Digite o que quer pesquisar:

Make your own custom-made popup window!

Lorem ipsum dolor sit amet, consectetuer adipiscing elit, sed diam nonummy nibh euismod tincidunt ut laoreet dolore

    Fast Fashion: um problema que persiste e o que esperar do futuro

    BoG / Blog  / Fast Fashion: um problema que persiste e o que esperar do futuro

    Fast Fashion: um problema que persiste e o que esperar do futuro

    O fast fashion não é um conceito novo, mas continua a ser um dos grandes desafios ambientais e sociais do nosso tempo. A produção acelerada e em massa de peças de vestuário a preços reduzidos permite que os consumidores renovem o guarda-roupa constantemente. No entanto, este modelo de negócio gera impactes negativos significativos, desde a precariedade e exploração laboral grave a condições ambientais insustentáveis. Em 2024, o fast fashion não desacelerou e, apesar de um aumento na sensibilização para a moda sustentável, o setor continua a crescer. O que podemos esperar do futuro?

     

    O impacte do fast fashion

    A indústria da moda movimenta triliões de euros e emprega milhões de pessoas em todo o mundo. Desde o início dos anos 2000, a produção de vestuário duplicou e o consumo aumentou exponencialmente. No entanto, este crescimento tem um custo significativo:

      • Desperdício e consumo excessivo: a produção global de vestuário ultrapassa os 100 milhões de toneladas anuais, sendo que muitas peças são descartadas após menos de 10 utilizações, contribuindo para um ciclo de desperdício acelerado.
      • Impacte ambiental negativo: a indústria têxtil é responsável por cerca de 10% das emissões globais de carbono, ultrapassando o impacte combinado do setor da aviação e do transporte marítimo. Além disso, a produção de tecidos consome aproximadamente 141 mil milhões de metros cúbicos de água por ano, agravando a escassez hídrica em diversas regiões do mundo.
      • Poluição por microplásticos: cerca de 35% dos microplásticos encontrados nos oceanos provêm da lavagem de tecidos sintéticos como poliéster e nylon, representando uma ameaça crescente para os ecossistemas aquáticos.
      • Exploração laboral: milhões de trabalhadores do setor têxtil operam em condições precárias e frequentemente recebem remunerações inferiores ao salário mínimo.

     

    Figura 1. Loja de fast fashion exibe roupas a preços extremamente baixos, incentivando o consumo impulsivo. Fonte: Luli Monteleone, 2019

     

    Figura 2. Enorme aterro de resíduos têxteis demonstra o impacte ambiental desse modelo de produção. O ciclo acelerado do fast fashion contribui para o desperdício excessivo, agravando problemas ambientais e sociais em todo o mundo. Fonte: Máxima, 2025

     

    Fast fashion em 2024: crescimento e controvérsia

    Apesar do aumento da sensibilização ambiental, 2024 não foi o ano da mudança. O mercado do fast fashion cresceu 10,74% face ao ano anterior, atingindo os 136,19 mil milhões de dólares, e prevê-se que continue a crescer até 2032 a uma taxa de 10,7% ao ano.

     

    Figura 3. Dimensão do mercado de fast fashion no período de 2021 a 2024, com estimativas de crescimento para 2025, 2026 e 2027. Fonte: Uniform Market, 2025

     

    A expansão das plataformas online foi um dos principais motores desse crescimento, com empresas como Shein e Temu a consolidarem-se como líderes no mercado digital ao disponibilizarem milhões de produtos a preços extremamente reduzidos. Paralelamente, a dicotomia entre sustentabilidade e consumo manteve-se evidente. Um exemplo disso foi um questionário realizado no âmbito do estudo “The State of Fashion 2025: Challenges at every tirn” (McKinsey & Company, 2024) no qual 46% dos consumidores britânicos afirmaram evitar o fast fashion, mas mais de metade continua a adquirir essas peças regularmente, demonstrando uma desconexão entre a intenção e o comportamento real de compra.

    O impacte ambiental também se intensificou. O volume de resíduos têxteis descartados aumentou de forma significativa, ultrapassando os 11,3 milhões de toneladas nos Estados Unidos, o que representa um crescimento de 80% em relação ao ano 2000. Além disso, as taxas de reciclagem permanecem preocupantemente baixas, com menos de 1% das roupas usadas a serem convertidas em novas peças. A percentagem de poliéster reciclado tem vindo a diminuir, agravando ainda mais o problema da poluição por microplásticos.

    A crescente pressão social e governamental por práticas mais sustentáveis tem levado algumas marcas a adotarem medidas para reduzir o impacte ambiental negativo das suas marcas. No entanto, muitas destas iniciativas são criticadas por constituírem estratégias de greenwashing, sem mudanças estruturais efetivas nos modelos de produção. Com a legislação ambiental a apertar em algumas regiões, prevê-se que os desafios regulatórios se tornem um fator determinante para a evolução da indústria nos próximos anos. Neste contexto, temos o exemplo da Diretiva-Quadro Resíduos, em vigor desde 2008, que obriga os Estados-Membros a assegurarem a recolha seletiva de têxteis para reutilização, preparação para reutilização e reciclagem até 1 de janeiro de 2025. Na próxima semana, abordaremos em detalhe este requisito e os impactes que terá no setor.

     

    O futuro do fast fashion

    Se o ritmo atual se mantiver, o fast fashion continuará a expandir-se, resultando em impactes ambientais e sociais negativos severos. Estima-se que, se 80% da população de países emergentes atingir o nível de consumo de vestuário dos países ocidentais, a pressão sobre os recursos naturais e os ecossistemas aumentará drasticamente, exacerbando a crise climática global.

    Contudo, algumas soluções estão a surgir e a ganhar força no setor:

      • Regulações ambientais mais rígidas – Governos e entidades reguladoras estão a implementar medidas para exigir maior responsabilidade das marcas. Entre elas estão restrições à incineração de excedentes de stock, maior transparência na cadeia de fornecimento e incentivos para a inclusão de materiais reciclados nos produtos.
      • Moda circular – A reciclagem e a reutilização de roupas estão a tornar-se estratégias fundamentais para reduzir o desperdício têxtil. Embora a escalabilidade ainda seja um desafio, iniciativas como programas de recolha e revenda de vestuário usado têm vindo a crescer em popularidade.
      • Mudança nos hábitos de consumo – A geração Z e os consumidores mais jovens demonstram um interesse crescente por alternativas sustentáveis, incluindo a compra de peças em segunda mão, o aluguer de roupas e a preferência por marcas com práticas éticas e ecológicas.
      • Inovação em materiais sustentáveis – O desenvolvimento de novos tecidos biodegradáveis e a adoção de materiais inovadores, como couro de micélio (derivado de fungos) e algodão regenerativo, apresentam-se como alternativas promissoras para reduzir o impacte ambiental da indústria da moda.
      • Adoção de tecnologia na produção – A implementação de tecnologias mais eficientes, como a impressão 3D e métodos de tingimento sem água, pode contribuir para minimizar o desperdício e diminuir a pegada ecológica da produção têxtil.

     

    Conclusão

    O fast fashion continua a dominar a indústria têxtil, mas o seu impacte ambiental e social é cada vez mais evidente. Apesar das promessas de maior sustentabilidade, a realidade é que o modelo de consumo rápido e barato ainda prevalece. A chave para uma mudança significativa está na combinação de regulação, inovação e um esforço genuíno por parte das empresas e consumidores para priorizar a sustentabilidade. O futuro do fast fashion ainda é incerto, mas uma coisa é clara: a mudança é necessária, e quanto mais cedo, melhor.

     

     

    Referências

    UniformMarket. (2025). Fast fashion statistics. Retrieved January 30, 2025, URL: https://www.uniformmarket.com/statistics/fast-fashion-statistics [Acedido em janeiro de 2025].

    McKinsey & Company. (2025). What is fast fashion? Retrieved January 30, 2025, URL: https://www.mckinsey.com/featured-insights/mckinsey-explainers/what-is-fast-fashion [Acedido em janeiro de 2025].

    Business of Fashion. (2024). The state of fashion 2024: Fast fashion, retail, customer experience, regulation, Shein, Temu. Retrieved January 30, 2025, URL: https://www.businessoffashion.com/articles/professional/the-state-of-fashion-2024-report-fast-fashion-retail-customer-experience-regulation-shein-temu/ [Acedido em janeiro de 2025].