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    Financiamento bancário e crise climática

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    Financiamento bancário e crise climática

    Num momento em que os efeitos das alterações climáticas se tornam cada vez mais visíveis e extremos, seria de esperar que os compromissos com a transição energética guiassem as decisões dos grandes grupos financeiros globais. No entanto, o mais recente relatório Banking on Climate Chaos 2025 vem mostrar o contrário: em 2024, os 65 maiores bancos mundiais financiaram empresas de combustíveis fósseis com cerca de 869 mil milhões de dólares. Um aumento de 23% face ao ano anterior, que levanta sérias questões sobre a coerência entre as promessas públicas e as práticas reais do setor financeiro.

     

    Figura 1. Evolução do financiamento bancário global a combustíveis fósseis (2021–2024). Fonte: Banking on Climate Chaos (2025).

     

    O relatório Banking on Climate Chaos 2025, elaborado por uma coligação de organizações internacionais como a Rainforest Action Network, a Reclaim Finance e a Urgewald, identifica os grandes bancos norte-americanos como os principais responsáveis pelo aumento do financiamento ao setor dos combustíveis fósseis em 2024.

    Os dados revelam que os cinco principais financiadores canalizaram individualmente dezenas de mil milhões de dólares para este tipo de atividades, contrariando os compromissos públicos assumidos no âmbito da transição energética. Entre os destaques:

    • JPMorgan Chase lidera o ranking global, com 53,5 mil milhões de dólares investidos, representando um crescimento de 39% em relação a 2023.
    • Bank of America, Citigroup e Wells Fargo mantêm-se entre os maiores financiadores, cada um com investimentos superiores a 30 mil milhões de dólares.
    • Barclays, com mais de 24 mil milhões de dólares, destaca-se como o banco europeu com maior exposição ao setor fóssil.

    Em conjunto, estas cinco instituições, todas sediadas nos Estados Unidos, foram responsáveis por cerca de 21% do total do financiamento global a combustíveis fósseis em 2024. Estes números ilustram o peso desproporcionado de um grupo restrito de bancos na manutenção da economia fóssil, apesar das metas climáticas internacionais.

     

    Expansão em vez de transição: financiamento direcionado para novos projetos fósseis

    O aspeto mais preocupante do relatório prende-se com o destino dos fundos. Estima-se que cerca de 429 mil milhões de dólares, quase metade do total reportado, tenham sido alocados especificamente a projetos de expansão da indústria dos combustíveis fósseis.

    Estes montantes não se destinam à manutenção ou descarbonização de ativos existentes, mas sim ao financiamento de novas explorações, oleodutos, terminais de gás natural liquefeito e refinarias, projetos que aumentam a capacidade produtiva de petróleo, gás e carvão.

    Esta orientação é profundamente incompatível com os alertas da Agência Internacional de Energia (IEA), que desde 2021 tem defendido que não deve haver qualquer novo investimento em combustíveis fósseis se o mundo quiser cumprir os objetivos estabelecidos no Acordo de Paris. Em vez de apoiar uma transição energética equitativa e sustentável, o sistema financeiro continua a apostar no prolongamento da economia fóssil.

     

    Figura 2. O financiamento contínuo a infraestruturas intensivas em carbono, como centrais termoelétricas a carvão, representa um dos principais entraves à transição energética e contribui significativamente para o agravamento das alterações climáticas. Fonte: Banco de Imagens Fereepik, 2025.

     

    Compromissos falhados e urgência de uma regulação vinculativa

    Embora muitas destas instituições financeiras façam parte de alianças como a Net-Zero Banking Alliance, apresentando-se publicamente como comprometidas com a neutralidade carbónica, os dados evidenciam um desfasamento crítico entre os compromissos anunciados e as práticas efetivas.

    De acordo com o relatório, a maioria dos bancos analisados aumentou o seu financiamento a atividades fósseis em 2024, enfraquecendo a confiança nas estratégias voluntárias de autorregulação. Esta realidade tem sido fortemente criticada por organizações da sociedade civil, que apelam à implementação de mecanismos de regulação obrigatórios que imponham limites claros ao financiamento de atividades com elevado impacto climático.

    Entre as propostas destacam-se:

    • Requisitos de transparência obrigatória sobre os fluxos financeiros relacionados com combustíveis fósseis;
    • Introdução de limites legais ao financiamento de projetos de expansão fóssil;
    • Integração do risco climático na supervisão prudencial do setor bancário.

    A crescente evidência da falência dos mecanismos voluntários reforça a urgência de uma ação regulatória coordenada que alinhe o setor financeiro com os compromissos climáticos globais.

     

    Conclusão: uma questão de coerência, responsabilidade e futuro

    O aumento do financiamento a combustíveis fósseis em 2024 demonstra que, apesar do consenso científico sobre os riscos climáticos, o sistema financeiro global continua a priorizar o lucro de curto prazo em detrimento da sustentabilidade a longo prazo.

    Se os compromissos com o clima forem para levar a sério, é fundamental garantir que o financiamento bancário esteja alinhado com os objetivos da transição energética e da justiça climática. O capital não pode continuar a alimentar o problema, tem de ser parte da solução.

     

    Referencias

    Público (2025). Bancos financiaram combustíveis fósseis com quase 870 mil milhões de dólares em 2024. URL: https://www.publico.pt/2025/06/17/azul/noticia/bancos-financiaram-combustiveis-fosseis-quase-870-mil-milhoes-dolares-2136994 [Acedido em julho de 2025]

    Expresso (2025). Grandes bancos financiaram combustíveis fósseis com quase 870 mil milhões de dólares. URL: https://expresso.pt/economia/2025-06-17-grandes-bancos-financiaram-combustiveis-fosseis-com-quase-870-mil-milhoes-de-dolares-f41b191b [Acedido em julho de 2025]

    Banking on Climate Chaos (2025). Relatório Anual – Financiamento bancário global aos combustíveis fósseis. URL: https://www.bankingonclimatechaos.org [Acedido em julho de 2025]