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    Lancet Report – Cinco estratégias para uma grande transformação alimentar

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    Lancet Report – Cinco estratégias para uma grande transformação alimentar

    Esta semana, prosseguimos com a análise do Lancet Report, centrando-nos nas estratégias propostas para a reinvenção do sistema alimentar global. Exploramos como será possível sustentar uma população em crescimento, respeitando os limites ecológicos do nosso planeta. O relatório EAT-Lancet apresenta cinco estratégias essenciais, que cobrem todas as fases da cadeia alimentar.

    No texto desta semana, analisaremos as abordagens apresentadas no Lancet Report, elucidando o seu potencial para moldar um futuro em que a saúde do planeta e das pessoas evolua de forma integrada e sustentável.

     

    Estratégia 1 – Procurar obter um compromisso internacional e nacional para mudar para dietas saudáveis

    Para enfrentar os desafios globais de saúde e sustentabilidade alimentar é crucial obter um compromisso, tanto a nível internacional como nacional, para a transição para dietas saudáveis, promovendo uma mudança significativa nas dietas globais e contribuindo para a saúde e a sustentabilidade ambiental.

    Este compromisso pode ser alcançado através das seguintes ações:

    • Disponibilidade e acessibilidade: Garantir que os alimentos saudáveis estão mais disponíveis e são mais acessíveis, tornando-os mais baratos em comparação com as alternativas não saudáveis;
    • Informação e marketing: Melhorar a informação e o marketing relacionado com alimentos saudáveis para incentivar escolhas alimentares informadas.
    • Educação e Saúde Pública: Investir em campanhas de saúde pública e educação sobre sustentabilidade, de forma a aumentar a sensibilização sobre os benefícios das dietas saudáveis.
    • Diretrizes dietéticas: Implementar diretrizes dietéticas baseadas em alimentos que promovam o consumo de dietas equilibradas e nutritivas.
    • Serviços de saúde: Utilizar serviços de saúde para fornecer aconselhamento e intervenções dietéticas, ajudando a população a adotar e manter hábitos alimentares mais saudáveis.

     

    A coordenação destas ações a diversos níveis garantirá que as metas para uma alimentação sustentável e saudável sejam alcançadas, promovendo um futuro onde a saúde do planeta e das pessoas evoluam de forma integrada e sustentável.

    Figura 1. Previsão de mudança na produção de alimentos de 2010 a 2050 (percentual do cenário de 2010) para o Business as Usual (BAU) com desperdício completo, a dieta de saúde planetária com desperdício total, a dieta de saúde planetária com cenários de metade de desperdício. Fonte: EAT-Lancet Commission, 2019

     

    Estratégia 2 – Reorientar as prioridades agrícolas de produção de grandes quantidades de alimentos para produzir alimentos saudáveis

    A agricultura e a pesca não devem apenas produzir calorias suficientes para alimentar uma população global crescente, mas devem, também, garantir uma diversidade de alimentos que sustentem a saúde humana e promovam a sustentabilidade ambiental. Juntamente com as mudanças na dieta, as políticas agrícolas e marinhas precisam de ser reorientadas para fomentar a produção de uma variedade de alimentos nutritivos que aumentem a biodiversidade. Em vez de se focarem apenas no aumento do volume de algumas colheitas, muitas das quais são atualmente usadas para ração animal, é essencial diversificar a produção para incluir mais frutas, legumes e outros alimentos ricos em nutrientes.

    Além disso, a produção de gado deve ser considerada de acordo com os contextos específicos de cada região, levando em conta os impactes ambientais negativos e as necessidades locais.

     

    Estratégia 3 – Intensificar de maneira sustentável a produção de alimentos para aumentar a produção de alta qualidade

    O atual sistema alimentar global requer uma nova revolução agrícola baseada na intensificação sustentável, impulsionada pela sustentabilidade e inovação sistémica. Isto implicaria uma redução de pelo menos 75% nos défices de produtividade nas terras de cultivo existentes, melhorias radicais na eficiência do uso de fertilizantes e água, reciclagem de fósforo, redistribuição do uso global de azoto e fósforo, implementação de opções de mitigação climática, incluindo alterações na gestão de culturas e alimentação de animais, e o aumento da biodiversidade dentro dos sistemas agrícolas. Ainda, para alcançar emissões negativas a nível global, conforme estabelecido pelo Acordo de Paris, o sistema alimentar global deve tornar-se um sumidouro líquido de carbono a partir de 2040 em diante.

     

    Estratégia 4 – Governança forte e coordenada dos solos e dos oceanos

    Esta estratégia implica alimentar a humanidade utilizando as terras agrícolas já existentes, adotando uma política de não expansão para novas áreas agrícolas em ecossistemas naturais e florestas ricas em biodiversidade. Deverão ser estabelecidas e reforçadas políticas de gestão na recuperação e reflorestação de terras degradadas, no estabelecimento de mecanismos internacionais de governação do uso do solo e na adoção de uma estratégia “Half Earth” para a conservação da biodiversidade, isto é, conservar pelo menos 80% da riqueza de espécies pré-industriais protegendo os restantes 50% da Terra como ecossistemas intactos. Adicionalmente, é crucial aperfeiçoar a gestão dos oceanos, assegurando que o setor das pescas tem o mínimo impacte negativo nos ecossistemas, que os stocks de peixes sejam utilizados de forma responsável e que a produção global de aquacultura seja expandida de maneira sustentável.

     

    Estratégia 5 – Reduzir pelo menos pela metade das perdas e desperdícios de alimentos, de acordo com os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) da ONU

    É essencial reduzir substancialmente as perdas de alimentos na fase de produção e o desperdício alimentar na fase de consumo para que o sistema alimentar global se mantenha dentro de um espaço operacional seguro. Para alcançar uma redução global de 50% nas perdas e desperdícios de alimentos, de acordo com os ODS, são necessárias tanto soluções tecnológicas aplicadas ao longo da cadeia de abastecimento alimentar como a implementação de políticas públicas. As ações incluem a melhoria da infraestrutura pós-colheita, do transporte de alimentos, do processamento e embalagem, o aumento da colaboração ao longo da cadeia de fornecimento, a formação e equipamento de produtores e a educação dos consumidores.

     

    Conclusão

    A adoção de dietas saudáveis provenientes de sistemas alimentares sustentáveis (SAS) é essencial para proteger o nosso planeta e melhorar a saúde global. O relatório da Comissão EAT-Lancet estabelece metas claras que demonstram ser possível alimentar de forma sustentável 10 mil milhões de pessoas até 2050. Atingir este objetivo exige mudanças profundas nos hábitos alimentares, uma redução significativa nas perdas e desperdícios de alimentos, assim como melhorias contínuas nas práticas de produção agrícola.

    Este desafio coloca a alimentação como uma das questões centrais do século XXI, cuja resolução é decisiva para o sucesso dos ODS e do Acordo de Paris. A definição de metas, tendo em conta o estado do conhecimento atual, para a transformação dos sistemas alimentares é um passo crucial, abrindo caminho para políticas que integrem saúde humana e sustentabilidade ambiental numa visão comum.

     

    Referências

    EAT-Lancet Commission, 2019. Resumo do relatório da Comissão EAT-Lancet. URL: https://eatforum.org/content/uploads/2019/07/EAT-Lancet_Commission_Summary_Report_Portugese.pdf [Acedido em maio de 2024]