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    O abutre-preto: factos e importância

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    O abutre-preto: factos e importância

    Embora o abutre-preto tenha enfrentado um declínio acentuado na Europa, os progressos são promissores. Graças à recuperação das populações espanholas, esta espécie está a regressar a várias regiões da Europa, desde Portugal e França à Bulgária, criando esperança para a sobrevivência e o regresso definitivo desta criatura majestosa.

    Os números divulgados pelo LIFE Aegypius Return, sobre a última época de reprodução desta espécie, indicam que a espécie se está a expandir em território nacional.

    Hoje damos a conhecer melhor o abutre-preto, a sua importância e os principais programas de conservação que estão a dar uma nova esperança na recuperação da espécie. Na próxima semana, abordaremos os principais progressos e resultados agora divulgados pelo projeto LIFE Aegypius Return.

     

    Afinal, que animal é este?

    O abutre-preto (Aegypius monachus) é a maior ave de rapina da Europa e uma das maiores e mais pesadas do mundo, com uma envergadura de aproximadamente 3 m. A maturidade sexual é alcançada aos 4 anos e a idade adulta definitiva aos 6 anos, podendo viver até aos 35-40 anos.

    Figura 1. Abutre-preto. Fonte: SPEA, 2024

     

    1. Estatuto de Conservação

    Quase ameaçada, com população em declínio (Global) / Criticamente em perigo (Portugal) / Vulnerável (Espanha).

    1. Alimentação

    Alimenta-se de carcaças de animais (mamíferos de médio ou grande porte, como coelhos, herbívoros selvagens e domésticos).

    1. Reprodução

    O abutre-preto nidifica em colónias dispersas e constrói ninhos de grande dimensão, sobretudo em árvores como azinheiras (Quercus rotundifolia), sobreiro (Quercus suber), pinheiro-bravo (Pinus pinaster) e zimbro (Juniperus oxycedrus). A época de reprodução decorre entre fevereiro e setembro. Forma casais monogâmicos e atinge a maturidade sexual aos 5-6 anos de idade. A postura é de apenas um ovo, ocorrendo entre fevereiro e abril, e a incubação dura cerca de 57 dias. As crias permanecem no ninho cerca de 110 a 120 dias.

    1. Distribuição Geográfica

    Na Europa, está presente na Península Ibérica, incluindo Baleares, e nos Balcãs. Depois na Turquia, através do Cáucaso, Irão, Afeganistão até ao sul da Sibéria, Mongólia e norte da China e extremo norte da Índia. Populações invernantes até ao sul do Sudão, Médio Oriente, Paquistão, noroeste da Índia e Coreia (Figura 2).

    Figura 2. Distribuição mundial do abutre-preto. Fonte: LPN, 2024

     

    Em Portugal, ocorre no Leste e Centro-Sul do território continental, ao longo da região fronteiriça do território continental entre Beira Baixa e o Baixo Alentejo, sendo um visitante esporádico na região do Douro Internacional. Pode ser observado durante todo o ano, sobretudo ao longo da fronteira leste com Espanha (Figura 2). Depois de um declínio acentuado ao longo da primeira metade do séc. XX e de se ter extinguido como reprodutor nos anos 70, em 2010, 4 casais de abutre-preto voltaram a nidificar em Portugal, na região do Tejo Internacional, dos quais 2 tiveram sucesso reprodutor.

    Figura 3. Ocorrência do abutre-preto na Península Ibérica. Fonte: LPN, 2024

     

    As principais ameaças

    As principais ameaças que afetam as populações de abutre-preto são:

      • O envenenamento ilegal é a ameaça mais significativa para os abutres em todo o mundo e para o abutre-preto na Península Ibérica;
      • Colisão ou electrocução em linhas elétricas aéreas;
      • Abate ilegal;
      • Redução da disponibilidade trófica devido à escassez do coelho-bravo, e a medidas sanitárias que obrigam a recolher todos os cadáveres de gado;
      • Degradação do habitat de alimentação devido a práticas agrícolas, pastoris e silvícolas mais intensivas;
      • Perturbação humana nas zonas de nidificação;
      • Implantação de parques eólicos e de infraestruturas hidráulicas perto de áreas de nidificação e instalação de barragens que reduzem o habitat de alimentação;
      • Resíduos de medicamentos e de metais pesados (chumbo) nas carcaças do gado doméstico e/ou silvestre.

     

    A importância desta espécie

    Sob falsas crenças, há muito que os abutres são estigmatizados e difamados na cultura popular, sendo frequentemente retratados como símbolo de morte e decadência. No entanto, contrariamente a esta perceção, estas aves desempenham um papel crucial e insubstituível na manutenção do delicado equilíbrio dos nossos ecossistemas.

    Sem esperar nada em troca, os abutres fornecem importantes serviços dos ecossistemas, que são as contribuições que os ecossistemas ou a vida selvagem fazem para o bem-estar humano. Por serem necrófagos obrigatórios, desempenham um papel crucial nos ecossistemas através da reciclagem de nutrientes, da remoção de contaminantes do solo e da água e da regulação da propagação de doenças.

    Estudos recentes demonstraram que os abutres proporcionam um serviço de eliminação de carcaças eficiente, económico e ambientalmente benéfico, valorizado pelos criadores de gado. Ao eliminar de forma célere os cadáveres de animais domésticos e selvagens, juntamente com as outras espécies necrófagas, contribui para o controlo de doenças, assim como pode reduzir significativamente as emissões de gases com efeito de estufa e os custos económicos decorrentes da recolha e transporte de carcaças para centrais de processamento.

    Além do seu papel ecológico, o abutre-preto tem também um significado cultural em muitas regiões do mundo. Em algumas culturas, estas aves são veneradas como símbolos de poder, força e liberdade. Observar os abutres no seu habitat natural tem um valor potencial significativo, e o ecoturismo em torno das áreas de reprodução e alimentação dos abutres pode gerar importantes fontes de rendimento local.

     

    Como é que esta espécie está a ser protegida?

    O projeto LIFE Aegypius Return pretende, a longo prazo, assegurar o estado de conservação favorável do abutre-preto em Portugal, consolidando, expandindo e acelerando a recolonização natural, melhorando o habitat e a disponibilidade alimentar e mitigando as ameaças. A curto prazo, tem como objetivo duplicar a população reprodutora em Portugal (de 40 para 80 casais) e aumentar o seu sucesso reprodutivo (de 0,38 para 0,5).

    Até dezembro de 2027 (final do projeto), ambicionam melhorar o estatuto de conservação do abutre-preto em Portugal, passando de “Criticamente em Perigo” para “Em Perigo”.

    De seguida, listam-se as principais ações do projeto:

    • Reabilitar e libertar aproximadamente 20 abutres-pretos na frágil colónia de reprodução do Douro Internacional para promover o crescimento populacional;
    • Equipar 60 indivíduos com transmissores GPS para melhorar o conhecimento sobre a população, o uso do habitat, as causas de mortalidade, os movimentos e o comportamento alimentar;
    • Construir 120 plataformas-ninho artificiais em áreas com elevado potencial reprodutivo e reparar 105 ninhos existentes para melhorar a disponibilidade e a segurança dos ninhos, atrair novos casais e reduzir falhas na reprodução;
    • Estabelecer dois novos campos de alimentação suplementar e renovar um terceiro, e criar 66 áreas de alimentação não vedadas em torno das principais colónias para reforçar a população e promover a conectividade;
    • Gerir e melhorar 570 ha de habitat e criar 25 km de faixas corta-fogo para aumentar a resiliência, face às alterações climáticas e aos incêndios florestais;
    • Reforçar a capacidade das autoridades portuguesas para combater o envenenamento e crimes contra a vida selvagem, estabelecendo também duas novas brigadas cinotécnicas antiveneno;
    • Promover a transição de 14 zonas de caça e 300 caçadores para o uso de munições sem chumbo, para reduzir o envenenamento por chumbo;
    • Envolver as partes interessadas relevantes na conservação do abutre-preto e implementar uma campanha de sensibilização pública em larga escala.

     

    O projeto LIFE Rupis, que decorreu entre julho de 2015 e junho de 2020, nas áreas protegidas do Douro Internacional e Vale do Rio Águeda e dos Arribes del Duero, reforçou as populações de britango e águia-perdigueira nesta região, através da redução da sua mortalidade e do aumento do seu sucesso reprodutor. O abutre-preto e o milhafre-real são espécies que também beneficiaram das ações do projeto.

     

     

    Para além do seu potencial como atrativo turístico, os abutres da região desempenham um importante papel de defesa da saúde pública: ao alimentar-se de animais mortos, eliminam potenciais fontes de doenças.

    Ao proteger o abutre-preto, não estamos apenas a preservar uma espécie vital, mas também a ajudar a manter a saúde e o equilíbrio do ecossistema. Apoiando os esforços de conservação ou divulgando a importância da espécie, todos contribuímos para garantir a sobrevivência do abutre-preto para as gerações futuras!

     

     

    Referências

    LIFE Aegypius return (2024), https://4vultures.org/life-aegypius-return/. Acedido em novembro de 2024.

    LPN (2024). Abutre-preto, http://habitatlinceabutre.lpn.pt/homepage/abutre-preto/content.aspx?tabid=2388&code=pt. Acedido em novembro de 2024.

    Público (2024). Abutre-preto: números continuam a crescer em Portugal e Pousio é um dos membros da nova colónia, https://www.publico.pt/2024/11/25/azul/noticia/abutrepreto-numeros-continuam-crescer-portugal-pousio-membros-nova-colonia-2113283. Acedido em novembro de 2024.

    SPEA (2024). Abutre-preto, https://spea.pt/aves/abutre-preto/. Acedido em novembro de 2024.

    Wilder (2024). Abutre-preto: Este ano contaram-se mais de 108 casais nidificantes e 48 crias bem-sucedidas, https://wilder.pt/historias/abutre-preto-em-2024-houve-mais-de-108-casais-nidificantes-e-48-crias-bem-sucedidas. Acedido em novembro de 2024.