
O custo global da inação climática
No texto da semana passada, analisámos os retrocessos ambientais nas políticas climáticas da administração Trump. Muitas destas decisões foram justificadas com o argumento de que as medidas ambientais representam um entrave ao crescimento económico. Mas será que ignorar a crise climática beneficia realmente a economia?
A resposta é clara: o custo da inação climática é muito superior ao investimento em medidas de mitigação e adaptação. Os impactes negativos do aquecimento global já se fazem sentir em todo o mundo, afetando cadeias de abastecimento, infraestruturas e a estabilidade financeira de empresas e países. No texto desta semana, analisamos os custos económicos da crise climática e como as organizações podem proteger-se através da adaptação e mitigação.
Os impactes económicos da crise climática
Desde o ano 2000, as alterações climáticas já provocaram mais de 3,6 triliões de dólares em prejuízos a nível global. Se não forem tomadas medidas urgentes e eficazes, o Produto Interno Bruto (PIB) mundial poderá cair até 22% até 2100, refletindo um impacte económico severo e prolongado (Green Economy, 2024).
A crise climática não é uma ameaça futura, os seus efeitos já são visíveis e estão a perturbar a economia global, afetando a forma como países e empresas operam no dia a dia. Eis alguns exemplos concretos dos impactes económicos diretos das alterações climáticas:
- Interrupção da produção industrial – Em 2022, uma seca extrema na província chinesa de Sichuan reduziu a capacidade de produção hidroelétrica em 20%, levando grandes empresas – como Toyota e Foxconn – a suspender a produção nas suas fábricas devido à falta de energia. Este tipo de perturbação demonstra como os eventos climáticos podem afetar cadeias de abastecimento globais e travar o funcionamento de setores essenciais.
- Destruição de infraestruturas – Em 2021, fenómenos extremos associados às alterações climáticas, como inundações, tempestades e incêndios florestais, causaram cerca de 1,4 mil milhões de dólares em danos em redes ferroviárias, pontes e estações. Para além do impacte económico imediato, estas destruições interromperam o transporte de mercadorias, aumentando os custos logísticos e dificultando a circulação de bens e materiais.
- Falências empresariais devido a desastres climáticos – Incêndios florestais devastadores na Califórnia levaram a PG&E, uma das maiores empresas de energia dos EUA, a declarar falência em 2019. A empresa enfrentou indemnizações e processos judiciais no valor de cerca de 30 mil milhões de dólares, devido à sua responsabilidade em incêndios causados por falhas na rede elétrica. Este caso evidencia o impacte financeiro e jurídico que as alterações climáticas podem ter sobre grandes corporações.

Figura 1. Os fenómenos climáticos extremos, como secas, inundações e incêndios florestais, já causam prejuízos económicos significativos, afetando infraestruturas, cadeias de abastecimento e empresas. A inação climática apenas aumentará estes custos.
Estes exemplos demonstram que os fenómenos climáticos extremos não são eventos isolados, mas sim um risco crescente que compromete a estabilidade da economia global. Com o agravamento do aquecimento global, a frequência e a intensidade destes desastres continuarão a aumentar, colocando em risco infraestruturas, cadeias de produção, mercados financeiros e o próprio crescimento económico mundial.
Os custos da inação na ótica científica
Um estudo inovador publicado na Nature Climate Change revela que limitar o aquecimento global a 1,5°C pode reduzir os custos económicos da crise climática em dois terços. Em oposição, se a temperatura global aumentar 3°C, o PIB mundial poderá sofrer uma quebra de até 10%, com os países menos desenvolvidos e de baixos rendimentos a serem os mais afetados.
Até agora, a maioria das previsões económicas focava-se apenas nas médias anuais de temperatura. No entanto, esta investigação, liderada por Paul Waidelich, da ETH Zurich, analisou também a variabilidade climática e o impacte dos eventos extremos na economia global. Os resultados demonstram que os custos económicos das alterações climáticas têm sido largamente subestimados, pois eventos como secas prolongadas, chuvas intensas e ondas de calor agravam ainda mais os danos financeiros.
- Um aquecimento global de 3°C poderá gerar perdas de até 200 mil milhões de dólares apenas devido ao aumento da pluviosidade extrema.
- Ondas de calor são o evento climático mais destrutivo, representando quase 50% do impacte económico num cenário de aquecimento de 3°
- Mesmo países tradicionalmente frios, como o Canadá, enfrentarão impactes económicos significativos devido ao aumento da temperatura e à maior frequência de fenómenos climáticos extremos.

Figura 2. Este gráfico mostra uma diferença de quase 7% na perda do PIB global entre um cenário de aquecimento de 1,5°C e outro de 3°C ou mais. Fonte: Paul Waidelich et al.
O custo da inação empresarial
Apesar da crescente sensibilização sobre os riscos climáticos, muitas empresas ainda não traduzem esse reconhecimento em medidas concretas.
Segundo um relatório do CDP (2023), 72% das 1000 maiores empresas a nível mundial identificaram riscos físicos causados pelas alterações climáticas, mas a maioria ainda não implementou estratégias eficazes para os mitigar.
Esta inação deve-se, em grande parte, à falta de dados climáticos integrados, à avaliação limitada dos impactes ao longo da cadeia de valor e a cadeias de abastecimento mal geridas, que dificultam a preparação para eventos climáticos extremos.
No entanto, os dados demonstram que as empresas que investem na adaptação climática estão em melhor posição para crescer e prosperar. O retorno do investimento sustentável é evidente:
- Empresas que apostam na adaptação climática recebem entre 2 e 19 dólares por cada dólar investido.
- Medidas de proteção contra cheias permitem um retorno de 2 a 7 vezes o valor investido.
- Tecnologias de eficiência hídrica proporcionam benefícios de 2 a 6 vezes do investimento inicial.
Em termos simples, as empresas que não adotam estratégias de descarbonização e adaptação climática enfrentam riscos financeiros crescentes e perdem vantagens competitivas. Apostar na sustentabilidade não é apenas uma necessidade ambiental, mas uma decisão estratégica para garantir crescimento e resiliência a longo prazo.
Conclusão
Os impactes das alterações climáticas na economia são inegáveis e refletem-se em todos os setores, desde infraestruturas destruídas até falências empresariais. A ciência demonstra que os custos da inação superam largamente o investimento em mitigação e adaptação, tornando essencial uma resposta proativa.
As empresas que adotam estratégias sustentáveis não apenas reduzem riscos, como se posicionam melhor para crescer num mercado cada vez mais exigente. Investir na resiliência climática não é um custo, mas uma oportunidade para garantir estabilidade e competitividade a longo prazo.
Referências
Green Economy, 2024. The $3.6 trillion cost of climate inaction: why CEOs must act now. URL: https://www.greeneconomy.co.uk/news-and-resources/news/the-3-6-trillion-cost-of-climate-inaction-why-ceos-must-act-now/ [Acedido em março de 2025]
ETH Zurich. (2024, April 15). The cost of climate inaction is substantial. ETH Zurich. URL: https://usys.ethz.ch/en/news-events/news/archive/2024/04/costs-of-climate-inaction.html. [Acedido em março de 2025]