Práticas agrícolas sustentáveis
A agricultura tem registado mudanças drásticas ao longo dos tempos e a produção de alimentos, rações e fibras sofreu um aumento exponencial devido à industrialização, uso de novas tecnologias, aumento do uso de produtos químicos, entre outros.
Apesar de estas mudanças terem efeitos muito positivos e reduzido riscos de perda de colheitas, também provocaram consequências significativas, como a degradação do solo, a contaminação dos recursos hídricos, tanto superficiais como subterrâneos, a diminuição da biodiversidade agrícola, o aumento dos custos de produção e a deterioração das condições de trabalho e socioeconómicas das comunidades rurais.
O que é a agricultura sustentável?
Como já sabemos, a sustentabilidade é a capacidade de satisfazer as nossas necessidades no presente sem comprometer a capacidade de as gerações futuras satisfazerem as suas próprias necessidades, sendo um conceito que também pode ser associado à agricultura. Assim, uma agricultura sustentável é a que assenta neste conceito e permite a integração dos bens e serviços dos ecossistemas no processo de produção.
Numa agricultura sustentável, as escolhas são feitas tendo em vista o melhor uso das condições de solo, clima, interações entre cultivares e outros seres vivos, adaptando as culturas a estes mesmos fatores e beneficiando de sinergias entre os seres vivos que compõem o sistema agrícola. Desta forma, a agricultura sustentável contribui para reduzir o uso de aditivos externos (fertilizantes, pesticidas, etc.), economizando energia e minimizando o impacte negativo nos sistemas naturais.
Este tipo de agricultura não deve ser visto apenas como uma forma de produzir alimentos com um impacte ambiental menor quando comparado com a agricultura industrializada, mas também como uma agricultura que assegura o a rentabilidade económica e o equilíbrio social.
Princípios e práticas de uma agricultura sustentável
Para se poderem concretizar transformações eficazes de forma a conseguir um sistema agrícola mais sustentável, é necessário a aplicação de princípios estratégicos e práticas que sustentem a conservação e preservação dos ecossistemas. De seguida, são apresentados alguns exemplos:
Água
Um sistema de irrigação e drenagem eficaz e a adoção de boas técnicas de gestão de água podem melhorar a qualidade do solo. Sistemas ineficientes vão prejudicar o solo, a fauna e promover a contaminação dos recursos hídricos com pesticidas, fertilizantes, entre outros.
A drenagem dos solos é, também, essencial para a manutenção da qualidade dos solos, visto que culturas com excesso de água não conseguem aceder aos nutrientes vitais necessários para atingir o seu potencial máximo. Os agricultores devem procurar produzir culturas nativas da região onde se encontram.
Energia
A agricultura moderna é altamente dependente de fontes de energia não-renováveis. Nos sistemas de agricultura sustentável, existe uma dependência menor destas fontes e uma substituição por fontes renováveis ou mão de obra, sempre que economicamente viável.
Solos
Solos mais férteis produzem mais e melhor. É possível aos agricultores manter os solos mais saudáveis através de métodos tradicionais, como arar e certificar-se que o solo é arejado. A adição de fertilizantes naturais, como estrume ou culturas de cobertura, assim como outras substâncias naturais, como cinzas de madeira e subprodutos animais, podem também contribuir para melhorar a qualidade do solo e, consequentemente, a qualidade das culturas.
Controlo de infestantes
A rotação de culturas é um método tradicional que ajuda a manter a qualidade do solo, proporcionando que sejam repostos os nutrientes que as culturas anteriores esgotaram. Esta técnica também pode parar a propagação de doenças e erradicar as pragas, quando específicas de culturas anteriores.
Rotação de culturas
A rotação de culturas é um método tradicional que ajuda a manter a qualidade do solo, proporcionando que sejam repostos os nutrientes que as culturas anteriores esgotaram. Esta técnica também pode parar a propagação de doenças e erradicar as pragas, quando específicas de culturas anteriores.
Promover sinergias
Uma forma eficaz de afastar as espécies animais que ameaçam as culturas é atrair os seus predadores naturais. Alguns agricultores constroem abrigos para receber ninhos de pássaros e morcegos, assim como atraem insetos auxiliares, como joaninhas, para se alimentarem das pragas.
Diversidade agrícola
As práticas de fertilização do solo e dos ciclos de nutrientes também podem ser utilizadas para o incremento da biodiversidade agrícola. Bons exemplos disto são:
- Os compostos de resíduos de culturas, lixos de árvores e outros resíduos de plantas/orgânicos;
- A mistura de culturas e a cobertura de culturas, particularmente de legumes, que adicionam nutrientes, ajudam à fixação do nitrogénio e “bombeiam” os nutrientes para a superfície do solo;
- Utilização de cama de palha e estrume, através da recolha e distribuição de resíduos de culturas, materiais orgânicos e/ou sub-culturas;
- A integração de minhocas (vermicompostagem) ou de outros organismos benéficos de forma a aumentar a fertilização da matéria orgânica, e a reciclagem de nutrientes;
- A eliminação ou redução dos químicos agrários que destroem ecossistemas e organismos do solo essenciais para o equilíbrio do sistema.
A agricultura está no início do sistema alimentar e, como tal, pode (e deve) fazer a diferença no caminho para um sistema alimentar mais sustentável. Se o setor, sobretudo em produções de grande escala, alterarem as suas práticas e optarem por métodos mais sustentáveis, estarão, simultaneamente, a contribuir para que o consumidor pratique uma alimentação mais sustentável. Nessa perspetiva, ficamos todos a ganhar.
Fontes:
McKinsey & Company (2020). Agriculture and climate change: Reducing emissions through improved farming practices. McKinsey & Company
UC Davis (s.d.) What is Sustainable Agriculture. Obtido em junho de 2021, em https://sarep.ucdavis.edu/sustainable-ag