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    Sustentabilidade e Jogos Olímpicos

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    Sustentabilidade e Jogos Olímpicos

    Os Jogos Olímpicos são, indiscutivelmente, a maior competição de desporto do mundo, mas também a mais cara. São eventos inspiradores de união, com uma boa dose de competição à mistura e o único momento de competição verdadeiramente à escala global e multidesportivo. O evento decorre comummente a cada dois anos alterando-se entre os Jogos Olímpicos de Verão e os Jogos Olímpicos de Inverno.

    À semelhança do que acontece noutros eventos desportivos de grandes dimensões, como os mundiais e europeus de futebol, a exigência de infraestruturas que alberguem a competição é significativa e, consequentemente, a lista com exemplos de infraestruturas em todo o mundo que depois desse “momento de glória” foram abandonados, tal como no Euro 2004 e nos Jogos Olímpicos Rio de Janeiro 2016, é apenas um dos exemplos mais emblemáticos da insustentabilidade destes mega eventos desportivos.

    Impacte ambiental dos Jogos Olímpicos

    De acordo com o artigo “An evaluation of the sustainability of the Olympic” (Müller et al., 2021), ainda não existe uma avaliação sistemática da sustentabilidade para esta tipologia de eventos. O autor do artigo desenvolveu e aplicou um modelo com nove indicadores (Figura 1) para avaliar a sustentabilidade das 16 edições dos Jogos Olímpicos de Verão e de Inverno entre 1992 e 2020.

    De forma geral, os resultados do modelo demonstram que a sustentabilidade dos Jogos Olímpicos, de 1992 a 2020, é média (48 pontos num total de 100 possíveis) e que tem diminuído ao longo do tempo. As pontuações médias para cada umas das três dimensões estão incluídas num intervalo relativamente restrito de 44 pontos para a dimensão ecológica, 47 para a dimensão económica e 51 para a dimensão social. Como tal, constata-se que a sustentabilidade é bastante consistente entre as três dimensões.

    Como observável na Figura 2, o pódio é ocupado por Salt Lake City 2002 com os Jogos Olímpicos mais sustentáveis, seguido de Albertville 1992 e Barcelona 1992. Pelo contrário, Sochi 2014 e Rio de Janeiro 2016 foram os menos sustentáveis.

    Os autores apontam três ações viáveis, a curto prazo, que levariam a uma melhoria significativa na sustentabilidade dos Jogos Olímpicos e na generalidade de grandes eventos.

    A primeira é reduzir substancialmente o tamanho do eventos e a deslocação dos espectadores. Com esta ação haverá um ganho transversal em todos os indicadores, através da diminuição dos recursos necessários, diminuição da pegada carbónica dos visitantes, custo e necessidade de construção de novas infraestruturas. A solução adotada em Tóquio, devido à pandemia de COVID-19 que impediu a presença de público nas bancadas, com um sistema de transmissão online que tornou o evento mais acessível a todos e com menos impacte negativo no ambiente em relação à deslocação de visitantes.

    A segunda proposta prende-se com alternar a realização dos eventos pelas mesmas cidades. Desta forma, toda a infraestrutura necessária já estaria instalada e o evento poderia decorrer com as atividades sociais necessárias, com o mínimo de perturbações ecológicas no ambiente já existente e com uma redução de custo significativa. No entanto, compreende-se que esta solução não seja a mais atrativa, em primeiro lugar por reduzir a atração universal dos JO, e em segundo por poder levar a que se questione a verdadeira essência de multiculturalidade destes eventos.

    Por último, melhorar a gestão da sustentabilidade em todas as dimensões do evento. Para o efeito, os autores sugerem a criação de um órgão independente para desenvolver, monitorizar e estabelecer padrões de sustentabilidade. Esta ação visa melhorar a situação atual, onde cada cidade olímpica define as suas próprias metas de sustentabilidade e se estas não forem atingidas não existe qualquer instrumento de sanção com custo significativo para a cidade anfitriã.

    “Carbono zero” em Tóquio 2020: Sonho ou realidade?

    Os Jogos Olímpicos Tóquio 2020, adiados um ano devido à pandemia, decorreram entre 23 de julho e 8 de agosto de 2021. Cerca de 11 mil atletas estiveram em Tóquio, 91 em representação de Portugal.

    Em termos práticos, o Comité Olímpico Internacional definiu algumas orientações para que, efetivamente, desafios como a redução do desperdício e a reciclagem fossem cumpridos. No que respeita ao plástico, foi redigido um guia, com o apoio do Programa das Nações Unidas para o Ambiente, para evitar o plástico descartável e desnecessário durante a competição. No “Plastic Game Plan for Sport” há orientações sobre a eliminação do plástico nos eventos desportivos de forma geral e são apontados alguns exemplos já implementados.

    A comissão organizadora dos JO desde sempre destacou a intenção de realizar os jogos “mais verdes” da história olímpica, inclusive com a ambição de ser um evento “carbono zero”. Desde camas de cartão, medalhas de material reciclado, pódios que são feitos de plástico reciclado, uniformes dos funcionários com poliéster proveniente da reciclagem de garrafas, carros totalmente elétricos ou, até, um plano para transformar as infraestruturas de alojamento em edifícios de habitação.

    Para o cumprimento da meta “carbono zero”, os organizadores contaram com a emissão de créditos de compensação de carbono doados por empresas dos municípios de Tóquio e Saitama, as localidades onde decorreu o evento. Os organizadores prometeram, também, uma pegada de carbono inferior à pegada de Londres 2012 e do Rio de Janeiro 2016 e estimaram que a competição iria gerar no máximo 2,73 milhões de toneladas de carbono. No entanto, o número acabou por ser reduzido em cerca de 12% com a ausência de público nas bancadas.

    Mas terá sido Tóquio 2020, os JO mais sustentáveis de sempre? De acordo com as previsões Müller et al. (2021), evento situa-se na zona laranja com 40 pontos, valor relativamente abaixo da média (situada nos 48 pontos). Para que se conclua se o Japão conseguiu, ou não, fazer os JO mais verdes de sempre sabendo-se, desde já, que esforços importantes foram feitos e os bons exemplos que ficam para as próximas edições, serão necessários mais estudos com dados pós-evento para perceber o real impacte das medidas implementadas pela organização de Tóquio 2020.

    Os eventos são um veículo poderoso para comunicar e disseminar o tema da sustentabilidade em todo o mundo. O poder, dimensão e influência desta indústria corresponde, também, à capacidade de contribuírem significativamente para o Desenvolvimento Sustentável se, em todos os eventos, a sustentabilidade for uma condição no seu planeamento e um princípio na tomada de decisão e ação. É indiscutível que o caminho é longo até que a realização destes mega eventos seja sustentável em termos ambientais, sociais e económicos, mas é, certamente, possível.

    Fontes:

    Geeraert, A. & Gauthier, R. Out-of-control Olympics: why the IOC is unable to ensure an environmentally sustainable Olympic Games. J. Environ. Policy Plan. 20, 16–30 (2018). DOI: 10.1080/1523908X.2017.1302322

    Müller, M., Wolfe, D. S., Gaffney, C., Gogishvili, D., Hug, M., Leick, A. An evaluation of the sustainability of the Olympic Games. Nature Sustainability. Vol. 4, 340-348 (2021). DOI: https://doi.org/10.1038/s41893-021-00696-5.

    Público (2021). Camas de cartão e medalhas de material reciclado, nos Jogos mais sustentáveis de sempre. Disponível em https://www-publico-pt.cdn.ampproject.org/c/s/www.publico.pt/2021/08/06/desporto/noticia/camas-cartao-medalhas-material-reciclado-jogos-sustentaveis-1973051/amp, consultado em agosto de 2021