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    Incêndios florestais: onde estamos?

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    Incêndios florestais: onde estamos?

    O fogo é parte integrante dos ecossistemas, essencial no equilibro dos mesmos e assumindo um importante papel na área da biodiversidade e criação de habitats. O fogo moldou a vegetação nativa e favoreceu as espécies que a ele se conseguiram adaptar, regenerando-se com maior intensidade após os incêndios. Nestes casos, o fogo é uma força ecológica fundamental, que determina a forma, estrutura e diversidade da paisagem. Para além destes ecossistemas adaptados ao fogo, há também os ecossistemas sensíveis ao fogo, que são aqueles que, por não estarem habituados a sofrer com a problemática dos incêndios, não desenvolveram mecanismos de adaptação, sendo mais sensíveis à passagem do fogo e sofrendo consequências mais evidentes. À ocorrência de um fogo que não é controlado pelo homem e afeta a vegetação que cobre os terrenos florestais, chamamos “incêndio florestal”. Zonas secas, sub-humanas e semiáridas são mais suscetíveis à ocorrência de grandes incêndios florestais do que zonas que não permitem uma vegetação contínua, devido à acumulação de combustível com baixos índices de humidade.

     

    Todos os anos os incêndios florestais destroem, em todo o mundo, extensas áreas de floresta, sendo a região do mediterrâneo uma das mais fortemente afetadas devido às características do seu clima, tão propício à ocorrência de fogos florestais de grandes dimensões. Os seus verões caracterizam-se pelas temperaturas elevadas e precipitação reduzida, tornando a vegetação facilmente inflamável devido à secura estival, fatores que as alterações climáticas têm vindo a acentuar.

     

    Em Portugal, os incêndios florestais são um dos maiores problemas da floresta, prejudicando atividades recreativas e económicas, colocando em risco a segurança das populações, destruindo infraestruturas e alterando a paisagem. O regime de fogo atual reflete as alterações significativas que têm ocorrido no uso do solo, resultantes do progressivo abandono rural, que originou paisagens mais homogéneas e inflamáveis pela grande acumulação de biomassa.

     

    Na figura seguinte é possível observar a evolução do número de incêndios e área ardida em Portugal continental. Nas duas últimas décadas, a área média anual percorrida pelo fogo mais do que duplicou face ao decénio 1980-1989. No período entre 2020 e 2025, a área ardida já é superior em mais de 40% ao registado no decénio 1980-1989, com 631 994 ha.

     

    Figura 1 – Incêndios florestais e área ardida desde 1980. Os dados de 2025 referem-se ao período compreendido entre 1 de janeiro até 31 de agosto. Fonte: Pordata e ICNF (setembro de 2025).

     

    A floresta integra um importante património natural, com relevância ambiental, económica e social, e cada vez mais é reconhecida por todos como um espaço de extrema importância para a qualidade de vida da sociedade e para a manutenção dos recursos naturais. Nas últimas décadas, a floresta portuguesa evoluiu, progrediu, regrediu e transformou-se, quer de forma natural, quer por ações antrópicas, mas mantendo-se como uma fonte de riqueza essencial à vida, que é necessário cuidar e preservar. Para que sejam mantidos os altos valores económicos associados ao sector florestal, assegurando a sua competitividade e sustentabilidade, é necessário garantir que tanto os riscos reais como os riscos percebidos são diminuídos, sendo este aspeto uma importante componente da estratégia florestal adotada nas últimas duas décadas.

     

    Também noutros países do sul da Europa, como a Espanha e a Grécia, se tem vindo a registar um aumento da área ardida e do número de incêndios de grandes dimensões, conforme já referido, um dos motivos pelo qual a Comissão Europeia tem procurado desenvolver esforços para mitigar os impactes dos incêndios florestais e anunciou recentemente que pretende criar um centro europeu de combate a incêndios.

     

    Embora os incêndios florestais não sejam um fenómeno recente, a profunda transformação verificada no país nas últimas cinco décadas tem conduzido ao seu aumentando em frequência, dimensão e intensidade. Face a esta realidade, é urgente reforçar a aposta estratégica na prevenção, na educação, na gestão florestal e no ordenamento do território. Nas próximas semanas, analisaremos a forma como a floresta portuguesa tem evoluído ao longo das décadas, o modo como a legislação se tem adaptado e se está a servir, ou não, o seu propósito, exploraremos os sistemas de deteção de incêndios florestais em utilização noutras áreas do globo e o que se prospetiva para os próximos anos tendo em conta o previsível agravamento das consequências das alterações climáticas.