
Tipos de embalagem vs sustentabilidade
No quotidiano, somos constantemente expostos a embalagens de diferentes tipologias, distintas na forma, no peso, nos materiais utilizados e na sua origem. Estas características, muitas vezes negligenciadas, têm um papel determinante no desempenho ambiental de cada embalagem.
As decisões relacionadas com o tipo de material, os processos de fabrico, a logística e o destino final influenciam diretamente a pegada de carbono associada. Neste contexto, torna-se essencial compreender de que forma estas variáveis afetam a sustentabilidade global das embalagens, contribuindo para escolhas mais informadas e alinhadas com os objetivos de redução de impacte ambiental.
O que é a pegada de carbono de uma embalagem?
A pegada de carbono de uma embalagem corresponde à quantidade total de emissões de gases com efeito de estufa associadas ao seu ciclo de vida. Este valor inclui todas as etapas envolvidas, desde a extração e transformação das matérias-primas até à produção, transporte, utilização e fim de vida da embalagem.
Ao ser expressa em “dióxido de carbono equivalente” (CO₂e), esta métrica permite avaliar o impacte climático de uma embalagem de forma quantificável e comparável. É, por isso, uma ferramenta fundamental para orientar decisões ao longo de toda a cadeia de valor, desde o design à logística e consumo.

Figura 1. Ciclo de vida de uma embalagem, desde a extração das matérias-primas até à sua eliminação ou reciclagem. Cada etapa contribui para a pegada de carbono total, medida em CO₂e, refletindo o impacte climático associado. Fonte: IFCO, 2025.
Por que é importante reduzir a pegada de carbono das embalagens?
Num cenário de urgência climática, a redução da pegada de carbono das embalagens representa uma medida essencial para mitigar os impactes ambientais e alinhar práticas de produção e consumo com os compromissos de sustentabilidade.
Adotar embalagens com menor impacte carbónico permite:
- Contribuir para a redução global de emissões e para o cumprimento de metas climáticas internacionais, como as definidas no Acordo de Paris;
- Minimizar os efeitos ambientais ao longo de toda a cadeia de valor, desde a origem dos materiais até à gestão de resíduos;
- Promover a eficiência no uso de recursos e a valorização de materiais reciclados ou de baixo impacte;
- Responder às expectativas dos consumidores, cada vez mais atentos às práticas ambientais das marcas;
- Reforçar a competitividade e reputação das empresas no mercado, ao integrar critérios de sustentabilidade nas suas estratégias.
A redução da pegada de carbono não é apenas uma exigência ambiental, mas também uma oportunidade para inovar, otimizar processos e criar valor de forma responsável.

Figura 2. Reduzir a pegada de carbono das embalagens representa um avanço estratégico na transição para modelos de produção e consumo mais sustentáveis, com benefícios ambientais, económicos e reputacionais. Fonte: Iberdrola, 2025
Comparação entre os principais tipos de embalagem
A escolha do material de uma embalagem tem um impacte direto na sua pegada de carbono. Para além da matéria-prima em si, é necessário considerar fatores como o peso, o consumo energético na produção, a reciclabilidade e os custos ambientais associados ao transporte. Em seguida, apresentamos uma análise comparativa entre os materiais mais comuns: vidro, plástico, metal e papel/cartão.
Vidro
O vidro é produzido a partir de matérias-primas minerais como areia de sílica, calcário e carbonato de sódio. Embora estas matérias sejam abundantes e naturais, a sua extração e transformação exigem processos com consumo intensivo de energia. A produção do vidro envolve temperaturas superiores a 1.500 °C, o que resulta numa pegada de carbono considerável, sobretudo quando não é utilizado vidro reciclado no processo.
O vidro é um material pesado, o que representa um ponto crítico do ponto de vista ambiental. O seu transporte implica maiores emissões por unidade transportada, especialmente em cadeias logísticas longas. Quando utilizado em embalagens de uso único e não sujeito a reutilização ou reciclagem, o seu impacte ambiental por unidade funcional é elevado (embora o vidro possa ser reutilizado, na prática, muitas embalagens, como as de alimentos e bebidas, acabam por ser descartadas logo após a utilização).
Um dos principais benefícios ambientais do vidro é a sua reciclabilidade. Pode ser reciclado indefinidamente sem perda de qualidade, desde que haja separação eficiente. A incorporação de vidro reciclado permite reduzir significativamente o consumo de energia e as emissões associadas à produção.
Plástico
O plástico é maioritariamente derivado de combustíveis fósseis como petróleo e gás natural, o que o associa diretamente à exploração de recursos não renováveis. Ainda assim, a sua produção é menos intensiva em energia do que a do vidro, e as tecnologias de moldagem são altamente eficientes em contexto industrial. O plástico destaca-se pela sua leveza e resistência, características que reduzem significativamente as emissões de transporte, permitindo o envio de mais unidades com menor consumo energético.
Do ponto de vista ambiental, o maior desafio do plástico está no seu fim de vida. Apesar de existirem sistemas de reciclagem amplamente implementados, a taxa global de reciclagem continua baixa. Muitos tipos de plástico não são recicláveis na prática, e os que o são tendem a perder qualidade após cada ciclo. Além disso, grande parte das embalagens plásticas continua a ser utilizada apenas uma vez, sendo depois descartada. Quando não é devidamente recolhido e tratado, o plástico persiste no ambiente durante décadas ou séculos, fragmentando-se em microplásticos e representando riscos graves para os ecossistemas e para a saúde humana. Mesmo em contextos onde é possível integrar plástico reciclado, como o rPET, o desempenho ambiental depende fortemente de sistemas eficazes de recolha e triagem, que só são possíveis com a participação ativa dos cidadãos na separação correta dos resíduos.
Metal
As embalagens metálicas, como as produzidas em alumínio e aço, têm origem em matérias-primas extraídas da crosta terrestre, como a bauxite e minérios de ferro. A extração e processamento destas matérias-primas exigem elevado consumo de energia e podem provocar impactes ambientais significativos, incluindo a degradação de ecossistemas e a emissão de gases com efeito de estufa. No entanto, a produção de embalagens metálicas recicladas consome muito menos energia do que a produção a partir de matéria-prima virgem, tornando a reciclagem um fator determinante no seu desempenho ambiental.
O metal destaca-se pela sua resistência, durabilidade e capacidade de proteger eficazmente os alimentos e bebidas contra luz, oxigénio e humidade, prolongando a sua vida útil. É também 100% reciclável e pode ser reutilizado indefinidamente sem perda de qualidade, desde que exista uma recolha e separação adequadas.
O maior desafio ambiental associado ao metal está na extração primária e no fim de vida quando não é corretamente separado. Apesar das elevadas taxas de reciclagem em comparação com outros materiais, parte significativa das embalagens metálicas ainda não é recuperada, perdendo-se o potencial de circularidade. Tal como noutros materiais, a eficácia da reciclagem depende não só de sistemas eficientes de recolha e triagem, mas também da participação ativa dos cidadãos na separação correta.
Papel e Cartão
O papel e o cartão são materiais de origem vegetal, produzidos a partir de fibras de madeira. Quando a matéria-prima provém de florestas certificadas, como FSC ou PEFC, o impacte ambiental da extração pode ser significativamente mitigado. Estes materiais são biodegradáveis e apresentam boas taxas de reciclagem, o que os torna opções atrativas do ponto de vista ambiental.
A produção de papel virgem, no entanto, pode ser intensiva em água, energia e produtos químicos. A utilização de fibras recicladas reduz substancialmente estes impactes e melhora a pegada carbónica do material. O papel e o cartão têm também a vantagem de serem materiais relativamente leves, o que contribui para menores emissões no transporte. Ainda assim, possuem limitações ao nível da durabilidade e resistência, e a sua qualidade degrada-se após alguns ciclos de reciclagem. Além disso, a contaminação com resíduos orgânicos, como gordura ou restos alimentares, diminui significativamente a reciclabilidade do material. Materiais com elevado teor de humidade ou gordura, como guardanapos, lenços de papel ou embalagens muito impregnadas, não podem ser reciclados, tal como copos de papel com revestimento impermeabilizante, que inviabilizam o processo devido à sua composição. Tal como nos restantes materiais, o uso único e a ausência de sistemas de recolha eficazes comprometem o seu potencial de circularidade e sustentabilidade.
Conclusão
A escolha do material de uma embalagem tem implicações diretas na sua pegada, e não existe uma solução única que sirva todos os contextos. O vidro destaca-se pela sua reciclabilidade infinita, mas o peso e o consumo energético na produção elevam o seu impacte quando não é reutilizado. O plástico apresenta vantagens em termos de leveza e eficiência no transporte, mas enfrenta sérios desafios no fim de vida, sobretudo quando utilizado de forma descartável. Já o papel e o cartão oferecem boas taxas de reciclagem e biodegradabilidade, mas dependem de matérias-primas renováveis e requerem uma gestão eficiente para manter o seu desempenho ambiental.
Reduzir a pegada de carbono das embalagens exige uma abordagem integrada, que considere não só o material em si, mas também os sistemas de recolha, reutilização e reciclagem disponíveis, bem como a forma como a embalagem é concebida e utilizada.
Na próxima semana, vamos aprofundar o tema do design ecológico e explorar como as decisões tomadas na fase de conceção de uma embalagem podem maximizar a sua eficiência ambiental e funcional ao longo de todo o ciclo de vida.
Referências
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