
Título: Construções sustentáveis pelo mundo (parte 2)
No texto desta semana, continuaremos a dar destaque a exemplos concretos de construção sustentável, evidenciando como diferentes projetos, em contextos variados, estão a integrar soluções inovadoras e ambientalmente responsáveis. Através destes casos, procuramos ilustrar a diversidade de abordagens e o potencial transformador da sustentabilidade no setor da arquitetura e da construção.
Pixel Building
O Pixel Building, localizado em Melbourne, Austrália, é um marco na arquitetura sustentável, sendo o primeiro edifício de escritórios com neutralidade carbónica no país. Projetado pelo estúdio Studio 505 (atualmente Decibel Architecture), o edifício incorpora uma série de inovações tecnológicas e ambientais que o posicionam como referência internacional em design ecológico.
Com quatro andares e uma área de aproximadamente 1.140 m², o Pixel Building destaca-se pela sua fachada vibrante composta por painéis reciclados e coloridos, que não só conferem identidade visual, mas também funcionam como elementos de sombreamento e controlo térmico. A estrutura está equipada com turbinas eólicas de eixo vertical e painéis solares com sistema de rastreamento solar, permitindo que o edifício gere toda a energia que consome. Além disso, possui um sistema de recolha e tratamento de águas pluviais, tornando-o autossuficiente em água para usos não potáveis.
Em termos de materiais, foi utilizado o “Pixelcrete”, um tipo de betão de baixo carbono desenvolvido especificamente para este projeto, composto por materiais reciclados e resíduos industriais, reduzindo significativamente as emissões associadas à construção. O edifício alcançou a pontuação máxima de 105 pontos na certificação Green Star – Office Design v3 e obteve a certificação LEED Platinum, refletindo o seu compromisso com a sustentabilidade e a inovação
O Pixel Building serve como um protótipo para futuros edifícios comerciais, demonstrando que é possível aliar design arrojado, eficiência energética e responsabilidade ambiental num único projeto.

Figura 1. O Pixel Building, em Melbourne, destaca-se pela fachada em painéis reciclados coloridos e pelas soluções sustentáveis integradas, como painéis solares, turbinas eólicas e sistemas de recolha de água. É um exemplo pioneiro de edifício com neutralidade carbónica na Austrália. Fonte: db(A), 2025.
Maersk Tower
O projeto Maersk Tower, da autoria do atelier C.F. Møller Architects, é uma referência incontornável na arquitetura sustentável aplicada à investigação científica. Localizada na Universidade de Copenhaga, esta torre de 75 metros de altura é considerada o edifício de investigação mais eficiente da Dinamarca em termos energéticos, combinando inovação tecnológica, design arquitetónico e um desempenho ambiental exemplar.
A sua forma curva e dinâmica estabelece uma ligação fluida entre o tecido urbano e o campus universitário, enquanto favorece a integração paisagística com os espaços verdes envolventes. A base do edifício, amplamente envidraçada, promove a transparência visual e convida à interação entre interior e exterior, reforçando a abertura da infraestrutura à comunidade académica.
O sistema de fachada é um dos principais elementos sustentáveis do projeto. Composto por uma estrutura em relevo com 3.300 persianas revestidas a cobre, este sistema adapta-se automaticamente à incidência solar. As persianas atuam como escudos climáticos móveis, minimizando os ganhos térmicos nos laboratórios e garantindo elevados níveis de conforto interior. Além da proteção solar, o design perfurado das persianas permite filtrar suavemente a luz natural, criando um ambiente interior agradável e energeticamente eficiente.
O vidro utilizado concede um equilíbrio ideal entre alta transmissão luminosa, transparência e isolamento térmico avançado. Em combinação com elementos curvos e planos, este sistema envidraçado contribui para reduzir significativamente as perdas energéticas, reforçando o compromisso do edifício com o desempenho ambiental.
A Maersk Tower evidencia uma abordagem integrada à construção sustentável, onde cada elemento do projeto está orientado para a eficiência energética, o bem-estar dos utilizadores e a redução do impacte ambiental.

Figura 2. Maersk Tower, Universidade de Copenhaga. Edifício de investigação altamente eficiente em termos energéticos, com fachada dinâmica composta por persianas móveis revestidas a cobre que regulam a entrada de luz e calor, contribuindo para o conforto térmico e a sustentabilidade ambiental.Fonte: Guardian Glass, 2025
Shanghai Tower
A Shanghai Tower (na China), com 632 metros de altura e 128 andares, é o segundo edifício mais alto do mundo e um ícone global de arquitetura sustentável em grande escala. Projetada pela Gensler, a torre foi concebida com uma forte componente ambiental, integrando soluções tecnológicas avançadas para reduzir o impacte ecológico e otimizar a eficiência operacional.
Um dos aspetos mais inovadores da Shanghai Tower é a sua fachada dupla em espiral, composta por duas peles de vidro. Este design permite criar uma camada isolante de ar entre as fachadas, reduzindo significativamente a necessidade de aquecimento e arrefecimento. A forma helicoidal da torre também reduz a resistência ao vento, o que permitiu economizar cerca de 25% de material estrutural em relação a edifícios de altura semelhante.
Em termos energéticos, a torre está equipada com turbinas eólicas nos andares superiores, painéis solares, um sistema de recolha e reutilização de águas pluviais e sistemas inteligentes de gestão de energia. Estima-se que consuma 30 a 40% menos energia do que um arranha-céus convencional da mesma escala.
O edifício obteve a certificação LEED Platinum, a mais elevada do sistema norte-americano, e também recebeu a China Green Building Three-Star Certification, o equivalente local. Para além disso, a torre integra jardins interiores verticais e espaços públicos em altura, promovendo a saúde, o conforto e a interação social dos ocupantes.
A Shanghai Tower é, assim, um exemplo emblemático de construção sustentável em grande altura, combinando inovação estrutural, design bioclimático e responsabilidade ambiental.

Figura 3. A Shanghai Tower (ao centro), em Xangai, China, é o segundo edifício mais alto do mundo e um marco da construção sustentável em grande altura. Fonte: Constructsteel, 2025.
Gardens by the Bay
O projeto Gardens by the Bay, localizado em Singapura, é um exemplo emblemático de como a arquitetura paisagística e a engenharia podem convergir para criar uma infraestrutura verde urbana altamente sustentável. Concebido com o objetivo de transformar a imagem da cidade e aumentar significativamente a cobertura vegetal em meio urbano, o complexo ultrapassa a função decorativa de um jardim, integrando-se como uma infraestrutura ambiental multifuncional.
Um dos elementos mais icónicos do projeto é o conjunto dos Supertrees, estruturas verticais entre os 25 e os 50 metros de altura que funcionam como jardins verticais e infraestruturas técnicas ao mesmo tempo. Estas estruturas integram painéis fotovoltaicos que geram eletricidade para parte da iluminação noturna, sistemas de recolha de águas pluviais e ainda funcionam como condutas de ventilação natural para as estufas adjacentes.
As estufas climatizadas, Flower Dome e Cloud Forest, foram concebidas com tecnologia de ponta em climatização passiva. Utilizam estratificação térmica, concentrando o arrefecimento apenas nas zonas ocupadas pelos visitantes, e sistemas que aproveitam energia térmica gerada por biomassa, convertida a partir dos resíduos verdes produzidos no próprio jardim. A fachada de vidro com elevado isolamento térmico maximiza a entrada de luz natural enquanto reduz o ganho térmico, contribuindo para uma climatização mais eficiente.
Do ponto de vista hídrico, o projeto inclui uma rede integrada de lagos e zonas húmidas artificiais, como os Kingfisher e Dragonfly Lakes, que atuam como sistemas naturais de purificação da água através de processos de biofiltração. A água da chuva recolhida é armazenada e reutilizada para irrigação e outras funções operacionais, promovendo a circularidade dos recursos hídricos.
A sustentabilidade dos Gardens by the Bay não se limita aos aspetos técnicos. O projeto assume também uma forte componente educativa e ecológica, oferecendo programas para escolas, visitas temáticas e exposições sobre biodiversidade e alterações climáticas. A criação de habitats urbanos favorece o aumento da biodiversidade e aproxima os visitantes da natureza, mesmo em contexto urbano denso.
Os Gardens by the Bay representam, assim, uma abordagem holística à construção sustentável, em que arquitetura, paisagem, tecnologia e sensibilização ambiental se interligam para criar um espaço que é simultaneamente funcional, educativo e regenerativo.

Figura 4. Jardins icónicos de Gardens by the Bay, em Singapura, com destaque para os Supertrees, as zonas húmidas artificiais e as estufas climatizadas (Flower Dome e Cloud Forest). Fonte: Garens by the Bay, 2025.
Concluindo…
A diversidade de exemplos apresentados demonstra que a construção sustentável já não é uma visão do futuro, mas sim uma realidade em crescimento, presente em diferentes contextos geográficos, tipologias e escalas. Desde a renovação de infraestruturas existentes até à conceção de novos edifícios multifuncionais, os casos analisados evidenciam como a arquitetura e a engenharia podem responder aos desafios ambientais, sociais e urbanos com soluções eficazes e inspiradoras. A construção sustentável representa hoje uma escolha estratégica que alia inovação, eficiência e compromisso com o bem comum, com impactes positivos para as comunidades, as cidades e o ambiente.
Referências
C.F. Møller Architects. (2025). The Maersk Tower awarded for its innovative facade. URL: https://www.cfmoller.com/g/The-Maersk-Tower-awarded-for-its-innovative-facade-i17770.html [Acedido em abril de 2025]
Decibel Architecture. (2025). Pixel Building. URL: https://www.db-a.co/projects/pixel-building [Acedido em abril de 2025]
Guardian Glass. (2025). Maersk Tower. URL: https://www.guardianglass.com/eu/pt/projects/project-details/maersk-tower [Acedido em abril de 2025]
Gardens by the Bay. (2025a). Dragonfly & Kingfisher Lake. URL: https://www.gardensbythebay.com.sg/en/things-to-do/attractions/dragonfly-and-kingfisher-lake.html [Acedido em abril de 2025]
Gardens by the Bay. (2025b). Sustainability Efforts. URL: https://www.gardensbythebay.com.sg/en/about-us/our-gardens-story/sustainability-efforts.html [Acedido em abril de 2025]
Gensler. (2025). Inside the Shanghai Tower: the high-rise building that is a city in the sky. The Guardian. URL: https://www.theguardian.com/cities/2016/aug/23/inside-shanghai-tower-china-tallest-building-green-skyscrapers [Acedido em abril de 2025]
Introba. (2025). Pixel Building. URL: https://www.introba.com/work/projects/pixel-building [Acedido em abril de 2025]
Gu, D. (2025). Vertical sustainable strategies of the Shanghai Tower [PDF]. Council on Tall Buildings and Urban Habitat. URL: https://global.ctbuh.org/resources/papers/2421-Gu%20paper.pdf [Acedido em abril de 2025]