
O retrocesso climático da administração de Trump
A administração de Donald Trump está a impulsionar um retrocesso ambiental sem precedentes, desmantelando regulamentações essenciais que protegem o clima, o ar e a água. Ao questionar os impactes dos gases com efeito de estufa e ao revogar políticas ambientais consolidadas, Trump não só compromete a resposta dos Estados Unidos da América à crise climática, como também ameaça décadas de avanços globais na mitigação das alterações climáticas. O impacte destas decisões poderá ser profundo e duradouro, com repercussões para o meio ambiente, saúde pública e economia mundial.
Revogação das políticas climáticas
Desde o seu regresso à Casa Branca, em janeiro de 2025, Donald Trump tem promovido uma agenda de desregulamentação ambiental, eliminando normas que considera um entrave ao crescimento económico. No entanto, esta abordagem está a fragilizar proteções essenciais, com impactes diretos na qualidade do ar, da água e na luta contra as alterações climáticas. Entre as principais medidas anunciadas, destacam-se:
- Revogação de mais de 30 regulamentos ambientais, incluindo normas para a proteção da qualidade do ar e da água, flexibilizando limites para poluentes atmosféricos e contaminantes.
- Revisão das metas de redução das emissões de carbono, permitindo um aumento das emissões por parte de centrais elétricas e veículos, comprometendo os esforços de mitigação do aquecimento global.
- Redução da proteção dos cursos de água, enfraquecendo a aplicação da Lei da Água Limpa e facilitando a poluição proveniente da agricultura intensiva, exploração mineira e indústria petroquímica.
- Enfraquecimento da Agência de Proteção Ambiental (EPA), reduzindo significativamente a sua capacidade de fiscalização e aplicação da legislação ambiental, limitando a sua atuação como entidade reguladora.
Estas decisões têm sido alvo de críticas severas por parte da comunidade científica, ambientalistas e antigos responsáveis da EPA, que alertam para um retrocesso significativo na proteção ambiental. O desmantelamento destas regulações coloca em risco a saúde pública e a segurança ambiental, comprometendo não apenas os EUA, mas também os esforços globais para mitigar as alterações climáticas.

Figura 1. A negação da crise climática avança enquanto políticas ambientais são destruídas. Fonte: Um só Planeta, 2025.
Negação da ciência climática
A administração Trump pretende reavaliar a conclusão científica de 2009, que reconheceu as emissões de gases com efeito de estufa como uma ameaça à saúde pública. Esta revisão coloca em causa décadas de investigação científica e pode comprometer a base legal das regulamentações ambientais nos EUA, enfraquecendo o controlo da poluição.
Lee Zeldin, nomeado a 20 de janeiro de 2025 como administrador da EPA, argumenta que as normas ambientais “estrangulam a indústria”, favorecendo concorrentes internacionais. Esta abordagem, que prioriza o crescimento económico em detrimento da proteção ambiental, ignora as evidências científicas sobre os impactes das alterações climáticas e pode limitar a capacidade dos EUA de impor restrições às emissões poluentes.
O impacte global do retrocesso americano
Os EUA, um dos maiores emissores de gases com efeito de estufa, desempenham um papel central na resposta global às alterações climáticas. A revogação das políticas ambientais pela administração Trump não só compromete os avanços internos, como também enfraquece o esforço coletivo internacional para a mitigação da crise climática. Entre as principais repercussões, destacam-se:
- Comprometimento dos objetivos do Acordo de Paris, dificultando o cumprimento das metas globais de redução de emissões e incentivando outros países a adotarem posturas menos ambiciosas.
- Efeito dominó na desregulamentação ambiental, ao encorajar governos de outras nações a relaxar as suas políticas climáticas, justificando essa decisão com a postura dos EUA.
- Aceleração dos eventos climáticos extremos, como incêndios florestais, secas e furacões, cujas consequências já afetam milhões de pessoas em todo o mundo.
Saída dos EUA do Acordo de Paris
Um dos momentos mais simbólicos da rutura com a política climática internacional foi a decisão de Trump de retirar os EUA do Acordo de Paris, revertendo o compromisso assumido pela administração Biden. Este acordo, assinado por quase 200 países, tem como objetivo limitar o aumento da temperatura global a 1,5 °C acima dos níveis pré-industriais.
A saída dos EUA representa um duro golpe para a diplomacia climática, não apenas pela sua dimensão como emissor de carbono, mas também pelo seu papel estratégico no financiamento de projetos de transição energética em países em desenvolvimento. Sem a participação americana, os esforços para atingir as metas globais tornam-se significativamente mais difíceis.

Figura 2. Donald Trump voltou a retirar os EUA do Acordo de Paris, como havia feito em seu primeiro mandato. Fonte: DW, 2025.
Resistência e consequências legais
As medidas da administração Trump já estão a enfrentar oposição dentro e fora dos EUA. Governos estaduais, grupos ambientais e organizações internacionais anunciaram que recorrerão aos tribunais para travar a revogação das regulamentações ambientais.
Gina McCarthy, ex-administradora da EPA, classificou estas políticas como “uma ameaça direta à saúde pública”, enquanto organizações ambientais prometeram combater judicialmente cada uma das revogações propostas. Apesar da resistência, a postura da Casa Branca está a gerar incerteza sobre o futuro das políticas climáticas e a criar um ambiente de instabilidade na resposta global às alterações climáticas.
Conclusão
O regresso de Donald Trump ao poder representa um dos maiores retrocessos ambientais da história recente. A sua administração está não só a desmantelar regulamentações fundamentais, mas também a desafiar a própria base científica que sustenta a necessidade urgente de ação climática.
A saída dos EUA do Acordo de Paris e o enfraquecimento das políticas ambientais internas podem ter repercussões duradouras, dificultando a transição para uma economia mais sustentável e comprometendo os esforços globais para travar o aquecimento global. O mundo enfrenta agora um desafio acrescido para conter os impactes desta nova estratégia americana e assegurar que a crise climática permanece no centro da agenda internacional.
Referências
Euronews. (2025). Trump retira os EUA do Acordo de Paris: “Um desenvolvimento verdadeiramente infeliz”. Euronews. URL: https://pt.euronews.com/2025/01/21/trump-retira-os-eua-do-acordo-de-paris-um-desenvolvimento-verdadeiramente-infeliz [Acedido em março de 2025]
Público. (2025, 13 de março). Retrocesso histórico: Trump questiona se gases com efeito de estufa são prejudiciais. Público. URL: https://www.publico.pt/2025/03/13/azul/noticia/retrocesso-historico-trump-questiona-gases-efeito-estufa-sao-prejudiciais-2125804 [Acedido em março de 2025]