Mobilidade Urbana Sustentável
A mobilidade urbana desempenha um papel vital na sociedade e na economia. A nossa qualidade de vida e bem-estar depende de um sistema de transportes eficiente e acessível. Simultaneamente, os transportes são uma fonte fundamental de pressões ambientais na União Europeia (UE) e contribuem em larga escala para as alterações climáticas, qualidade do ar e ruído. Ocupam também grandes faixas de terra e contribuem para a expansão urbana, a fragmentação de habitats e a impermeabilização das superfícies.
Emissões de Gases com Efeito de Estufa (GEE) nos transportes
Os transportes consomem um terço de toda a energia final na UE. A maior parte dessa energia provém do petróleo. Isto significa que os transportes são responsáveis por uma grande parte das emissões de GEE da UE, contribuindo significativamente para as alterações climáticas. Enquanto a maioria dos outros setores económicos, como a produção de energia e a indústria, reduziram as suas emissões desde 1990, as dos transportes aumentaram.
De acordo com os dados mais recentes da Agência Europeia do Ambiente, os transportes representam mais de um quarto das emissões totais de GEE e dessas, mais de 70% têm origem no transporte rodoviário, sendo que os carros são responsáveis por mais de 60% destas. O restante tem como principal origem a navegação e a aviação.
A inversão desta tendência pode ainda não estar à vista, mas algum trabalho está a ser realizado. Isso faz do setor dos transportes um importante obstáculo à concretização dos objetivos da UE em matéria de proteção do clima.
Os transportes continuam também a ser uma fonte significativa de poluição atmosférica, especialmente nas cidades onde a densidade populacional é mais elevada. Os poluentes atmosféricos, como a matéria particulada e o dióxido de azoto (NO2), prejudicam a saúde humana e o ambiente. Embora a poluição atmosférica causada pelos transportes tenha diminuído na última década, devido à introdução de normas de qualidade dos combustíveis, de emissões dos veículos e de utilização de tecnologias mais limpas, as concentrações de poluentes atmosféricos continuam a ser demasiado elevadas, com consequências para a qualidade de vida da população. Juntamente com a poluição sonora, estes são dois dos grandes problemas de saúde ambiental associados aos transportes.
Mobilidade + sustentável
Num mundo cada vez mais preocupado e consciencializado das consequências das atividades humanas, é fulcral que os organismos públicos estejam munidos de diferentes meios para analisar e avaliar os seus progressos, que se traduzirão em melhores condições de vida para a população atual e futura, bem como na melhoria generalizada do próprio meio ambiente.
A necessidade de um uso racional dos transportes, a sua importância para a eficiência da gestão da cidade, e por ser essencial às necessidades humanas, levou o conceito de “sustentabilidade” a ser adicionado ao de “mobilidade urbana”, surgindo, então, o novo conceito de “mobilidade urbana sustentável”.
Como mencionado anteriormente, os transportes (principalmente os carros) têm impactes ambientais significativo, assim como os impactes económicos e sociais que decorrem de acidentes e mortes nas estradas e falta de acesso a rede de transportes coletivos. A mobilidade urbana é apresentada como tema transversal em todos os ODS, mas pode destacar-se a concretização do “ODS 11 – Cidades e comunidades sustentáveis” como um guia neste tema.
Transportes e qualidade de vida
O conceito de qualidade de vida relaciona-se com a sustentabilidade com a participação popular, com a proteção dos ecossistemas, com a satisfação das necessidades básicas dos cidadãos, com uma gestão baseada na solidariedade social, na visão holística dos problemas e na redução das iniquidades sociais. Devido ao aprofundamento da “consciência ecológica” provocada pelo agravamento dos problemas ambientais globais e pela degradação ambiental urbana devido ao acelerado processo de urbanização nos anos 70.
Os transportes podem afetar a qualidade de vida, tanto de forma positiva como negativa. Facilitam o acesso das pessoas aos serviços, diminuem o isolamento e aumentam as possibilidades de trabalho e as atividades sociais – fatores que potencialmente podem contribuir para melhorar o funcionamento das cidades sendo também, contudo, potenciais causadores de impactos negativos (através, por exemplo, dos acidentes e da poluição do ar).
Sob o ponto de vista das deslocações, é possível melhorar a qualidade de vida urbana, segundo os princípios da mobilidade urbana sustentável, que é entendida como um conjunto de políticas de transporte e circulação que visa proporcionar o acesso amplo e democrático ao espaço urbano, deve priorizar os modos não-motorizados e coletivos (que não gerem segregação espacial), e ser socialmente inclusiva e, também, ecologicamente sustentável.
Pontevedra, a cidade sem carros
Viver numa cidade sem carros? Parece impossível. Em Pontevedra, uma cidade de 83 mil habitantes na Galiza, no noroeste de Espanha, é mesmo isto que acontece no centro histórico. Tudo começou há quase 20 anos quando Miguel Anxo Fernández Lores apresentou esta proposta.
Pontevedra está livre de veículos no centro desde 2000 e desde então a poluição diminuiu consideravelmente. De acordo com os dados mais recentes disponibilizados pela Direção Geral de Transportes, a utilização de carros caiu 77% e as emissões de CO2 baixaram 66. A taxa de criminalidade também diminuiu, tal como os acidentes de carro. O turismo cresceu e o centro de Pontevedra ganhou 12 mil novos habitantes desde que a zona pedestre nasceu, assim como a população de crianças entre os 0 e 14 anos também aumentou 8%.
É possível “caminhar a cidade” de um lado ao outro em cerca de 30 minutos, como demonstra o mapa seguinte (metrominuto Pontevedra) criado pela Câmara Municipal de Pontevedra. A rede de ciclovias é muito ampla e também uma boa opção para quem se desloca na cidade.
Segundo um artigo do “Citylab” de novembro de 2018, Pontevedra continua a expandir a área de pedestres do centro para a periferia, libertando um total de 669 000 metros quadrados, anteriormente dominados por carros. A transformação está só a começar.
Fontes:
Citylab (2018). What Happens to Kid Culture When You Close the Streets to Cars. URL: https://www.bloomberg.com/news/articles/2018-11-26/what-car-free-streets-mean-for-family-friendly-culture, acedido a setembro de 2021.
EEA (2020a). Air quality in Europe 2020. URL: https://www.eea.europa.eu/publications/air-quality-in-europe-2020-report, acedido a setembro de 2021.
EEA (2020b). Greenhouse gas emissions from transport in Europe. URL: https://www.eea.europa.eu/data-and-maps/indicators/transport-emissions-of-greenhouse-gases/transport-emissions-of-greenhouse-gases-12, acedido a setembro de 2021.
EEA (2021). Mobilidade Urbana Sustentável. URL: https://ec.europa.eu/info/eu-regional-and-urban-development/topics/cities-and-urban-development/priority-themes-eu-cities/urban-mobility_pt#estratgias-e-polticas, acedido a setembro de 2021.
Euronews (2019). Potevedra sem carros: menos multas, menos acidentes, menos poluição. URL: https://pt.euronews.com/2019/08/08/pontevedra-sem-carros-menos-multas-menos-acidentes-menos-poluicao, acedido a setembro de 2021.