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    Como enfrentar a escassez de água?

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    Como enfrentar a escassez de água?

    A seca em Portugal não é um problema novo, mas a falta de chuva que este inverno coloca a quase totalidade do país em seca meteorológica levanta uma série de questões, nomeadamente: faz baixar o armazenamento das albufeiras, obriga a controlar a água que delas se pode retirar para produzir eletricidade ou regar terrenos agrícolas e relembra que é necessário encontrar soluções para enfrentar uma escassez que se tornará cada vez mais recorrente, devido não só às alterações climáticas, mas também à falta de uma gestão eficiente deste recursos.

    Pressões sobre os recursos hídricos

    A utilização sustentável das águas, em especial nos seus aspetos quantitativos, constitui um desafio para a gestão dos recursos hídricos, tendo em conta os seus usos atuais e futuros e, ainda, a sua conjugação com os cenários de alterações climáticas. Para responder a essa situação, além da melhoria do armazenamento e distribuição da água, devem ser tomadas medidas no domínio da eficiência de utilização da água, promovendo a redução dos consumos globais em zonas de maior stress hídrico e fomentando a utilização da poupança resultante noutras atividades económicas.

    O Plano Nacional para o Uso Eficiente da Água (PNUEA) é um instrumento integrador de políticas, dadas as ligações entre a energia, a água, a indústria e a agricultura, e que tem como principal objetivo a redução das perdas de água e a otimização do uso da água no âmbito das medidas de proteção dos Recursos Hídricos.

    O PNUEA estipulou as seguintes metas a alcançar para as perdas de água por setor até 2020:

      • 20% para o setor o urbano;
      • 35% para o setor agrícola; e
      • 15% para o industrial.

    No que se refere às pressões quantitativas apresenta-se o volume de água captado para os diversos setores de atividade (urbano, indústria, agricultura, pecuária, turismo – golfe).

    Figura 1. Volumes captados por setor e por região [Fonte: APA, 2016 (PGRH, 2016)]

    A nível do continente, o setor agrícola é o maior consumidor de água com cerca de 73%, seguido do sector urbano com 19%. Numa análise por região hidrográfica (RH), verifica-se que a RH5, Tejo e Ribeiras do Oeste, é a maior consumidora de água, sendo também a região mais populosa, enquanto as regiões do Norte (RH1, Minho e Lima e RH2, Cávado, Ave e Leça) e do Sul (RH7, Guadiana e RH8, Ribeiras do Algarve) são as que apresentam menores valores de consumo de água.

    Pode a agrofloresta ser uma solução?

    O setor que mais água gasta em Portugal é o da agricultura (Figura 1). Para a agricultura com as características edafoclimáticas e socioeconómicas apresentadas em Portugal a disponibilidade de água em quantidade e com a qualidade adequadas assume uma importância estratégica decisiva.

    A irrigação é certamente necessária e as alterações climáticas torná-la-ão ainda mais essencial, pelo que é crucial melhorar a eficiência da mesma. Esta já é uma tendência que se afasta dos tradicionais sistemas de irrigação por gravidade para uma irrigação gota a gota e por aspersão mais eficiente. Os agricultores precisam igualmente de ponderar quais as plantações que devem crescer junto de olivais, milheirais e vinhas, que atualmente consomem metade da água do setor.

    Os sistemas agroflorestais têm vindo, ao longo das últimas décadas, a assumir uma importância crescente na ocupação do território de Portugal Continental. São sistemas que dizem respeito a superfícies ocupadas por diferentes espécies florestais associadas com atividade de produção vegetal e/ou animal.

    Trata-se de sistemas com uma viabilidade económica muito dependente dos apoios em vigor no 1º e 2º Pilares da PAC e cuja manutenção futura vai ser essencial para que se possa vir a atingir os diferentes objetivos específicos de natureza ambiental, climática e territorial que constam das propostas de reforma da Política Agrícola Comum (PAC) pós 2020:

      • OE4: Contribuir para a adaptação às alterações climáticas e para a mitigação dos seus efeitos, bem como, para a energia sustentável;
      • OE5: Promover o desenvolvimento sustentável e uma gestão eficiente dos recursos naturais, como a água, os solos e o ar;
      • OE6: Contribuir para a proteção da biodiversidade, melhorar os serviços ligados aos ecossistemas e preservar os habitats e as paisagens;
      • OE8: Promover o emprego, o crescimento, a inclusão social e o desenvolvimento local nas zonas rurais, nomeadamente, a bioeconomia e a silvicultura sustentável.

    Neste contexto, é essencial que haja uma resposta para lidar preventivamente com o risco de seca. De acordo com o Plano Estratégico da Política Agrária Comum (PEPAC) 2023-2027, deve ser incentivada a utilização de técnicas e processos de produção adaptados e sustentáveis (OE5). Para além da utilização de raças de animais mais adaptados e variedades vegetais mais resistentes à seca, de alternativas culturais, de investimentos em infraestruturas de regadio coletivo (OE2), uma das formas principais de adaptação passa não só por melhorar a disponibilização de água para a agricultura, mas também pela melhoria da gestão eficiente desse recurso (OE5).

    Controlo de água disponível

    O Water Exploitation Index (WEI+) não considera a situação para Portugal problemática, mas é muito criticado pela comunidade científica porque não incorpora projeções de consumo e cenários de impacte das alterações climáticas.

    O World Resources Intitute (WRI) sublinha que estaremos a viver com 25 litros de água por pessoa em 2040, com projeções baseadas num cenário climático pessimista e numa evolução socioeconómica moderada.

     

    CONSUMO DE ÁGUA PER CAPITA (LITROS/PESSOA/DIA)

      • Média nacional: 187 litros
      • Média no concelho de Lisboa: 281 litros;
      • Considerada necessária por dia (ONU): 110 litros;
      • Disponível em Portugal, 2040 (WRI): 25 litros.

    No início de 2018, a África do Sul declarava estado de emergência. A seca tinha atingido valores recorde e, em particular na Cidade do Cabo, medidas urgentes exigiam-se. O valor das reservas de água, que vinha a descer desde 2015, passara de 70% para o nível mais baixo das últimas décadas: 24,7%. Associações locais aumentaram as ações de sensibilização e o controlo ao consumo de água foi ainda mais apertado. Entre as várias restrições, a água disponível para os residentes foi reduzida a um limite de 50 litros por dia, proibiram-se lavagens de automóveis e também foram limitadas as irrigações tanto a campos de golfe como a campos agrícolas.

    O controlo da água disponível é uma das medidas mais extremas para controlar uma situação limite à qual temos de evitar chegar.

    A dessalinização

    Em Portugal, a dessalinização (ou seja, a transformação da água salgada em água doce) para abastecimento público só é utilizada na ilha de Porto Santo. Funciona desde 1980 e tem capacidade para abastecer 30 mil habitantes, com um custo de produção que ronda €1/m3.

    No âmbito do Plano Regional de Eficiência Hídrica do Algarve, a Águas de Portugal (AdP) projeta “uma estação de dessalinização com capacidade de produzir entre 250 a 500 litros por segundo”. Para este investimento esperam-se €45 milhões dos €200 milhões previstos no Plano de Recuperação e Resiliência para o plano algarvio.

    Anualmente, são captados em Portugal cerca de 6 mil milhões de metros cúbicos de água, mais de metade em rios e albufeiras. Dois terços desta água vão para a rega agrícola e de campos de golfe e mais de um terço de toda a água captada perde-se pelo caminho por falta de manutenção das infraestruturas.

    O estudo “Disponibilidade de Água em Cenário de Alterações Climáticas”, apresentado em dezembro de 2021, alerta para o facto de já não chover o suficiente para encher as principais bacias hidrográficas e não se saber exatamente em que estado estão as águas subterrâneas nacionais, devido à falta de capacidade de controlo e monitorização das captações existentes por parte da APA.

    Com as secas a tornarem-se cada vez mais comuns, o objetivo terá de ser uma estratégia a longo prazo para aumentar a eficiência do abastecimento (reduzir perdas) e reduzir o consumo. A dessalinização é uma opção, mas continua a ser dispendiosa, apesar do custo do processo de utilização intensiva de energia ser reduzido devido à eficiência melhorada e energia renovável. Outra possibilidade é a transferência de água de áreas com água abundante para regiões mais secas. O tratamento e a reutilização de águas residuais na irrigação de terrenos, jardins e campos são outras opções em análise. Estes sistemas podem revelar-se valiosos, mas outra forma de garantir a segurança do abastecimento de água em Portugal, no curto prazo, passa também pela redução do consumo da mesma. Recorde no texto “Como poupar água?” algumas dicas para reduzir o consumo de água.

     

    Fontes:

    Agroges (2020). A água é um fator de importância estratégica para o futuro da Agricultura em Portugal. Artigo técnico, setembro de 2020

    APA (2016). Relatório do Estado do Ambiente: Ficha Temática “Pressões quantitativas e qualitativas sobre os recursos hídricos”. URL: https://rea.apambiente.pt/content/press%C3%B5es-quantitativas-e-qualitativas-sobre-os-recursos-h%C3%ADdricos [consultado a fevereiro de 2022]

    APA (2021a). Planos de Gestão de Seca e Escassez. URL: https://apambiente.pt/agua/planos-de-gestao-de-seca-e-escassez [consultado em fevereiro de 2022]

    APA (2021b). Programa Nacional para o Uso Eficiente da Água. URL: https://apambiente.pt/agua/programa-nacional-para-o-uso-eficiente-da-agua [consultado em fevereiro de 2022]

    APA (2021c). Programas Regionais de Eficiência Hídrica. URL: https://apambiente.pt/agua/planos-regionais-de-eficiencia-hidrica [consultado em fevereiro de 2021]

    APA (2021d). Relatório do Estado do Ambiente: Ficha Temática “Disponibilidades de águas superficiais e subterrâneas”. URL: https://rea.apambiente.pt/content/disponibilidades-de-%C3%A1guas-superficiais-e-subterr%C3%A2neas [consultado a fevereiro de 2022]

    City of Cape Town – Day Zero (2022). Water Dashboard. URL: http://coct.co/water-dashboard/?ca_source=Website&ca_medium=affiliate&ca_campaign=Home%20page%20trends%20-%20Day%20Zero%20Dashboard&ca_term=Day%20Zero%20Dashboard&ca_content=Day%20Zero%20Dashboard [consultado a fevereiro de 2022]

    DN (2018). África do Sul declara estado de catástrofe natural devido à seca. URL: https://www.dn.pt/mundo/africa-do-sul-declara-estado-de-catastrofe-natural-em-todo-o-pais-devido-a-seca-9115320.html [consultado a fevereiro de 2022]

    GPP (2022a). PAC pós 2020. URL: https://www.gpp.pt/index.php/en/pac/pac-pos-2020 [consultado a fevereiro de 2022]

    GPP (2022b). Plano Estratégico da PAC 2023-2027 (PEPAC). ULR: https://www.gpp.pt/index.php/pepac/consulta-publica-da-avaliacao-ambiental-estrategica-do-pepac-2023-2027 [consultado a fevereiro de 2022]

    NG (2021). Como podemos evitar um crise de escassez de água em Portugal?. URL: https://www.natgeo.pt/meio-ambiente/como-se-pode-prevenir-crise-da-agua-em-portugal [consultado a fevereiro de 2022]

    NG (2022) Day Zero: Where next?. URL: https://www.nationalgeographic.com/science/article/partner-content-south-africa-danger-of-running-out-of-water [consultado a fevereiro de 2022]