro obrigatório nos relatórios das empresas, preenchendo uma lacuna importante. Esta evolução reflete o compromisso crescente com a transparência e a responsabilidade corporativa, garantindo que os aspetos sustentáveis sejam devidamente considerados nas estratégias de negócio e nos investimentos.
Referências:
Avila, Rafael, (2023). Relatório de Sustentabilidade: o que é, exemplos e como fazer. URL : https://sustentabilidadeagora.com.br/relatorio-de-sustentabilidade/#Por_que_fazer_um_relatorio_de_sustentabilidade [Acedido em junho de 2023]
Ecovadis (2023). Relatório de sustentabilidade. URL: https://ecovadis.com/pt/glossary/sustainability-reporting/ [Acedido em junho de 2023]
Mota, Manuel (2023). Próximos passos no reporting de sustentabilidade. URL: https://www.ey.com/pt_pt/climate-change-sustainability-services/proximos-passos-no-reporting-de-sustentabilidade [Acedido em junho de 2023]
POLEN (2021). Global Reporting Initiative (GRI): tudo o que você precisa saber. URL: https://www.creditodelogisticareversa.com.br/post/t-global-reporting-initiative-gri-tudo-o-que-voce-precisa-saber [Acedido em junho de 2023]
PwC Portugal. (2022). Diretiva sobre o Reporte de Sustentabilidade Corporativo. URL: https://www.pwc.pt/pt/sustentabilidade/docs/pwc-sustentabilidade-diretiva-reporte.pdf. [Acedido em junho de 2023]