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    Rewilding – o caso português do Grande Vale do Côa

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    Rewilding – o caso português do Grande Vale do Côa

    O texto da semana anterior abordou o rewilding nas cidades e quais os seus principais benefícios, tendo sido referido o exemplo de Singapura, uma das cidades pioneiras na utilização do rewilding urbano. Nesta semana, abordamos o exemplo português, o Grande Vale do Côa, alvo de Rewilding.

     

    O Grande Vale do Côa é uma região no Noroeste de Portugal que se estende desde o rio Douro, a Norte, até às montanhas da Malcata, a Sul. A nível ecológico, o Grande Vale do Côa está ligado a áreas naturais e selvagens semelhantes às existentes noutras partes da Península Ibérica, através da Rede Natura 2000. Importa salientar que a primeira área protegida privada de Portugal se encontra também dentro desta área – a reserva da Faia Brava.

    A paisagem é dominada por muitas pequenas propriedades rurais onde se cultivavam azeitonas, amêndoas e cereais – atividades que estão a ser abandonadas nas áreas menos produtivas, com solos mais pobres do leito rochoso de granito. A criação de animais era tradicionalmente baseada em ovelhas, que agora foram substituídas por gado extensivo em algumas áreas.

    Apresenta uma variedade ampla de tipos de habitat e de espécies endémicas, exibindo desfiladeiros ao longo do rio, florestas de carvalhos, charnecas rochosas e campos agrícolas. Os montados, as cadeias montanhosas e os desfiladeiros fluviais são ambientes fundamentais para animais que estão adaptados a penhascos, como os abutres e as águias, juntamente com vales fluviais habitados por lontras e cágados.

    O lobo ibérico também está presente nesta área, uma espécie estritamente protegida em Portugal e ameaçada desde a década de 1970, período em que a sua distribuição reduziu de forma grave. As populações de veados e corços, apesar da redução na sua distribuição, atualmente estão a expandir-se para áreas que fazem parte da sua distribuição histórica, em grande parte devido aos altos níveis de abandono rural na região.

    As principais áreas de intervenção de Rewilding no Grande Vale do Côa são o Vale do Carapito, o Ermo das Águias, o Paul de Toirões e a Ribeira do Mosteiro. Saiba mais sobre estas aqui.

    Figura 1 – Logotipo do projeto Rewilding Grande Vale do Côa [Fonte: Rewilding Portugal. URL: https://rewilding-portugal.com/]

    Figura 2 – Porto de São Miguel, na zona de Almeida, Grande Vale do Côa [Fonte: Rewilding Portugal; Wilder. URL: https://www.wilder.pt/historias/area-portuguesa-de-rewilding-passa-a-ser-conhecida-por-grande-vale-do-coa/]

    A escolha do Grande Vale do Côa e o Rewilding como visão

    O Grande Vale do Côa, além dos incríveis valores naturais, representa uma oportunidade sem igual para aplicar os princípios de rewilding devido aos elevados níveis de abandono rural.

    Esta oportunidade pode ser explorada tendo uma perspetiva de grande escala da paisagem, com a finalidade de melhorar a conectividade entre áreas naturais e, ao mesmo tempo, apoiar os modelos de negócios sustentáveis na região, que podem estimular as economias locais e acrescentar valor adicional para as comunidades da zona.

    Tornar o Grande Vale do Côa num lugar com ecossistemas coerentes em pleno funcionamento e abundante de vida selvagem onde os processos naturais e cadeias tróficas completas desempenham papéis indispensáveis na regeneração da paisagem é o grande propósito do rewilding.

    Este projeto tem como desígnio construir uma economia baseada na natureza e na cultura para criar apoio comunitário que suporta um ambiente mais selvagem, no qual os processos naturais e a vida selvagem modelam a paisagem.

    Figura 3 – Visão do projeto Rewilding Grande Vale do Côa em modo ilustração [Fonte: Rewilding Portugal. URL: https://rewilding-portugal.com/]

     

    “LIFE WolFlux” e “Promover a renaturalização do Grande Vale do Côa” como projetos principais

    A finalidade geral do projeto “LIFE WolFlux” é promover as condições ecológicas e socioeconómicas necessárias para apoiar uma subpopulação de lobo ibérico viável a sul do rio Douro, de forma que esta espécie possa desempenhar o seu papel funcional como um predador de topo.

    Uma série de ações serão implementadas ao longo de cinco anos (janeiro de 2019 a novembro de 2023) no sentido de reduzir as principais ameaças a este grande carnívoro, entre as quais:

    • Reduzir conflitos com a pecuária, promovendo a coexistência;
    • Reduzir a caça furtiva e os incêndios causados pelo homem (reduzir o impacto do fogo, particularmente em centros de atividade e locais de reprodução);
    • Aumentar o conhecimento sobre o corço na área do projeto e aumentar a disponibilidade de presas selvagens para o lobo;
    • Desenvolver uma estratégia que promova produtos de valor acrescentado relacionados com o lobo (produção agrícola de alimentos, turismo, etc.) e a melhoria da sua penetração no mercado;
    • Aumentar a tolerância e atitudes positivas em relação ao lobo ibérico.
    Figura 4 – Fotografia do lobo ibérico na zona do Grande Vale do Côa [Fonte: Rewilding Portugal. URL: https://rewilding-portugal.com/]

     

    A principal finalidade do projeto “Promover a renaturalização do Grande Vale do Côa” é desenvolver um ecossistema coerente e fortalecer o corredor de vida selvagem do Vale do Côa (120 000 hectares). Pretende construir uma economia baseada na natureza e na cultura para criar apoio comunitário a um ambiente mais selvagem, no qual os processos naturais e a vida selvagem modelam a paisagem. De forma mais concreta, o projeto visa:

    • Aumentar a área de terra sob restauração, a fim de aumentar a conectividade no Vale do Côa;
    • Recuperar a vida selvagem e melhorar o estatuto da base de presas de lince ibérico, lobo ibérico, águia de Bonelli, águia imperial ibérica e abutre-preto;
    • Reduzir as principais ameaças a habitats e espécies (caça furtiva, envenenamento e incêndios), conflito lobo-pecuária e uso de munições tóxicas;
    • Criar uma economia baseada na natureza e escalável que melhore a situação socioeconómica das comunidades locais;
    • Aumentar a consciencialização sobre a conservação da natureza e criar orgulho para as Paisagens Rewilded a nível local e nacional.

    Ao longo do rio Côa foram identificadas cinco áreas-chave que podem funcionar como ilhas de habitat para melhorar a conectividade da área, sendo as seguintes: a reserva da Faia Brava, a Marofa, a ribeira das Cabras, a Médio Côa e o Jardo.

    Figura 5 – Fotografia de uma paisagem renaturalizada no Grande Vale do Côa [Fonte: Rewilding Portugal. URL: https://rewilding-portugal.com/]

     

    Ao longo destas semanas, debatemos o tema Rewilding tendo em conta várias perspetivas, desde a abordagem ao conceito em si, a sua distinção de Conservação da Natureza, o seu contexto no combate aos incêndios, a importância do Rewilding Urbano e por fim, o caso emblemático português do Grande Vale do Côa. Seja qual for o seu contexto, o Rewilding prova ser uma solução bastante útil a adotar numa época em que temos de estar preparados para enfrentar as alterações climáticas.

     

    Fontes:

    Rewilding Europe. URL: https://rewildingeurope.com/ [consultado em agosto de 2022];

    Rewilding Portugal. URL: https://rewilding-portugal.com/ [consultado em agosto de 2022];

    Rewilding Portugal. Oeste Ibérico. URL: https://rewilding-portugal.com/pt/oeste-iberico/ [consultado em agosto de 2022];

    Rewilding Portugal. LIFE WolFlux. URL: https://rewilding-portugal.com/pt/life-wolflux/ [consultado em agosto de 2022];

    Rewilding Portugal. LIFE WolFlux. O Projeto. URL: https://rewilding-portugal.com/pt/life-wolflux/o-projeto/ [consultado em agosto de 2022];

    Rewilding Portugal. Promover a Renaturalização do Grande Vale do Côa. URL: https://rewilding-portugal.com/pt/promover-a-renaturalizacao/ [consultado em agosto de 2022].