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    Incêndios Florestais: O que o Mundo está a fazer e o potencial para Portugal

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    Incêndios Florestais: O que o Mundo está a fazer e o potencial para Portugal

    Como temos explorado nas últimas semanas, os incêndios florestais são uma ameaça crescente em Portugal, com um impacte devastador no ambiente, na economia e nas comunidades locais. Nos últimos anos, a ausência de políticas de proteção, fenómenos meteorológicos extremos e secas agravaram o risco e a frequência destes incêndios, exigindo soluções inovadoras e eficazes.

    Hoje, exploramos o que o mundo, especialmente as regiões do Mediterrâneo e outros locais mais suscetíveis a fogos de grandes dimensões, como a Califórnia e a Austrália, têm feito para detetar e combater incêndios florestais, refletindo sobre a capacidade destas tecnologias serem aplicadas em Portugal.

     

    O que o Mundo está a fazer e que sistemas de deteção de incêndios são mais usados

    Em várias regiões críticas do planeta, medidas estratégicas e tecnologias avançadas têm sido adotadas para prevenir e mitigar incêndios. Espanha, o nosso vizinho mais próximo, está a atravessar uma fase muito complexa, com uma das ondas de calor mais intensas de sempre que contribuiu para uma era de incêndios severos. Nos últimos anos, o país tem investido em sistemas de vigilância por vídeo, integrados em redes de comunicação rápida, que proporcionam deteção precoce e avisos instantâneos às equipas de emergência.

    Do lado oposto do oceano atlântico podemos observar o caso da Califórnia, que com o uso de inteligência artificial analisa em tempo real dados de vídeo, sensores remotos, drones e imagens LiDAR. Isto permite identificar focos iniciais de incêndio, antecipando a propagação. Estas tecnologias não só aceleram a deteção, como também ajudam a prever o comportamento da frente do fogo.

     

    Entre as tecnologias com provas dadas em várias partes do mundo, destacam-se:

    Sistema de Videovigilância com IA em Castilla y León (Espanha)

    Este sistema utiliza centenas de câmaras georreferenciadas, ligadas por redes sem fios, que analisam vídeo em tempo real com inteligência artificial para detetar fumo e focos de incêndio. A tecnologia permite monitorização contínua, distingue focos pequenos e reduz falsos alarmes. Foi implementada com fundos europeus e já demonstrou reduzir o tempo de resposta em várias operações.

     

    Figura 1 – Câmara de videovigilância similar à utilizada em Castilla y León Fonte: Banco de imagens Freepik, 2025

     

     

    REDE ALERTCalifornia (Estados Unidos)

    Uma rede extensa com mais de mil câmaras e sensores LiDAR, que mapeiam o terreno em 3D e monitorizam a vegetação e temperatura. Permite deteção imediata e também prevê o avanço do fogo para otimizar intervenções. É considerada uma referência mundial em antecipação e combate.

     

    Satélites FireSat (Projeto Internacional, Google e parceiros)

    FireSat é um conjunto de satélites que permite identificar incêndios extremamente pequenos minutos após o início, com capacidade para monitorizar globalmente regiões remotas e inacessíveis. A tecnologia está operacional desde o início deste ano e é uma ferramenta complementar à deteção terrestre e aérea.

     

    O que é aplicável em Portugal

    O nosso país apresenta características ambientais e desafios específicos que influenciam fortemente o risco e a propagação de incêndios florestais. Portugal destaca-se pela predominância de clima mediterrânico, com verões longos e secos, invernos amenos e fortes períodos de vento, fatores que facilitam a rápida ignição e disseminação de incêndios.

    A estes fatores não passíveis de controlo efetivo, ainda se associam a fragmentação da propriedade rural, a gestão pouco ativa da floresta, o despovoamento das zonas do interior e o abandono agrícola que tornam Portugal num país com características muito próprias quanto à gestão do risco de incêndio florestal.

     

    Figura 2 – Foco inicial de um fogo florestal Fonte: Banco de imagens Freepik, 2025

     

    A topografia acidentada de muitas regiões dificulta o acesso dos meios terrestres, tornando a deteção precoce e o ataque rápido ainda mais críticos. Além disso, Portugal tem registado uma tendência crescente de fogos de grandes dimensões, muitas vezes alimentados por condições meteorológicas extremas que podem ser associadas às alterações climáticas.

    Face a esta realidade, as soluções tecnológicas já testadas noutras regiões podem ser adaptadas ao nosso contexto nacional, nomeadamente:

    A implementação de redes de videovigilância: à semelhança do que se faz em Castilla y León, Portugal poderá reforçar e expandir a instalação de câmaras inteligentes, sobretudo em zonas florestais estratégicas, áreas protegidas e junto a povoações vulneráveis. Em Portugal, já está implementado um conjunto de projetos nesta área. Um exemplo relevante é o CICLOPE, sistema nacional de monitorização de incêndios florestais que integra torres de vigilância remota, deteção automática com inteligência artificial, e centros de controlo para fornecer informação em tempo real. O CICLOPE cobre atualmente cerca de 45% do território nacional continental, com mais de 140 torres e 50 centros de gestão, sendo capaz de detetar rapidamente focos emergentes e apoiar a primeira resposta, mesmo de noite e em condições adversas. Este projeto ilustra bem o potencial nacional na aplicação de soluções tecnológicas avançadas na proteção florestal.

    O uso de drones e sensores para mapas 3D: Adotar drones e sensores LiDAR para monitorização do terreno e identificação de alterações na vegetação é especialmente relevante em regiões de acesso difícil e grande carga combustível, acelerando o reconhecimento e a resposta.

     

    Figura 3 – Fotografia do momento inicial de voo de um drone Fonte: Banco de imagens Freepik, 2025

     

    Complementaridade com satélites FireSat: Contratar serviços ou integrar dados provenientes de satélites focados na deteção precoce, como a rede FireSat, pode ser fundamental para cobrir áreas remotas, reforçando a capacidade nacional de alerta.

    Apoio à cooperação transfronteiriça: A melhoria na partilha de dados e coordenação com Espanha, através de projetos colaborativos como o ARIEM+, fortalece as capacidades conjuntas de resposta e prevenção, sobretudo em regiões fronteiriças ou de interesse comum.

     

    Conclusão

    Portugal enfrenta desafios únicos na gestão dos incêndios florestais, muitos partilhados por vizinhos mediterrânicos e outros países de clima similar. As experiências internacionais demonstram que o investimento em tecnologias de deteção precoce e monitorização avançada, quer através de videovigilância inteligente, drones, sensores ambientais, quer pela integração de dados de satélite, pode fazer a diferença no controlo inicial dos incêndios, minimizando danos e protegendo vidas e património.

    A replicação e adaptação destas soluções, aliada à gestão ativa do território, educação das comunidades locais e reforço da cooperação internacional, constituem o caminho a seguir para tornar Portugal menos vulnerável ao flagelo dos incêndios florestais. O futuro da nossa floresta depende do reconhecimento do problema, da inovação tecnológica e de um compromisso coletivo com a prevenção.

     

    Referências: