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    Construções sustentáveis pelo mundo

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    Construções sustentáveis pelo mundo

    Na sequência das publicações anteriores dedicadas à arquitetura e construção sustentável, bem como à análise das metodologias, certificações e ferramentas digitais associadas ao setor, esta nova abordagem centra-se na apresentação de casos práticos.

    A seleção que se segue pretende demonstrar a forma como os princípios da sustentabilidade estão a ser incorporados em projetos reais, refletindo a crescente maturidade do setor da construção face aos desafios ambientais e à transição ecológica. Estes exemplos representam diferentes estratégias de aplicação, com soluções orientadas para a eficiência de recursos, a redução de emissões e a valorização do desempenho ambiental ao longo do ciclo de vida das infraestruturas.

    Ao destacar estes casos, pretende-se contribuir para a disseminação de boas práticas e para a promoção de uma construção mais responsável, informada e adaptada às exigências do presente e do futuro.

     

    CopenHill

    O CopenHill, localizado em Copenhaga e projetado pelo atelier dinamarquês Bjarke Ingels Group (BIG), é amplamente reconhecido como um marco da arquitetura e construção sustentável contemporânea. Este edifício multifuncional combina, de forma inovadora, uma central de valorização energética de resíduos com um espaço público de lazer, desafiando as fronteiras entre infraestrutura técnica e integração urbana.

    Concebido desde o início com uma orientação clara para a sustentabilidade, o CopenHill trata anualmente cerca de 400.000 toneladas de resíduos urbanos, convertendo-os em eletricidade e aquecimento para aproximadamente 150.000 habitações da cidade. O edifício está equipado com sistemas de filtragem de última geração, que reduzem as emissões de enxofre em 99,5% e de óxidos de azoto em cerca de 95%, o que o posiciona como uma das centrais de incineração mais limpas do mundo. Destaca-se ainda pela eficiência na gestão hídrica, com sistemas de captação e reutilização da água da chuva e processos de tratamento que permitem produzir mais água limpa do que a consumida.

    Do ponto de vista arquitetónico e funcional, o projeto materializa o conceito de “sustentabilidade hedonista”, promovido por Bjarke Ingels, ao integrar espaços recreativos e verdes numa infraestrutura de grande escala. A cobertura do edifício, longe de ser meramente técnica, alberga uma pista de esqui artificial com 400 metros, trilhos pedonais, zonas ajardinadas e a maior parede de escalada exterior do mundo. Esta multifuncionalidade contribui para a qualidade de vida urbana, promove a biodiversidade local e reforça o papel da arquitetura na regeneração do espaço público.

    O CopenHill é, assim, um exemplo paradigmático de arquitetura resiliente e integradora, que alia tecnologia, funcionalidade e experiência urbana. Ao transformar uma infraestrutura habitualmente marginalizada num equipamento urbano atrativo, educativo e sustentável, o projeto redefine a forma como a construção pode responder aos desafios da transição energética e da convivência entre cidade e ambiente.

    Distinguido com o prémio World Building of the Year 2021, o CopenHill demonstra que é possível conciliar desempenho ambiental de excelência com inovação formal e impacte social positivo. Representa uma nova geração de infraestruturas, onde a sustentabilidade é pensada não como um elemento acessório, mas como a base de toda a conceção e utilização.

     

    Figura 1. Central de valorização energética CopenHill inserida na malha urbana de Copenhaga, com destaque para a sua integração paisagística ao longo do canal. A cobertura multifuncional inclui uma pista de esqui, zonas verdes e percursos pedonais, evidenciando a fusão entre infraestrutura industrial, espaço público e arquitetura sustentável. Fonte: Urbannext, 2025.

     

    Estádio Santiago Bernabéu

    O Estádio Santiago Bernabéu, em Madrid, é hoje muito mais do que um símbolo desportivo. Após uma profunda intervenção de remodelação conduzida pelos escritórios GMP Architekten e L35 Arquitectos, o novo Bernabéu apresenta-se como um exemplo de modernização arquitetónica com princípios de sustentabilidade e eficiência integrados em todas as fases do projeto.

    A renovação, iniciada em 2019 e concluída em 2024, teve como principal objetivo transformar o estádio num espaço polivalente, tecnologicamente avançado e ambientalmente responsável. Um dos elementos centrais é a nova cobertura retrátil, que permite a utilização eficiente do estádio durante todo o ano, reduzindo o consumo energético através do aproveitamento da luz natural e da regulação passiva da temperatura interior. A estrutura metálica, envolta numa pele de aço inoxidável com lâminas móveis, atua como sistema de sombreamento dinâmico, contribuindo para o conforto térmico e para a redução da pegada energética do edifício.

    A sustentabilidade é uma das dimensões estruturantes desta transformação. O novo estádio incorpora 10.000 m2 de painéis solares, sistemas avançados de recolha e reaproveitamento de águas pluviais e iluminação LED de elevada eficiência, medidas que, em conjunto, contribuem para uma redução da pegada de carbono em cerca de 50% face à versão anterior da infraestrutura. Adicionalmente, foram utilizados materiais reciclados e de origem local, o que reduziu significativamente as emissões associadas ao transporte e promoveu a economia regional.

    Outro elemento inovador e representativo da multifuncionalidade do novo Bernabéu é o sistema automatizado de remoção do relvado, que permite que o piso seja recolhido e armazenado em módulos subterrâneos. Esta tecnologia possibilita a realização de eventos culturais e desportivos de diferentes naturezas, como concertos e feiras, sem comprometer a integridade da relva natural, reforçando a versatilidade e o aproveitamento contínuo do espaço. Para uma ideia clara e ilustrativa do funcionamento desta tecnologia e dos seus benefícios, veja o vídeo disponível aqui.

     

    Figura 2. Sistema retrátil do relvado do Estádio Santiago Bernabéu. Fonte:  National Geographic, 2025.

     

     

    Para garantir o conforto dos utilizadores e a eficiência energética, o estádio está equipado com sistemas inovadores de climatização e qualidade do ar, que asseguram condições ambientais adequadas com um consumo energético otimizado. Estas soluções refletem uma abordagem integrada e consciente, alinhada com as metas de descarbonização e com os princípios da construção sustentável.

    O Estádio Santiago Bernabéu representa, assim, um exemplo notável de adaptação de uma infraestrutura existente aos princípios da sustentabilidade, demonstrando como é possível reconverter um edifício icónico e de grande escala, mantendo a sua relevância funcional e simbólica, enquanto se moderniza segundo exigências ambientais e urbanas contemporâneas.

     

    Figura 3. O estádio Santiago Bernabéu: uma obra-prima da arquitetura moderna. Fonte: National Geographic, 2025.

     

     

    Exemplo de um estádio desde a sua conceção…

    Em contraste, a construção do novo estádio do Forest Green Rovers, no Reino Unido, representa uma abordagem sustentável desde a sua conceção. Aprovado recentemente pelo Stroud District Council, o projeto prevê um estádio totalmente construído em madeira, com capacidade para 5.000 lugares e 1.700 lugares de estacionamento, dos quais 170 acessíveis para mobilidade condicionada. Desenhado com especial atenção às alterações climáticas, o estádio integra medidas de eficiência energética, materiais de baixo impacte ambiental e soluções para resiliência a fenómenos extremos.

    O Forest Green Rovers, reconhecido pela FIFA como o “clube mais verde do mundo” e pela ONU como o primeiro clube de futebol com neutralidade carbónica, introduziu inovações como equipamentos desportivos feitos com plásticos reciclados e borra de café, bem como uma alimentação exclusivamente vegan no recinto. A nova infraestrutura vem reforçar essa visão ecológica, afirmando-se como uma referência de futuro na construção de instalações desportivas ambientalmente responsáveis.

    Estes dois exemplos, embora distintos na sua abordagem, ilustram estratégias complementares rumo à sustentabilidade no desporto e na construção: a requalificação de um ícone existente e a criação de uma nova infraestrutura concebida de raiz com objetivos ambientais claros.

     

    Figura 4. Projeção do novo estádio do Forest Green Rovers, em Gloucestershire, Reino Unido. Fonte: ArchDaily, 2025.

     

    The Edge

    O The Edge, localizado em Amesterdão e projetado pelo atelier PLP Architecture, é amplamente reconhecido como um dos edifícios de escritórios mais sustentáveis e tecnologicamente avançados do mundo. Concebido para a sede da Deloitte nos Países Baixos, este edifício de 40.000 m² integra soluções inovadoras de design passivo, tecnologias inteligentes e estratégias de eficiência energética, alcançando uma pontuação recorde de 98,36% na certificação BREEAM, a mais alta atribuída a um edifício de escritórios até à data.

    A sustentabilidade do The Edge assenta numa combinação de elementos passivos e ativos. A orientação do edifício e a fachada envidraçada a norte maximizam a entrada de luz natural, enquanto a envolvente térmica e os sistemas de sombreamento reduzem as perdas energéticas. O edifício produz mais energia do que consome, graças à instalação de painéis solares no telhado e em edifícios vizinhos, e ao uso de um sistema de armazenamento térmico em aquíferos subterrâneos, que permite armazenar calor no verão para utilização no inverno.

    A tecnologia desempenha um papel central no desempenho do The Edge. Equipado com cerca de 30.000 sensores, o edifício monitoriza continuamente parâmetros como luz, temperatura, humidade e ocupação. Os colaboradores utilizam uma aplicação móvel para reservar espaços de trabalho e ajustar as condições ambientais ao seu conforto. Este sistema de gestão inteligente permite otimizar a utilização dos espaços e reduzir o consumo energético.

    O The Edge exemplifica uma abordagem holística à sustentabilidade, onde arquitetura, tecnologia e bem-estar dos ocupantes se interligam para criar um ambiente de trabalho eficiente, confortável e ambientalmente responsável.

     

    Figura 5. Vista exterior e interior do edifício The Edge, em Amesterdão, projetado pelo atelier PLP Architecture para a sede da Deloitte. Fonte: Bloomberg, 2015

     

    Na próxima semana…

    Estes exemplos demonstram como a sustentabilidade na construção pode assumir formas diversas, adaptadas a diferentes contextos, funções e escalas. Desde a requalificação de infraestruturas existentes à conceção de novos edifícios com desempenho ambiental de excelência, é evidente que a inovação e o compromisso com a sustentabilidade estão a redefinir os padrões da arquitetura contemporânea.

    Na próxima semana, daremos continuidade a esta análise com novos casos de estudo, aprofundando abordagens técnicas, materiais e estratégias que estão a marcar o futuro da construção sustentável.

     

    Referências

    Archi-Tector, 2025. The Santiago Bernabéu Stadium: A masterpiece of modern architecture. URL: https://www.archi-tector.com/architecture/the-santiago-bernabeu-stadium-a-masterpiece-of-modern-architecture/ [Acedido em abril de 2025]

    BBC News., 2024. Forest Green Rovers’ eco wooden football stadium set to go ahead. https://www.bbc.com/news/articles/cy7k8j38zexo [Acedido em abril de 2025]

    Bloomberg, 2015. The Edge is the greenest, most intelligent building in the world. URL: https://www.bloomberg.com/features/2015-the-edge-the-worlds-greenest-building/ [Acedido em abril de 2025]

    Forest Green Rovers, 2025. Eco Park. https://www.fgr.co.uk/eco-park/Bloomberg+6fgr.co.uk+6fgr.co.uk+6 [Acedido em abril de 2025]

    State of Green. (2024, November). CopenHill: The story of the iconic waste-to-energy plant. URL:https://stateofgreen.com/en/solutions/copenhill/ [Acedido em abril de 2025]

    Bjarke Ingels Group, 2025. CopenHill / Amager Bakke. URL: https://big.dk/projects/copenhill-2391 [Acedido em abril de 2025]

    UrbanNext, 2025. CopenHill. URL: https://urbannext.net/copenhill/ [Acedido em abril de 2025]